Garimpo Netflix: Um Santo Vizinho, Sonhos Imperiais e Uma Lição de Vida

No Garimpo Netflix de hoje indicarei filmes que assisti recentemente em preguiçosos finais de semana. Apesar de seus gêneros serem divididos entre comédia e drama, os três têm um denominador comum: trazem com leveza uma narrativa pró-vida. Eu me senti bem revigorada e felizinha depois de assisti-los, depois de umas lagriminhas que caíram por que eu sou mole que nem pudim.

Espero que gostem e fiquem com essa imagem de cachorrinho doidão vendo Netflix para adoçar seu dia!


Um Santo Vizinho (St. Vincent), de 2015, dirigido por Theodore Melfi

É Deus no céu e Bill Murray na Terra. Conhecido por uma extensa e respeitável filmografia, o ator é um dos caras das antigas que eu mais gosto, ao lado de Morgan Freeman e Jack Nicholson. No filme ele está na pele de um dos clichês do cinema que dão – e muito – certo: o velhote escrotaço por esporte. E que eu, particularmente, adoro. Transito entre ficar puta da cara com as inexplicáveis (talvez não tanto assim) babaquices desse arquétipo e rir deliciosamente. 

Vincent (Bill Murray) é um rabugento amargurado com a vida que só quer viver recluso da sociedade em paz, bebendo horrores e xingando sempre que possível, seja atendentes de telemarketing ou gerentes de banco. Dentro de sua infindável maré pessimista surge Maggie (Melissa McCarthy) e seu filho, Oliver (Jaeden Lieberher), como novos vizinhos. Afundado em dívidas, o ranzinza propõe ser uma espécie de babá do moleque e daí há uma sequência de maluquices por conta de sua falta de tato social. 

Tascando um belo foda-se para o politicamente correto em diversos aspectos, Vincent passa tempo com o menino e desperta uma nova amizade. Aos poucos conseguimos ver que toda aquela ‘carrancudice’ esconde um passado denso e que Vincent é mais do que parece. Um Santo Vizinho é uma comédia leve com pitadas de doçura – certamente vindas do garotinho – e divertido desenvolvimento.

Sonhos Imperiais (Imperial Dreams), de 2016, dirigido por Malik Vitthal

Se você gostou de Moonlight: Sob a Luz do Luar, certamente apreciará esse belíssimo filme original Netflix. A história ocorre numa periferia e, como o ganhador do Oscar de 2017, retrata dificuldades na vida de um negro pobre nesse contexto, assim como reflexões para além da questão racial e do preconceito. Através de muita sensibilidade e cuidado, somos apresentados à uma história comum, infelizmente comum até demais…

A narrativa é direta e certeira: Bambi (John Boyega) acabou de sair da cadeia e só quer viver dignamente para sustentar seu filho. No entanto, cercado por um bairro e ciclo social que lhe drena essa esperança, passa a ser difícil não ser tentado por erros do passado.  Fora o fato de que como ex-presidiário o acesso a trabalhos é limitado e a tolerância social é diminuída; é necessário que ele ande na linha e não deslize dela. E como alinhar as expectativas às suas necessidades de vida ? O cara quer ser escritor e não quer, de forma alguma, voltar para o crime. Mas como manter-se forte quando o caminho fodido está ali, fácil e rápido?

Sonhos Imperiais é fantástico por diluir poesia no caos. E por, acima dos tantos obstáculos que expõe, manter esperançoso o olhar para o futuro.

Uma Lição de Vida (The First Grader), de 2010, dirigido por Justin Chadwick

Revigorante e comovente, de modo que fui tomada por onomatopeias tais quais “awn” e “aiiiiiiiiiiiii” ao longo do enredo. Maruge (Oliver Litondo) é um senhor porreta que quer, ora caralhos, aprender a ler, mesmo que aos 84 anos isso pareça incogitável. Pelo menos é dessa forma que as pessoas de sua região pensam. Até que, depois de admirável perseverança, a professora Jane (Naomie Harris) o aceita como novo aluno, indo contra a repressora voz do senso comum. 

Tomando-lhe como causa, Jane segue como a campeã do velhinho, que é ex-guerrilheiro e carrega nas costa uma boa parcela de responsabilidade da conquista de liberdade do país que vive, Quênia, ex-colônia inglesa. Maruge toca não só pela gana por querer se reciclar mas pela aura plácida e sábia que o constitui. Sua sabedoria faz com que ele não seja apenas mais um aluno ali, mas, por vezes, mestre. Em sala, transmite seu conhecimento de vivência para as crianças e também adultos ao redor.

O filme acalentou meu coração de professora e também meu eterno cargo como aluna; uma história inspiradora pra aqueles dias desesperançosos em que pouco parece digno de insistência. Apreciem.

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