7 desejos (Wish Upon)
Já deixei claro aqui, há algum tempo, que o gênero terror é meu guilty pleasure. Na verdade, tão mais claro ficou que sequer considero isso digno de vergonha. Terror é bom demais, especialmente quando o filme é uma bosta. Então, há duas possibilidades para uma bela obra deste tipo: ou é daquelas profundas, que conseguem dizer muito a nós; ou as que são tão bisonhas que se tornam incríveis. Os que ficam no limbo – o meio entre esses dois paraísos – acabando sendo aquela coisa sem sal, igual a tudo que já passou e a tudo que irá passar. Infelizmente, aí se enquadra a absoluta maioria. Motivado pelo desejo de resenhar minha primeira estréia de terror – já que as anteriores e algumas a surgirem terem sido pegas na mão grande por Laryssa Chatonilda e Ryan Boquita – fui-me ao cinema para 7 Desejos.
Não vou bancar o estúpido e dizer que fui esperando grandes coisas. No duro, nunca vou. Então, fui isento de qualquer expectativa. Trailers de outros filmes de terror passaram na sessão antes do início desse novo filme dirigido pelo experiente John R. Leonetti. Não curiosamente, os poucos minutos de cenas apresentadas traziam aqueles elementos básicos que – já disse aqui também, em alguma outra publicação por aí – nem mais considero cliché, mas apenas partes da estrutura do gênero. Pensando agora, esses trailers pareceram um anúncio do que estava por vir.
Uma adolescente, que passou pelo trauma na infância de ver a própria mãe se enforcar no sótão de casa, não é das mais populares da escola. Ela, Clare (Joey King), tem apenas duas amigas, as típicas bffs, Meredith e June (Sydney Park e Shannon Purser, respectivamente), que tentam tornar seus dias mais razoáveis, devido a quantidade de bullying sofrido pela nossa protagonista. Além disso, tem muita vergonha do pai Jonathan (Ryan Phillippe – cara, o Ryan já está fazendo papel de pai de adolescente; estou ficando seriamente velho!), que costuma catar lixo para reciclagem. Já vimos que a vida dela não é o desejo de muita gente por aí, né? Pois, então, tudo muda quando seu pai dá de presente de aniversário para ela uma bonita caixa chinesa que ele achou no lixo (a crise é tal que o “feliz aniversário” da guria vem do lixo, amigo!). Como Clare faz aula de mandarim na escola (waw, hein! Quisera eu…), consegue traduzir as duas únicas palavras de um objeto todo ornamentado em inscrições: 7 desejos.
Cansada de sua algoz na escola, nossa menina segura a caixa e deseja algo muito ruim para a oponente. No dia seguinte a coisa acontece. No entanto, alguém muito próximo de Clare perde a vida, como se o universo buscasse um equilíbrio. A partir daí, já sabemos que o filme será isso por 7 vezes. E é exatamente o que acontece. Clare vai desejando, aos poucos, mudar sua vida, mas sempre algo vai sendo cobrado em troca. Aliás, eu não pude deixar de relacionar esse filme com a série sul-coreana presente na Netflix, Professor de Pesadelo (já resenhada por nós aqui no Garimpo Netflix). A personagem vai se afundando cada vez mais na busca de suas vontades, chegando a lembrar, em alguns momento, o bom e velho Gollum e o seu querido e inseparável Um Anel.
Apesar de a premissa ser interessante (muito embora, volto a dizer, considero que a série supracitada faz isso com maior franqueza e segurança), aqueles elementos sobre os quais falei são muito, mas muito evidentes, e aí caem no cliché barato. Para você ter uma ideia, até a tradicional cena do triturador de pia americano tem! Isso, aquela situação em que o triturador trava e a pessoa genialmente enfia a mão no ralo, enquanto sarra o corpo (sem perceber, lógico!) no botão que o aciona. Fora isso, não há momentos específicos de susto ou medo. Acompanhamos tão somente a jornada da menina que fica presa pelos seus desejos, destruindo o mundo à sua volta por aquilo que poderia satisfazer suas vontades pessoais. Seria uma bonita metáfora para a sempre presente ganância humana, não fossem os abusos mais brutos da velha identidade deste gênero.
Podiam ter sido um pouco menos preguiçosos…
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