10 das Melhores Adaptações da Obra de Stephen King

São 54 romances, quase 200 contos e novelas, além de 6 livros de não ficção até aqui, em uma carreira iniciada em 1967 e que não dá sinais de que vai terminar tão cedo. Chamado por muitos de o Mestre do Terror, curiosamente, com a óbvia exceção de O Iluminado, são os seus escritos que de terror nada tem que renderam as melhores adaptações cinematográficas.

Com a estreia essa semana de A Torre Negra, adaptação daquela que muitos consideram a obra máxima do autor, chegaremos ao absurdo número de 128 adaptações para o cinema ou televisão, contando filmes, seriados, minisséries e afins, sendo de longe o autor vivo mais adaptado da história da 7ª arte e provavelmente o autor com o maior número de suas obras adaptadas.

Qualquer pessoa que já tenha visto A Colheita Maldita 666 vai saber do que eu estou falando quando eu digo que a maior parte de suas adaptações é péssima, em especial quando analisadas ao lado de 3 dos maiores, mais reverenciados, referenciados e incontestáveis clássicos do cinema que surgiram originalmente da caneta de King e que ilustram essa lista.

Isto ocorre porque King realmente escreveu MUITAS obras do gênero terror. E, capitalizando em cima do nome que trouxera ao mundo dois clássicos do gênero em Carrie e depois em O Iluminado, Hollywood pegou o numerosíssimo catálogo de livros do escritor e começou a adaptá-lo em filmes lamentáveis como A Maldição e Desperation.

É por causa disso que resolvemos aqui no MetaFictions criar uma lista de 10 dos melhores filmes baseados na obra de Stephen King, para ajudar o nosso leitor a separar o joio (e vai ter joio assim lá na puta que o pariu) do trigo e relembrar 10 imperdíveis obras cinematográficas adaptadas dos escritos de King, excluindo-se, é bom deixar claro, as adaptações para a televisão.

Felizmente, as premissas criadas por King são tão fascinantes, que as mentes mais brilhantes do cinema o adaptaram em obras que aniquilam a máxima de que “o livro é melhor que o filme”, apesar dela ainda ser verdadeira na maioria esmagadora das adaptações.

Assim, deixo-vos com a lista, lembrando que, certa vez, perguntaram a Stephen King porque ele escrevia tantas histórias aterrorizantes. Sua resposta?

“Porque você assume que eu tenho escolha?”, respondeu King da única forma que sabe.

Vamos à lista!

O Aprendiz (Apt Pupil), de 1998, dirigido por Bryan Singer

Todd Bowden (Brad Renfro, morto ainda jovem em 2009), um jovem acima da média e com uma personalidade peculiar, descobre que um membro da vizinhança de seus 70 e tantos anos é um nazista refugiado clandestino. Em vez de denunciá-lo, ele recolhe evidências e o chantageia para que ele conte os crimes de guerra que cometeu. Todd quer algo além do conhecimento acadêmico. Ele quer entender o sentimento, como era estar lá e realizar todos aqueles atos hediondos que pode conhecer somente pela leitura. Kurt (Ian McKellen), nosso nazista, tenta viver uma vida pacata e sem chamar atenção, mas, lentamente, ao reviver aquelas memórias, vai assumindo a pessoa que fora uma vez e precisa dar vazão àquilo. Os dois estabelecem uma relação que, ao mesmo tempo, é bonita, de pupilo e mentor, e doentia, com ambos externalizando comportamentos extremos. O Aprendiz, baseado em um conto da coletânea “Quatro Estações”, é uma bela obra, especialmente ao mostrar que nossos pecados sempre estarão conosco.
Por Ryan Fields

O Sobrevivente (The Running Man), de 1987, dirigido por Paul Michael Glaser

Adaptado livremente do romance “O Concorrente”, lançado sob o pseudônimo Richard Bachman, O Sobrevivente apresenta um futuro (no longínquo ano de 2017) distópico no qual o governo americano controla seus cidadãos por meio da mídia. Os principais criminosos são enviados a um reality show para serem caçados por stalkers até a morte, tudo em troca de uma possibilidade de receber um perdão do estado caso consigam sobreviver. Eles, contudo, não contavam com Arnold Schwarzenegger, um piloto de helicóptero injustamente acusado que, além de sair matando geral, ainda tinha a sua dificuldade enorme em falar inglês e profere seu “I’ll be back” característico. Ainda há tempo de inserir um pseudo comentário social e uma revolução popular no meio. Apesar de, na essência, ser um filme de ação genérico dos anos 80, O Sobrevivente tem os diferenciais de contar com uma premissa quase que premonitória do que viria a acontecer, o carisma de Arnie e um Richard Dawson totalmente frenético interpretando o apresentador do programa.
Por Gustavo David
Carrie, a Estranha (Carrie), de 1976, dirigido por Brian De Palma

Diretor de clássicos absolutos como ScarfaceOs Intocáveis e o subestimadíssimo O Pagamento Final, Brian De Palma é aquela espécie de diretor que a Tela Quente anunciava quando um de seus filmes passava. Vindo da mesma geração de cineastas ítalo-americanos que também gerou os mitológicos Scorsese e Coppola, De Palma já tinha algum nome no circuito independente quando recebeu a oferta de filmar Carrie, a Estranha, um clássico do cinema de terror que o levou ao estrelato. Com uma câmera inquieta e se valendo de 3/4 do filme tão somente para construir toda a tensão que é liberada de uma vez só na cena final, De Palma filma esta obra-prima do gênero com verve e virtuosismo, contando a história de uma menina tímida e introvertida, dominada por sua mãe ultra-religiosa, e que, após sofrer uma humilhação nas mãos de seus colegas de colégio, libera todos os seus poderes psíquicos e sua fúria assassina. Carrie foi o primeiro romance de King e a primeira peça cinematográfica a ser adaptada de sua obra.
Por Gustavo David

Louca Obssessão (Misery), de 1990, dirigido por Rob Reiner

Originalmente chamado “Misery”, um título que cai melhor, a história segue de maneira clássica nos escritos de King. Elementos como uma cabana no meio do nada, neve, isolamento geográfico e um personagem que resolve ir para esse lugar nenhum edificam a narrativa. Seja no grandioso O Iluminado ou em menores livros como Jogo Perigoso, Stephen King é viciado em transmitir o sentimento de desamparo diante de uma situação de risco. No filme em questão temos um escritor que vai para o Colorado escrever um livro novo, após uma série de best-sellers de uma só franquia. Ele quer agora fazer diferente. Seria essa uma projeção do próprio autor? No entanto, o que ele encontra é a mais fanática admiradora de seu comercial trabalho que logo se mostra obssessiva e psicótica. E agora é uma questão de vida ou morte escrever uma continuação para aquela história.
Por Larissa Moreno

O Cemitério Maldito, de 1989, dirigido por Mary Lambert

No longa vemos a família Creed chegando a sua nova casa em Ludlow, no onipresente Maine. Lá, logo de cara, percebemos quão perigoso é para os desatentos, crianças e animais. A casa fica à beira de uma rodovia com tráfego moderado. Tanto é, que perto da casa existe um cemitério para animais feito por crianças, escrito de forma incorreta (sematary em vez de cemetery) e com dimensões pequenas, como só a inocência poderia conceber. Após o gato da família ser atropelado, o pai e o vizinho levam o corpo do gato para ser enterrado na parte de trás desse cemitério, local de sepultamento de uma antiga tribo indígena, os Micmac. Uma vez enterrado lá, o gatinho volta a vida, mas carregando consigo um olhar e um comportamento agressivo e demoníaco. Quando o filho mais novo dos Creed morre atropelado (perdão pelo spoiler), ideias começam a surgir e você já pode imaginar onde isso vai dar. O longa foi envolvido em diversas polêmicas por usar menores de idade, alguns muito novos, em cenas de extrema brutalidade física e mental. O Cemitério Maldito é, decerto, uma obra muito crua e que retrata o que eram os filmes de horror dos anos 80: baixo orçamento e com muitos efeitos práticos. Inclusive o próprio Stephen King faz uma pequena ponta no longa. Embora goste de viver, não tenho medo da morte. Mas se a hora chegar prematuramente… “I don’t want to be buried in a Pet Sematary, I don’t want to live my life again.”
Por Ryan Fields

Conta Comigo (Stand by Me), de 1986, dirigido por Rob Reiner

Conta Comigo é muito mais do que um “clássico da Sessão da Tarde”. Número 6 no meu Top 10 pessoal, o filme funciona com um verniz duplo de nostalgia: aquele da narrativa em que Gordie adulto (Richard Dreyfuss) se lembra da sua infância; e aquele dos duros anos 80 romantizando a década mais americana de todas: os anos 50. Do maravilhoso elenco infantil, destaca-se River Phoenix naquela que é uma das melhores performances de um ator-mirim – a cena em que ele narra o preconceito da professora permanece um dos grandes momentos da carreira desse saudoso artista. Já as brincadeiras narrativas, típicas de Stephen King, se fazem presentes em uma das mais deliciosamente nojentas tramas de vingança do cinema: o antológico concurso de tortas de “Lard-Ass”. No mais, Conta Comigo ajudou a definir no cinema contemporâneo o próprio conceito de coming of age story: a jornada daquelas crianças em busca do corpo de um menino na cidade de Castle Rock (que depois deu nome à famosa produtora do diretor Rob Reiner) marca não apenas o encontro deles com o significado da morte, mas também com si mesmos. Conta Comigo permanece, juntamente com Thelma & Louise e Um Sonho de Liberdade (também baseado em um conto de Bachman, pseudônimo de King, curiosamente da mesma coletânea) como um dos melhores filmes já feitos sobre amizade.
Por Anderson Gomes

– A Hora da Zona Morta (The Dead Zone), de 1983, dirigido por David Cronenberg

https://youtu.be/lmC5oPc7L3M

Logo após dirigir os cultuadíssimos e gráficos Scanners e Videodrome e apresentar ao mundo todo o seu talento, o fantástico Cronenberg dirige essa adaptação do romance homônimo de 1979 de forma surpreendentemente contida, mas não menos excelente. Johnny (Christopher Walken, sublime) é um professor na cidade fictícia de Castle Rock, no estado natal de King, o Maine, cenário de grande parte de suas obras. Ele sofre um acidente de carro que o deixa em coma por 5 anos. Ao acordar do coma, Johnny percebe que, ao tocar nas pessoas, consegue por vezes prever o futuro do sujeito ou descobrir seus segredos. Johnny então, após descobrir um segredo futuro de impacto devastador à sociedade, resolve colocar sua própria vida em jogo para tentar evitá-lo. A maravilhosamente bizarra mente de Cronenberg parece ser um complemento perfeito aos desvarios literários de King, trazendo para a tela nada menos que um clássico bastante subestimado pelo público em geral.
Por Gustavo David

À Espera de um Milagre (The Green Mile), de 1999, dirigido por Frank Darabont

Essa obra prima foi por algum tempo motivo de pesadelo para mim. Na primeira vez que assisti eu tinha 9 anos e lembro que minha mãe tapou meus olhos em uma cena em específico, mas que ainda assim vi fiapos entre os dedos. A história é a de John (Michael Clarke Duncan), um prisioneiro alocado no corredor da morte por assassinato e abuso de duas meninas do interior. Durante sua espera pela sentença final, o guarda Paul (Tom Hanks) observa, a partir do convívio, que aquele homem grande e forte pode não ser ameaça nenhuma. E que carrega um enigmático poder espiritual. Um dos filmes mais comoventes e impactantes na minha opinião, À Espera de um Milagre mostra sensibilidade e choca pela brutalidade humana.
Por Larissa Moreno
– Um Sonho de Liberdade, de 1994, dirigido por Frank Darabont

https://youtu.be/xSwCosvJGog

É muito difícil falar sobre Um Sonho de Liberdade em função do número assombroso de coisas a serem ditas. Poderia dizer que é o filme mais bem avaliado da história do IMDB, com uma nota de 9,3 e quase 2 milhões de avaliações. Poderia falar que foi o que fez a fama de Morgan Freeman como ator e principalmente como narrador. Que é a estreia na direção de Darabont, cujo 3 de seus 4 longas são baseados na obra de King, sendo todos excelentes e 2 deles figurando nessa lista. Ou que foi um fracasso retumbante nas bilheterias, além de ter sido indicado a 7 Oscars e perdido quase todos para Forrest Gump. Mas o mais importante mesmo é dizer que este filme é o responsável quase que sozinho por iniciar a minha paixão pelo cinema. Baseado em mais um conto da coletânea “Quatro Estações”, a obra conta, na voz de Red (Freeman), a vida de Andy (Tim Robbins), um banqueiro que é preso talvez injustamente, talvez não, e a amizade dos dois no ambiente carcerário. Essa mera sinopse não faz jus à obra. Trata-se de um filme obrigatório e, em minha humilde opinião, estaria certamente em uma hipotética lista dos 10 melhores filmes já feitos.
Por Gustavo David

– O Iluminado (The Shining), de 1980, dirigido por Stanley Kubrick

“Kubrick realizou o melhor filme de cada gênero da História do Cinema”, comumente ouvimos falar isso e, comumente, reproduzo a fala. Se não retrata o que, de fato, houve, chega muito perto. Um cineasta em busca da perfeição – e, muitas das vezes, conquistando-a – foge, a cada produção, de algo que poderia esboçar uma zona de conforto. No caso específico de O Iluminado, Stanley vai até o terror, estilo normalmente visto como de segunda importância, para evidenciar que a qualidade não vem de um gênero determinado, mas da expressão do artista. Associando planos contemplativos, casting perfeito, fotografia irretocável e um conflito psicológico que flerta com a insanidade total, a narrativa nos envolve de tal maneira que, depois desse filme, enxergamos as sempre presente referências nos demais títulos que são lançados, ano após ano. É lugar-comum definir O Iluminado como o melhor filme de terror da História do Cinema. Mas a frase não representa o que, de fato, a obra significa: é um dos melhores filmes da História do Cinema.
Por Rene Michel Vettori

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