Garimpo Netflix: Encarcerado, Grave e Bokeh

Tragam o troféu, diploma ou broche. Pois eu, no dia que vos escrevo, domingão chuvoso, assisti um total de 5 filmes em sequência e, após tratar da minha higiene e alimentação, ainda terminei uma série. É possível que isso seja só um sinal de que eu devia aceitar mais convites para sair, ok. Mas como resistir à minha lista da Netflix? Com títulos ali, pegando poeira, friagem, pedindo por um clique? E com minha cama aqui, sempre de lençóis abertos, espaçosa e quentinha? Eu peço desculpa aos que me chamaram pra sair. Mentira, queridos.

Enfim, após esse verdadeiro mergulho na plataforma, venho aqui mostrar pra vocês uns filmes que me cativaram. Dessa vez trago algo do cinema inglês, outro do francês (é franco-belgo mas vocês me entenderam) e, por fim, do americano. O primeiro trata-se de um drama, o outro de um horror meio indie e o último de um indiezão em que “nada acontece”. Ou é o que pode parecer.

Assistam, comentem, curtam e tudo mais.


Encarcerado (Starred Up), de 2013, dirigido por David Mackenzie

O cinema britânico é bom pra caralho (ainda que tenha fotografia em tons pastéis, Ryan. Supera!). Ano passado “Eu, Daniel Blake” conquistou meu coração como um dos melhores, se não o melhor, filme que vi nos cinemas. Esse ano assisti a outros títulos por serviços de streaming e o da vez foi Encarcerado. Mais uma vez, o estilo de drama visceral sem exageros, inteligente e não-didático me encanta. E mais uma vez, o cinema britânico não deixa a desejar.

Daddy issues. O assunto que o filme traz é familiar e pode ser ainda mais dependendo de onde você vem. Eu, por exemplo, tenho um histórico esquisito com problemas com pai. Mas Eric Love (Jack O’Connell) tem muito mais o que digerir do que eu. Recém chegado à prisão local no norte da Inglaterra, o menino de apenas 19 anos tem uma relação paterna problemática. Isso se atenua quando, no ápice da perda de controle de sua vida, convive com o pai agora na cadeia. E que, de alguma forma, quer retomar de onde os dois pararam. No entanto, como tornar uma relação que já era tóxica no mundo “normal” em algo melhor naquela realidade? Como desbestializar o ambiente e eles próprios?

Brilhante filme. Assistam!

Grave, de 2016, dirigido por Julia Ducournau

Tenho uma história de desencontros com esse filme. Durante o Festival do Rio de 2016 fiquei como louca atrás dele mas por infortúnios da vida não pude ir à sessão em questão. Eu havia, inclusive, já comprado. Então, digo que há um ano venho esperando pela vinda do título pro Brasil. E não é que veio? Obrigada, Netflix!

Justine (Garance Marillier) acaba de entrar na faculdade e, como a maior parte dos calouros, é posta diante dos ritos (em grande maioria imbecis) ao qual esse momento é relacionado. Traduzindo: o famoso trote. Aparentemente nossos camaradas colonizadores dazoropa não são tão superiores assim e também fazem essas (des)graças. Dentre as sessões de humilhação sem razão alguma visando apenas adquirir a confiança dos chamados “veteranos”, a menina é obrigada a comer carne crua. Só que ela é vegetariana. Daí pra lá ela cria um vício e começa a sentir sintomas de abstinência. Bizarro…

…e maravilhoso. Eu já falei outras vezes mas repito quantas mais: cinema francês é superestimado. Logo, não sou fã. Mas, apesar de ser um filme BEM francês, Grave é arrasador.
Bokeh, de 2017, dirigido por Geoffrey Orthwein e Andrew Sullivan

Pra fechar, uma produção americana/islandesa com um papo pra lá de niilista existencial. Bem minha cara. Imagina: você tá na paz com seu novo amorzinho em uma terra paradisíaca, vocês não descobriram ainda que um tem bafo e outro chulé quando, boom, todo mundo some. Todo mundo mesmo. O que era pra ser um escape da realidade torna-se uma dura e inevitável rotina… onde o outro é seu único conforto. Mas também seu único problema.

É isso que o casal Jenai (Maika Monroe) e Riley (Matt O’Leary) experienciam. Os dois devem, sem rodeios, fazer com que se bastem. Sem nenhuma previsão do mundo voltar como era antes, eles tentam se encaixar nessa simples e aberta realidade. Um vê como recomeço. Outro, como interminável angústia. Até porque, como Sr. Sartre já mostrou, essa angústia vem justamente da tomada de consciência de que somos livres. E a liberdade, chegado certo ponto, pode ser assustadora. Eu fiquei aflita com essa ideia de depósito inteiriço de necessidades em uma só pessoa. Acho que sou a Jenai da história…

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