Death Note

Death Note, como dito no Assista! da semana, é uma obra magnífica e que transcendeu um gênero de nicho. Quando a notícia que a obra seria adaptada para o ocidente pela gigante do streaming, a Netflix, uma esperança pairou no ar de que algo no mínimo decente seria feito.

Embora eu saiba que adaptações em longa metragens precisam fazer concessões, especialmente quando se muda de mídia (livros) ou de formato (séries), um mínimo de respeito pela obra original precisa ser preservado.

Dando continuidade às péssimas adaptações de mangás e animes, como o recente “Ghost in The Shell“, Death Note se utiliza apenas da premissa e dos nomes de personagens, descartando o que tornou a obra magnífica.

O longa ainda segue a mesma ordem de acontecimentos iniciais do anime, mas em uma escala de tempo incrivelmente rápida. Light (Nat Wolff), encontra o death note e pouco depois descobre seus poderes em uma cena, já vazada pela própria Netflix, no qual Ryuk (Willem Dafoe) o manipula para escrever o nome de um valentão da escola no “caderno da morte” e como isso ocorrerá. Diga-se de passagem, que um dos poucos elementos bons da adaptação é a forma extremamente gráfica que as mortes acontecem, sem censura alguma.

Whitewashing!

A partir desse ponto, o longa coloca tudo de bom que o anime tem de lado para conseguir passar por muitas cenas clássicas no pouco mais de 1h que resta de filme. Não temos mais a construção de Kira (pseudônimo adotado por Light) como a encarnação da justiça em resposta ao mal, atrelado ao seu ego e flexibilidade moral. Muito menos vemos o contraponto a esse tipo de justiça, que supostamente “L” (Lakeith Stanfield), detetive encarregado de pegar Kira, deveria apresentar: um ideal de justiça pleno, utópico, no qual Kira é um criminoso e não a justiça.

Todos os personagens são muito mal apresentados e, contraditoriamente, é uma adaptação que não se sustenta sozinha e depende de você ter visto o original para entender as motivações e importância de cada um.

Brunettewashing…!

O que mais me incomodou, de longe, foi o poder que o death note possui. Além de você poder matar qualquer um em qualquer lugar, ele permite que você controle totalmente a vida da pessoa até o óbito.

Caso eu tivesse esse death note do filme, eu poderia muito bem escrever que “ao terminar de ler a crítica de Death Note no site do MetaFictions, fulano de tal pega o máximo de empréstimos que podia e transfere a soma, junto com suas posses, para Ryan Fields. No dia seguinte, o fulano deve se fantasiar de Mulher Maravilha e se encaminhar para o Corcovado. No caminho, caso alguém perguntasse algo, ele deveria falar “tudo mec”e tentar converter a pessoa ao budismo. Uma vez no Cristo Redentor ele pegará no laço da verdade e, praticando a famigerada asfixiação auto-erótica, deve se enforcar enquanto bate uma bronha ao cantar o hino do Japão. Seu esperma voaria com o vento e fecundaria uma moradora de rua, que daria luz ao presidente do Brasil de 2050.” E, voilá, isso tudo aconteceria.

Blackwashing…..?

Esse é o nível de controle permitido pelo caderno. Nesse caso, matar alguém seria a última coisa que qualquer um pensaria. E, usando dessa premissa, a trama DEPENDE desse tipo de manipulação para ter um mínimo de sentido, embora seja extremamente ofensivo para nossa inteligência.

O único momento que eu vi uma luz, foi quando a tv mostrava os crimes de Kira, chacinando procurados pela justiça a nível internacional e levantando questões interessantes. Quem estava por trás disso? Como Kira seria capaz de matar tantos em locais tão distantes? É uma organização? Pessoa? Entidade sobrenatural? Questionamentos com um tom grave e obscuro, enquanto cenas de crimes extremamente pavorosas eram mostradas. Por 20 segundos me senti vendo “Seven – Os 7 Pecados Capitais” e percebi ali uma grande oportunidade de uma adaptação que não seria fiel ao original, mas que poderia ser algo genuíno e de fato bom.

Antes tivesse sido adaptado pela HBO…

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