Garimpo Netflix: Corrente do Mal, Ninho de Musaranho e Circle
Por motivos diversos, tenho uma tendência a analisar filmes no patamar psicológico da coisa. Não que eu seja alguém que tenha propriedade para falar a respeito, mas não deixo de ter bastante interesse. No Garimpo Netflix de hoje as três obras indicadas tem um denominador comum: pegadas com interpretações abertas à psique. Pode ser por trazer metáforas que te levem a pensar sobre interpretações de sonhos – como em Corrente do Mal, inspirado no sonho do diretor. Ou por carregar sensações claustrofóbicas, como em Ninho de Musaranho. Ou, ainda, mencionando Maquiavel e sua crença de que o homem é mau por natureza, por impressões a respeito da essência humana.
De toda forma, tracem seus próprios paralelos. Seja por puro entretenimento ou por altas viagens filosóficas, coisa que eu faço com facilidade como já foi notado, espero que gostem das indicações. Assistam, comentem, critiquem, curtam e tudo mais!
– Corrente do Mal (It Follows), de 2014, dirigido por David Robert Mitchell
https://www.youtube.com/watch?v=bsVU-P5jZCU
Corrente do Mal exemplifica uma foda mal dada com ejaculação precoce e que, de quebra, amaldiçoa sua vida. Um filme de terror, de fato. Após tirar o atraso com um jovenzinho de 21 aninhos que, apesar da libido, deixa a desejar, Jay (Maika Monroe) aparenta ter sua sanidade abalada. Ela ganha uma frequente e nada agradável companhia: andarilhos que parecem zumbis ou espíritos ou, como o título coloca, “coisas”, que, ao que tudo indica, querem matá-la.
Se na superfície o filme parece apenas mais um indie de baixo orçamento, com um olhar mais cauteloso podemos ver elementos bastante interessantes. Através de signos que vão construindo uma crescente dissonância, o telespectador é paulatinamente inflado de agonia e curiosidade. Com um clima que está na divisa do feérico e do assustador, embarcamos num roteiro inspirado em um pesadelo do diretor, o que explica a sensação de fenda no tempo e confusão mental que é passada. Uma boa pedida para quem gosta de filmes alternativos com ritmo peculiar e próprio.
– Ninho de Musaranho (Musarañas), de 2014, dirigido por Juanfer Andrés e Esteban Roel
Fiquei positivamente surpresa na época que assisti a esse filme, tanto que digo que é fantástico com bastante. Mais uma vez trago à luz um thriller espanhol, agora passado nos anos 50 e que tem como escopo o tormento, tanto de personagens quanto o de quem assiste. É aquele tipo de filme que se você assiste com alguém é capaz de machucar a mão da pessoa de tanto apertar e, se está sozinha, pausa algumas vezes para respirar fundo e continuar. Pelo menos assim foi comigo.
Em um apartamento vivem duas irmãs e uma delas, Montse (Macarena Gómez), sofre de agorafobia (medo de multdião). A rotina das duas é pacata e conservadora e é a menina mais nova (Nadia de Santiago) quem sai à rua em função do transtorno da mais velha. Tudo prosseguiria normal não fosse a possessividade e personalidade controladora de Montse, que, se no início era somente repressora, vai se tornando cada vez mais perigosa…
Puta que pariu, assistam! Eu já falei que adoro esse filme?
– Circle, de 2015, dirigido por Aaron Hann e Mario Miscione
Por último, mas de forma alguma menos importante, temos Circle, meu queridinho dentre esses três. Embriagado por uma pegada distópica, curtinho e arrojado, o filme se arrisca: acontece praticamente em apenas um cenário durante toda a história. Aí você vai pensar: “mas que monótono, mas que parado”. Não, nada disso. Apesar do iminente risco de se tornar entediante diante dos duvidosos elementos escolhidos, o filme brilha, triunfante, sustentando-se em diálogos bem escritos.
Um bando de desconhecidos se vê preso a um jogo de mau gosto, no qual a lógica utilitarista é posta contra a kantiana constantemente. Em outras palavras: salvar uma maioria e sacrificar alguns ou dar a todos o mesmo destino em nome de algum tipo de ética? E, se a primeira opção é a escolhida, que tipo de peneira seria usada? Dentro disso o filme nos mostra os preconceitos que existem em cada ser humano, por mais sutis e imperceptíveis que possam parecer. Uma interessante imersão filosófica e também um bom thriller que descasca os lados mais escondidos de cada um.
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