Garimpo Netflix: Sci-Fi

E se? E se descobríssemos vida fora da Terra? E se fôssemos capazes de colonizar as estrelas? E se fosse possível viajar no tempo?

Este “E se?” Essa é pergunta principal que qualquer obra de ficção científica faz em sua premissa e a sua resposta efetiva é o que menos importa. O que importa, assim como na boa filosofia, é apresentar questões e meramente tentar respondê-las, mesmo sabendo estar fadado ao fracasso. E é na busca por estas respostas que os artistas apresentam suas premissas e especulam sobre o impacto que aquilo teria sobre a sociedade e seus indvíduos.

Contudo, na absurda maioria das vezes, o que as pessoas pensam quando se fala desse gênero é em navezinha voando pelo espaço, alienígenas monstruosos, armas de raio laser e hentai.

Indo 2/3 na contramão disso, hoje o Garimpo Netflix da semana, indica dois filmes de forte cunho filosófico/existencialista e um que, valendo-se de um pano de fundo pseudo-científico, se presta mesmo a explodir coisas.


The Discovery, de 2017, dirigido por Charlie McDowell

Estrelado por um dos melhores e mais famosos atores já produzidos por Hollywood, Robert Redford, este longa original Netflix lançado ainda neste ano é ficção científica em sua forma mais filosófica e existencialista, apresentando uma premissa intrigante e fazendo com que o espectador questione sua própria existência a partir dela: E se conseguíssemos uma comprovação científica de que há vida após a morte? E se alguém conseguisse comprovar científica e incontestavelmente que vamos para outro lugar depois que nosso corpo cessa de viver?

Calcado em boas atuações de um elenco renomado – que conta ainda com Jason Segel e Rooney Mara -, The Discovery (A Descoberta, em tradução livre) conta a história de Thomas (Redford), um cientista que, 2 anos antes, descobrira e comprovara cientificamente que a nossa jornada pela vida não termina com a morte. Isto, evidentemente, tem ramificações profundas e significativas nas vidas (e mortes) de toda a humanidade, perfeitamente sumarizadas em Will (Segel) e Isla (Mara). Destaque para a cena inicial do longa, indicativa por si só do quão poderoso um avanço tecnológico desses poderia ser para a humanidade e o quanto isso mudaria absolutamente tudo.
 Soldado do Futuro (The Machine), de 2013, dirigido por Caradog W. James

Não se engane pelo nome genérico da tradução para o português. The Machine (recuso-me a usar a tradução nesse caso) é o que é chamado de hard sci-fi, o ramo mais raiz da ficção científica e que é caracterizado pelo rigor científico do que é apresentado pela obra. Isto resta evidenciado logo nas primeiras cenas, quando o Dr. Vincent (Toby Stephens) interroga um protótipo de inteligência artificial para avaliar sua viabilidade enquanto existência autônoma, tudo entremeado com uma trilha sonora excelente e bem evocativa dos grandes clássicos do gênero.

Este filme britânico – que usa de maneira inteligentíssima seu baixo orçamento – narra a história do já citado Vincent, um cientista que trabalha no departamento de defesa de uma Inglaterra em um futuro próximo em que todo o ocidente está em guerra (e perdendo) contra a China e seus aliados. Ele é encarregado de criar uma inteligência artificial perfeita e que permita a criação de um agente cibernético também perfeito.

O longa, apesar de contar com uma sequência ou outra de violência, se concentra muito mais em diálogos bem escritos e nas questões existencialistas inerentes à boa ficção científica. E se conseguíssemos criar a vida? Pode uma vida inorgânica e artificial ser considerada um ser consciente ou devemos considerá-lo apenas uma ferramenta? A obra se torna ainda mais pertinente quando nos damos conta de que estamos cada vez mais perto de PRECISAR fazer essas perguntas.
Spectral, de 2016, dirigido por Nic Mathieu

Mudando agora totalmente o foco apresentado nas duas obras indicadas anteriormente, Spectral é ficção científica apenas na roupa. E essa roupa tem um jeito enorme de que foi desenhada nos anos 80, apesar de ter sido produzida com esmero e orçamento próprio dos longas originais Netflix. A trama é rasa, mas diverte. Tropas americanas estão na Moldávia “mantendo a paz” e “distribuindo liberdade” na guerra civil que, sabe-se lá por que, se instalou no país. Há uma nova e invisível ameaça que vem matando soldados de ambos os lados. São o que os locais chamam de Espíritos da Guerra e eles residem em um espectro alternativo ao nosso, de modo que não só não podemos vê-los como também armas convencionais não funcionam contra eles.

É então que o exército americano chama o Dr. Clyne (James Badge Dale), especialista em sei lá o quê. Ele cria um visor que permite ver esses espectros, dando aos americanos uma chance de combater os Espíritos da Guerra e tentando desmistificar o aspecto arcano que os vilões têm perante soldados e cidadãos.

E se eu não pudesse explodir meus inimigos? E se eles não pudessem ser vistos a olho nu e eu precisasse empregar milhões do departamento de defesa para tentar “trazer liberdade” a esses inimigos?

Essas são as perguntas que são feitas nesse longa, deixando claro que a questão científica aqui está relegada mesmo a só um pano de fundo que permita tiro, explosão e gente voando pra tudo que é lado. Spectral não vai te fazer questionar a sua existência e nem vai te fazer pensar muito, mas vai te divertir bastante por pouco mais de 1 hora e meia.

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