A Torre Negra (The Dark Tower)
Quando um filme é anunciado como uma adaptação de alguma obra de Stephen King, é de se esperar ao menos uma boa história dele. No que tange o cinematográfico dependerá do diretor e, também, se a escrita em questão “funciona” no visual. Afinal, há histórias que tem como chave a imaginação, a dificuldade de transpor para a tela e o abstrato como um todo. São duas linguagens diferentes, por fim, e que nem sempre se dão muito bem.
No caso de King, como dito no nosso Top 10 Melhores Adaptações de Stephen King, temos uma gama extensa desde os mais patifes filmes à espetáculos como o orquestrado por Kubrick. Com a vinda da série de livros da Torre Negra para as telinhas fiquei me perguntando qual seria o resultado. Não li os livros, mas de antemão conhecia a história, muito pelo que pesquisei enquanto fã de King e pelo que conversei com amigos que já leram. Características tradicionais do escritor estão nela: alguém meio médium, o mal personificado e enigmático e pitadas psicológicas. Acredito que a grande marca do autor é focar no humano, independentemente do local que tudo ocorre. Não à toa, a saga da Torre Negra se passa num mundo alternativo, mas essa é de fato uma questão pano de fundo, beirando o desprezível. A inquietude pelo fim do mundo (ou mundos) é a tônica do enredo.
Jake (Tom Taylor) é um moleque visto como problemático por, aparentemente, ter criado um mundo alternativo a partir de sonhos repetitivos. Neles ele vê dois homens batalhando: Roland (Idris Elba), o Pistoleiro, e o Homem de Preto (Matthew McConaughey). O motivo da disputa é a posse de uma torre, responsável por impedir que todos os mundos existentes (num contexto que permite universos paralelos) sejam contaminados pelo mal absoluto. Mas ok, o que o pobre do garoto tem a ver com isso? Ahá. Acontece que ele tem poderes. Poderes que ele mal sabem quão intensos são e aonde vão levá-lo.
A inserção de uma criança como um personagem importante tem uma razão: de acordo com a história, apenas uma criança especial é capaz de destruir a Torre. E isso é exatamente o que o Homem de Preto quer, afinal, ele é o “bad guy” da coisa toda. Válido pontuar uma atuação interessante de McConaughey, vestindo a pele de um feiticeiro das trevas com toda a classe possível. E elementar pontuar também que exageraram na maquiagem do cara, que em algumas cenas mais parecia ter feito bronzeamento artificial e colocado, além de tudo, pó da globeleza por todo o rosto e pescoço. O Homem de Preto tava mais pra Homem de Ouro, semelhante à estatueta do Oscar.
Eventualmente a porrada rola entre o feiticeiro das trevas e o Pistoleiro, conflito procrastinado pelo vilão e que vinha deixando o outro cara SEDENTO e PUTO por um acerto de contas. Blá-blá-blá, correria pra salvar o mundo aqui e ali e esse tipo de coisa.
Minha expectativa para o filme se resumia à um entretenimento blockbuster padrão. Ao menos foi o que o trailer me instigou. No entanto, fiquei um pouco frustrada com o que me foi entregue na sala de cinema. A intensa impressão de que a história poderia ter sido, de alguma forma, desenrolada menos entediantemente repousou sobre mim. Quando saí do cinema ouvi exatamente isso: “eu achei a história legal mas o filme chato”. Apesar da simplicidade dessa frase, é isso aí mesmo. A história de King tem potencial para, no mínimo, um filme comercial que lhe prenda os olhos.
Por fim, não é também um filme com gafes insuportáveis e contradições de roteiro. Segue uma linha bem certinha do início ao fim – sem reviravoltas ou diálogos profundos. À exceção de uma reza do pistoleiro, a qual achei bem maneira, o filme não fede nem cheira. Eu tentei curti-lo mas foi como quando você abre a geladeira em casa e não tem nada, aí abre de novo já sabendo que não tem nada só pela fome.
Seja pela falta de jeito do diretor, seja pela tentativa de condensar uma série de 7 livros num filme ou por sei lá o quê, fato é que não colou. Caso esteja em seus planos assistir ao filme, vá cru de expectativas. E, para tornar a sessão mais divertida, procure pelos easter eggs escondidos que fazem referência à outras obras de King. Isso sim foi legal.
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