Annabelle 2: A Criação do Mal (Annabelle: Creation)


Terror é um gênero com um nicho muito fiel. Não à toa, em uma análise breve e nada acadêmica, concluímos rapidamente que curtas-metragens dessa linha são os que apresentam exagerado número de views, batendo qualquer outro tipo. Sabedores disso, os estúdios sempre lançam longas com histórias assustadoras. A esmagadora maioria, como consequência, é um bando de fillers (filmes só para preencher a demanda desses espectadores) sem qualquer emoção, reproduzindo os mais velhos clichês de forma que, enquanto assistimos, já adiantamos os acontecimentos. Triste. Preferível que fossem bem, bem ruins, porque um filme de terror ruim é umas da melhores coisas que há, como venho dizendo. Resulta mesmo que quase a totalidade fica nesse limbo enfadonho. De tempos em tempos, porém, vem aquela luz que nos mostra uma história de grande qualidade. Recentemente, posso elencar – sem medo de ser feliz – “Invocação do Mal” dirigido por James Wan. Este filme me deixou sem fôlego (literalmente mesmo!) e me impediu de dormir naquela noite. Lembro que só consegui após os primeiros raios de Sol vencerem os espaços não cobertos pelas persianas. Quando o primeiro “Annabelle saiu, fiquei ansioso; aliás, era produzido por Wan, além de ser o “solo” da primeira sequência daquele que havia me aterrorizado. Expectativa quebrada. Para Annabelle 2: A Criação do Mal, hoje, fui sem esperar nada.

Fui surpreendido!

A história, a priori, parece aglutinar situações conhecidas nossas: uma boneca que guarda a presença de um entidade perversa (“Brinquedo Assassino“: nosso velho amigo Chucky – ou tchôqui, como uma galera por aí gosta de falar); uma filha prematuramente perdida após um atropelamento banal, e a vontade suprema dos pais de querer revê-la como viva (“O Cemitério Maldito“). É, parecia que Annabelle 2: A Criação do Mal aumentaria a lista do clichezão que só serve pra juntar a galera e divertir numa noite qualquer, na casa de alguém. Mas não. Não mesmo. O que se segue é uma história forte e uma direção muito segura, com belas atuações sustentando o suspense.

A força da expressão de Thalita Bateman, encarnando primorosamente Janice.

Após 12 anos de ausência da menina Bee (Samara Lee), o casal Mullins (Anthony LaPaglia e Miranda Otto) resolve receber um grupo de seis órfãs e uma freira (Stephanie Sigman), acolhendo-as em sua casa vazia. Entre as garotas, duas se destacam: as inseparáveis Linda (Lulu Wilson) e Janice (espetacularmente atuada por Talitha Bateman; entrou imediatamente na minha lista de atrizes que irei dirigir). Esta carrega uma deficiência em uma das pernas, obrigando-a a usar bengala e outros recursos que a auxiliam na locomoção. Uma vez dentro da casa grande, sustos e medos começam a alimentar o imaginário e o cotidiano dos moradores, antigos ou novos.

David F. Sandberg traz os elementos assustadores em cada parte do filme: desde a aparência frágil de Janice até a senhora Mullins, claramente portadora de algum segredo, já que ninguém consegue vê-la efetivamente. Fora a casa em si e – o principal – a odiosa boneca Annabelle, uma criação do talentoso artesão senhor Mullins. No entanto, se anteriormente falei que o diretor parecia revisitar antigas situações, fica claro que a partir disso ele consegue – com louvor – produzir novos momentos de susto e medo. Com constantes quebras de expectativa – aquela hora em que todo o cinema fala “vou cagar!” – chegando próximo ao clímax do suspense, mas cortando-o antes que conclua, e algumas explosões de adrenalina inesperadas, Sandberg vai regendo a sinfonia de pavor que começa a ser preenchida mais e mais com essas notas medonhas. O filme começara contemplativo e com esporádicos episódios de horror, mas em um crescendo, ele vai te tragando pouco a pouco.

Linda e a odiosa boneca

Nossa jornada, portanto, é acompanhar a fuga de pessoas desavisadas, que tentam sobreviver à implacável entidade (nada mais, nada menos que o canhoto, o sete-pele, o cramulhão, o mochila de criança, o sinteco gelado). Mais uma vez, pode parecer que estamos incorrendo numa história já contada quinze mil vezes. E talvez estejamos. Mas a diferença reside em como David nos conta esse assombro e – mais uma vez preciso falar dela – em como Thalita Bateman é sublime em sua atuação. Annabelle 2: A Criação do Mal é muito mais do que um filler; é uma daquelas obras que os fanáticos por terror precisam ver. Devo assumir, uma vez mais, que, em determinados momentos, revisitei a sensação descrita quando do meu primeiro contato com “Invocação do Mal” – faltou-me fôlego.

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