Crítica: My Hero Academia (Boku no Hero Academia) - 2ª Temporada
A seguir, os spoilers serão mais fortes do que o All Might e te deixarão mais sem reação do que o Eraserhead.
Quando meus alunos otakus (e acredite, são muitos) começaram a me perturbar para acompanhar o My Hero Academia tive certa resistência, especialmente por conta de alguns animes indicados por eles antes e que não foram tão bons assim. No entanto, ao começar a assistir, senti uma conexão e “maratonei”, tudo para conseguir fazer essa análise assim que saísse o último episódio da temporada.
Peço desculpas de antemão caso você tenha chegado aqui para ler o quão foda é Boku no Hero. Ele é, de fato, um bom anime de temporada, mas ainda não está no nível de outros grandes hits como o Attack on Titan (Shingeki no Kyojin), One Punch Man (Wanpanman) e Mob Psycho 100 (Mobu Saiko Hyaku). Não falo isso pelo aspecto técnico. Boku no Hero é excepcionalmente bem animado. Falo isso pelo desenvolvimento da história e seus personagens. Mesmo gostando de animes shounen, a pancadaria por si só já não sustenta tanto meu interesse (afinal já não tenho mais 12 anos – tenho 34).
A história e seus personagens são interessantes, mas do ponto de partida ao ponto de chegada eles evoluíram muito pouco. Foram 39 episódios somando as duas temporadas e ainda estamos, com exceção de 4 ou 5 personagens, com a mesma impressão deles.
Temos nessa temporada 3 arcos distintos: o Festival Desportivo (vulgo torneio) da U.A., o estágio dos estudantes nas agências e a prova final. Entremeando esses arcos nós temos o Assassino de Heróis.
O arco do Festival, embora com certas surpresas, serviu para termos mais conhecimento de personagens abandonados pela 1ª temporada. O grande destaque foi para Todoroki, que descobrimos ser filho do Endeavor (herói número 2 do mundo, atrás apenas do All Might). Sua história de vida é extremamente traumática, sendo fruto de um casamento por interesse de individualidade (tipo de poder). Descobrimos o porquê dele ter uma enorme cicatriz no rosto e nunca usar seus poderes de fogo (herdados do pai).
Passamos a conhecer os alunos da turma rival do curso de heróis, a 1-B. O que seria uma escola sem rivalidade entre turmas?! Apesar de não terem desenvolvido muito a relação entre eles, dois personagens ganham destaque: Itsuka Kendo e Tetsutetsu. Inclusive eles participam do arco seguinte, mesmo que discretamente, acompanhando algum aluno da turma 1-A.
Conhecemos também alunos de outros cursos, como a turma normal, com estudantes que não passariam na prova prática para o curso de super-herói, a turma de suporte, que desenvolve artefatos para uso em batalhas em geral, e a turma de administração, que basicamente forma empresários que vendem a imagem dos heróis. Aqui o anime levanta alguns bons questionamentos, em especial o problema da prova de seleção.
Hitoshi Shinso, do curso normal, consegue manipular a mente de qualquer pessoa caso ela responda alguma pergunta sua. É uma individualidade poderosíssima, mas que na prova de admissão contra máquinas não tem efeito algum. Quantos alunos com grande potencial estão vagando por aí pelo mesmo motivo? Mei Hatsume também ganha destaque na turma de suporte, ao conseguir chegar na parte final apenas se valendo dos seus aparatos. Infelizmente ambos somem do anime após a conclusão do festival.
O segundo arco, o do estágio, atinge seu ápice com um personagem que surge ainda no arco anterior, o assassino de heróis, Stain.
Stain possui uma filosofia de vida radical, sendo totalmente contra o que se tornou o mundo dos heróis profissionais. Com venda da imagem e a “glamourização” da profissão. Para ele um herói tem que arriscar tudo sempre, sem se importar com mídia. Nosso caminho cruza com o dele quando o Ingenium, irmão de Tenya Lida (da mesma sala do nosso protagonista Midoriya – de quem ainda não falei propositalmente), tenta escapar da tentativa de assassinato. Nosso herói termina o embate vivo, mas fica inválido e é forçado a se aposentar.
Lida assume um estágio que o leva para a cidade onde ocorreu o ataque, uma vez que ele sabe do padrão que Stain mantém, sempre atacando 4 heróis no mesmo município. Seu objetivo é a nobre vingança, que o anime rapidamente condena.
Enquanto uma série de estágios esteja tomando curso, desenvolvendo alguns personagens, ainda que de forma rasa, temos a convergência do núcleo principal na cidade onde Lida está. Ele acha o Stain, mas não consegue derrotá-lo. Justamente nesse momento, a Liga dos Vilões ataca com mais humanos artificias, que, assim como Nomu da 1ª temporada, são humanos que possuem diversas individualidades inseridas em seus corpos, mas perdem completamente a autonomia cognitiva. Para resolver o problema do ataque desses poderosos seres artificiais, Todoroki e Endeavor, que resolveram seus problemas familiares, aparecem para salvar o dia. Ao mesmo tempo Midoriya e Gran Torino (mestre de All Might) estão passando de trem quando ocorre o ataque e eles se juntam a pancadaria.
O resultado é o aprisionamento de Stain, que espalha sua ideologia pelo mundo e atrai seguidores para a Liga de Vilões, o que causa grande desconforto para um dos seus líderes (mais para membro com grande prestígio), Tomura Shigaraki, embora esses novos membros pareçam de extrema capacidade.
Chegamos ao exame final, com provas em dupla para escapar ou derrotar um professor escolhido a dedo. Aqui cabe falar de como o Bakugo é chato para um CARALHO. Seu ódio por Midoriya é algo que vai além do suportável. Os 2 compõem a dupla que tenta vencer All Might, referência para ambos como modelo de super-herói. Claro que All Might, como todo professor que mima seus protegidos, limpa o chão com Bakugo ao ponto dele não conseguir mais se mexer.
O que poderia ser um personagem de contraponto ao nosso protagonista, não tem um desenvolvimento calcado no seu desejo altruísta que exige a profissão. Muitos outros personagens também não têm, mas sempre apresentam alguma ligação externa que envolva sacrifício ou honra. Em Bakugo vemos mais um sentimento que compete com o oposto do que ele almeja ser, extremamente egoísta, individualista e com muito ódio…. um potencial futuro membro da Liga dos Vilões.
Muitos alunos tiveram partes de episódios dedicados a si, como a minha personagem favorita, Tsuyu Asui, que vai estagiar na Marinha, e o divertidíssimo Mineta, um verdadeiro zé punheta que só pensa nas curvas das mulheres que o cercam e que tem sua prova final contra a professora que usa da sedução para vencer seus oponentes.
A temporada termina com a Liga dos Vilões se preparando para um grande movimento na 3ª temporada e um belo diálogo entre o Midoriya e Shigaraki, que não se viam desde o final da 1ª temporada.
Midoriya, All Might e Gran Torino… essa relação que me fez maratonar e me fará assistir a 3ª temporada de Boku no Hero. Eu sou professor e assim como muitos professores entrei na profissão pela admiração e importância que um mestre teve na minha vida, basicamente transformando o Ryan de 2002 no Fields de hoje.
Lá na 1ª temporada vemos All Might passando sua individualidade para Midoriya, o One for All, e desde então vem tutorando o seu aprendiz. Midoriya nutre grande admiração e faz de tudo para deixar All Might orgulhoso. Isso é fundamentado, seu mestre o cobra, mas fica extremamente preocupado com a falta de condições físicas e psicológicas de seu pupilo lidar com o poder que lhe foi conferido. Muito além disso, All Might ainda retém informações importantes sobre esse poder transmitido, mas passamos a descobrir que o grande vilão, o All for One, que causou um grave ferimento em All Might, está de volta e comandando a Liga dos Vilões.
A relação entre All Might e Midoriya, que vai além da relação formal entre professor e aluno, é o que mais me atrai no anime, mostrando uma relação de mentor e discípulo com um elo muito mais forte.
Essa mesma relação aparece na admiração que All Might tem com seu mestre, o Gran Torino, que também passa a guiar Midoriya, já que All Might não tem tanta experiência como professor. Ver essa geração de heróis que se admiram e se inspiram é o que move a série.
Recentemente participei de um evento no qual todos os relatos sobre os professores que marcaram nossas vidas não tinham nada a ver com a didática e, sim, com conexão. Isso é o que My Hero Academia tem de melhor… mostrar como cada um desses professores inspiram e não o que cada um deles me ensina.
Ficamos no aguardo da 3ª temporada de Boku no Hero… Plus Ultra!
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