Dupla Explosiva (The Hitman's Bodyguard)
Em algum lugar nos porões da Herbert Richers, Álamo ou da Marshmallow há uma máquina fascinante cuja única função é a de gerar títulos genéricos para filmes de ação e comédias românticas. Dupla Explosiva é seu mais recente resultado. Este nome poderia ter sido usado em absolutamente QUALQUER filme em que uma dupla de atores enche figurantes de bala e sopapos.
Entrando na sala de exibição já escaldado pela qualidade das produções de nomes genéricos e que antigamente saiam direto nas locadoras, não foi surpresa quando percebi que o primeiro quarto do longa, dirigido burocraticamente por Patrick Hughes (de Os Mercenários 3), é também tão genérico e desprovido de imaginação quanto seu título sugere.
Felizmente, passado algum tempo de exibição, Ryan Reynolds e Samuel L. Jackson se encontram. A partir daí, o filme deslancha, abraça a galhofa com todas as forças e, felizmente, funciona como o veículo que é para que as duas estrelas brilhem forte.
A história é, como é useiro e vezeiro nesses filmes, a menor das nossas preocupações, ainda que, em alguns momentos, ela seja até mesmo um tanto acintosa ao ofender a inteligência do espectador: Michael (Reynolds) é um ex-agente da CIA (sempre tem um, né?) que tem o melhor serviço de segurança VIP do mundo. Certo dia, um cliente seu é assassinado e sua reputação morre junto com o cliente perdido, tornando-o, apesar de competentíssimo, uma sombra do que já foi.
Uma ex-namorada sua, Amelia (Elodie Yung, a Elektra da série do Demolidor), é uma agente da Interpol encarregada de escoltar Kincaid (Jackson) do meio da Inglaterra onde ele está detido até Haia, na Holanda, onde ele irá depor contra o ditador bielorrusso Dukhovich (Gary Oldman no piloto automático e cuspindo como sempre).
Kincaid, é bom dizer, é um assassino de aluguel responsável por centenas de mortes (apesar de ser o maior gente boa) e cujo depoimento vai significar o encarceramento definitivo do crudelíssimo ditador vivido por Oldman. Só que tem uma pegadinha. Por algum motivo que não faz O MENOR SENTIDO ele precisa chegar ao julgamento no tribunal da ONU em Haia até as 17 horas do dia seguinte ou então seu testemunho não poderá ser ouvido. E é claro que Dukhovich vai mandar seus capangas genéricos do leste europeu atrás dele para impedir que ele chegue a tempo, lembrando, ainda, que, sabe-se lá porque, eles resolvem levar o malandro de carro ao invés de colocar num avião ou helicóptero.
Vamos aqui recapitular. Uma testemunha chave de um julgamento claramente inspirado no de Slobodan Milosevic precisa chegar até determinado horário ao tribunal para prestar um depoimento que poderá colocar atrás das grades para sempre um ditador conhecido por sua sanguinolência e pela limpeza étnica que praticava. Mesmo que haja uma trilha de corpos, destruição e explosões que indicam que o tal sujeito está tentando se livrar da testemunha, o horário precisa ser respeitado, ou então o ditador é libertado. É essa a premissa que, felizmente, é apenas um arremedo de pano de fundo para a história e não chega a causar tanta indignação na hora quanto causa depois de terminado o filme e o sujeito (eu, no caso) precisa escrever a seu respeito.
O longa passa a funcionar não quando tenta se aprofundar na história ou ao apresentar sua trilha sonora constrangedoramente clichê, mas quando dá merda na escolta e Reynolds é colocado por sua ex com a missão de proteger e levar Jackson ao seu destino, tornando-se assim o tal guarda-costas do matador de aluguel do título original. Aqui se inicia a clássica dinâmica do buddy movie no qual um dos caras é o oposto do outro, mas que, no final, ambos percebem que se complementam e se tornam melhores amigos.
É nas trocas entre os dois que o filme brilha e consegue se salvar do marasmo criativo ao qual parecia estar condenado, no que é também muito ajudado pela correta direção de ação e perseguições de carro. Reynolds e Jackson estão aqui totalmente à vontade em cenas hilariantes, ainda que estejam basicamente interpretando os mesmos personagens que sempre interpretam, sendo Reynolds o cara das tiradas engraçaralhas e Jackson um sujeito de que repete mil motherfuckers por segundo, tem 70 anos e ainda consegue convencer a todo mundo que é capaz de matar a quantidade de gente que ele mata. E está ótimo que seja assim.
Contando ainda com a presença magnética de Salma Hayek como a esposa de Jackson, Dupla Explosiva, ainda que se valha de um arremedo de roteiro, funciona bem enquanto filme de ação e comédia, um pouco pelas boas cenas de ação e perseguição de carro, e MUITO pela dupla de protagonistas que, para o nosso bem, está com a coleira totalmente solta e absolutamente ensandecida.
Resta-nos torcer que uma provável sequência tenha mais carinho em seu roteiro e coloque o carisma inegável dessa “dupla explosivo” a serviço mais da história do que exclusivamente deles mesmo.
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