Game of Thrones - The Queen's Justice (T07 E03)
Contém profundos spoilers, não prossiga a menos que tenha visto ou não se importe. Daqui para frente, leia por sua conta e risco.
Poucas crianças são tão manipuláveis por roteiros e tramas quanto eu costumava ser. Sofria com os finais falsos, gritava com as feridas infringidas ao corpo dos protagonistas, mesmo que fosse apenas para dar requintes mais épicos às façanhas dos heróis. O tempo passou e hoje raramente me emociono num nível carnal com uma peça de entretenimento a não ser que ela venha acompanhada do nome de Dostoievski ou do logo da DC. Todavia, os roteiros hollywoodianos continuam esguios nas mesmas artimanhas. O mocinho apanha e apanha e ressuscita numa pastiche cristã. Game of Thrones, ao que tudo leva crer, está levando essa norma ao pé da letra, mas temos aqui o enorme porém de se tratar de Game of Thrones. Série que conquistou seu público subvertendo temas, arrancando a cabeça dos heróis e deixando os vilões se perpetuarem em uma espiral de decadência e poder. Enquanto esperamos, nos deliciamos com as unhas do leão cravadas contra o pescoço do dragão e Rains of Castamere tocando a todo momento.
https://www.youtube.com/watch?v=vnuCsp_tVs0
No melhor episódio da temporada até agora, o público fica com o pressentimento que apesar das bolachadas, tudo vai terminar bem. Daenerys e Jon terão altos passeios de dragão, Sam vai consumar o casamento e os Starks reinarão soberanos em Winterfell. Porém sempre vale lembrar, isso aqui é Game of Thrones e o gosto no final da temporada pode ser amargo para os ditos heróis e belo para mim e os felpudos White Walkers.
Parecia um belo dia de Sol para Daenerys. O charmoso bocó das neves chega com Davos, deslumbra-se com os dragões e fica à deriva na enorme sala do trono de Pedra do Dragão enquanto ouve os 750 títulos de Dany sendo regurgitados por Missandei. Aos poucos a coisa começa a degringolar, Jon não quer saber de se ajoelhar, o passado vem à tona e é rei louco pra cá e você jurou fidelidade à minha família pra lá. Merda espirrando sem limites no ventilador. Daenerys até coloca os ovários na mesa e deixa o bastardo das neves de castigo, mas a notícia da vitória de Euron não tarda em chegar. Cada vez mais vejo a mãe dos dragões perdida, cercada por diversas mentes pensantes tais quais Varys, Tyrion e, recentemente, Melisandre, Daenerys está cada vez mais diminuída a esporádicos faniquitos. Desse jeito não dá.
João bobão também está cada vez mais panaca, faz uma viagem absurda, espera que todo mundo acredite em zumbis gelados e depois faz birra porque não consegue o que quer. Ele remete cada vez mais a um Quico nortenho, cuja bola quadrada é feita de vidro de dragão. A Sansa avisou para não se misturar com essa gentalha. Para sorte desse naif personagem, Tyrion está ao seu lado e ver os dois relembrando e reproduzindo cenas marcantes da primeira temporada é incrível. Cada vez mais a série vai nos lembrando de tudo o que vimos, de tudo pelo que ela nos fez passar, essas referências enchem o coração de nostalgia e deixam o espectador com a sensação que cada diálogo e mijada pela Muralha valeu a pena.
O anão Lannister dá uma aula de como fazer aliados para a Targaryen, que cede e deixa o Quico ter seu vidro de dragão.
Se o dia foi bom para o mimado Jon Snow, Elaria Sand – a mulher de Dorne pra quem ninguém liga – paga caro por matar a filha de Cersei, para cuja morte também ninguém ligou ou se recorda. Mesmo assim é sensacional ver o efeito de ação e consequência na série, deixando claro que pecados do passado não serão perdoados. A rainha regente é extremamente sádica com a dornesa, deixando-a agonizar num calabouço primeiramente assistindo a filha morrer e depois tendo que testemunhar seu cadáver apodrecer depois de morta. Cru! Cersei inclusive está cada vez mais à vontade. Praticando o incesto de porta aberta, a rainha do amor fraterno, agora com a frota dos mil navios que ninguém sabe de onde vieram, esboça alianças vitais com o banco de Bravos. Se de fato passar a contar com esse doping financeiro, os dragões de Daenerys vão precisar cuspir muito mais que fogo.
Quem também parece estar muito à vontade é Sansa jogando SimCity em Winterfell. Regurgita ordens na companhia do onipresente e inconveniente Mindinho, que insiste na ruiva. Ele até esboça um monólogo interessante, mas é interrompido pelo retorno de Brandon Stark! Sim, o cadeirante mais famoso dos 7 reinos finalmente volta para casa, mas não quer saber de trono, o negócio do último filho legítimo de Ned Stark é árvore e corvo. Parecendo cada vez mais um Harry Potter cracudo, Bran encarna o lado místico da série e já avisou que precisa falar com o bastardo das neves. Será que vai revelar as raízes Targaryen + Stark descobertas na última temporada? Qual será o tamanho do papel de Bran na luta contra os Outros? Figura messiânica? Simples conselheiro?
Sam por sua vez é o melhor estagiário do mundo. Conseguiu remover a escamagris de Jorah apenas seguindo minuciosamente o manual de instruções. Mesmo assim, a chefia da Cidadela ainda o trata como estagiário e manda ele se ocupar de reproduzir textos e mais textos empoeirados. Quanto tempo Sam ainda vai aguentar? Não tá fácil para ninguém… Talvez apenas com exceção de Jorah, que agora está livre para retornar à sua ribalta de friendzone Targaryen.
Por fim, o grande momento, apelidado carinhosamente por mim como conto do Leão. Quando parecia que o dia de Daenerys não podia piorar, ela volta a ser esbofeteada estrategicamente por Cersei. Seus imaculados até asseguram Rochedo Casterly, mas do que adianta? Euron queima mais navios Targaryen e as tropas Lannister marcham rumo a Jardim de Cima esfacelando os restos mortais da Casa Tyrell. Agora que já não sobra mais um aliado westorosi sequer, a mãe dos dragões vai se agarrar a Jon Snow?
Olenna, a incrível vovó Tyrell termina esse belo episódio – e sua vida – atirando. Primeiro serve aquele chá de realidade para o agora rei das estratégias Jaime Lannister, convicto que ser capacho da irmã é seu inevitável lugar e destino. Você merece mais, Jaime! Minha aposta é que até o fim da temporada o cavalheiro sem braço vai se desvincular de Cersei, talvez com consequências nefastas para o pescoço da rainha. Por ora, resta torcer.
Por fim, Olenna atira seu último trunfo e assegura a Jaime ter ceifado o insuportável Joffrey naquele saudoso episódio da quarta temporada, que ainda faz minha herdeira de útero vibrar. A realidade no entanto, está longe daqueles dias, os Lannisters são um leão cada vez mais voraz e robusto, valendo-se da falta de atitude da rainha de nada para reconquistar pouco a pouco Westeros. Daenerys ainda pode reagir, mas é melhor voar e incinerar logo, antes que seja tarde demais. Será que Game of Thrones vai realizar meu medo de infância? Deixar os heróis entre os cadáveres e o Rei da Noite no comando? Hei de torcer pelos caminhantes brancos.
Com referências ao seu passado, bons diálogos, uma situação grave para o dragão de três cabeças e o ressurgimento de um fator de imprevisibilidade, Game of Thrones parece começar a engrenar rumo ao seu derradeiro desfecho neste excelente episódio.
“Hear me roar.”
Leave a Comment