Crítica: Sono Mortal (Dead Awake)


Em 1984, os espectadores dos cinemas ao redor do mundo passaram a ter medo da hora de dormir. Freddy Krueger, um maníaco com lâminas nas mãos, invadia os sonhos dos adolescentes da bucólica Rua Elm e promovia um banho de sangue. A Hora do Pesadelo virou um clássico instantâneo e elevou o nome de Wes Craven no universo do cinema de terror. “Sono Mortal” embarca na onda do terror noturno, mas, infelizmente, não fará de Phillip Guzman o novo Wes Craven. Já o efeito no espectador fará jus ao título do longa.

Após perder a irmã gêmea, Kate Bowman (Jocelin Donahue) começa a investigar as mortes de pessoas que morreram dormindo e que, antes do fim, alegaram ter entrado em contato com uma força sobrenatural que os atacou enquanto sofriam uma crise de paralisia do sono. Sua busca desperta a ira da criatura, que virá com sede de sangue.

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Os leitores mais jovens não conheceram uma entidade poderosa que, durante décadas, dominou as vidas dos cinéfilos brasileiros. Ela se chamava videolocadora e atacava fortemente às sextas-feiras, quando se era possível alugar VHSs e passar o fim de semana com eles em casa. Mas ela tinha uma armadilha perigosa: filmes-bombas, que se misturavam aos outros, com suas capas e títulos berrantes. Lançados diretamente no formato, sem passarem pelos cinemas, eles seduziam o incauto locatário, que, minutos depois de enfiar as fitas no videocassete, sabia que tinha feito bobagem. Sono Mortal seria um desses monstros.

Tudo não funciona no longa. Numa perspectiva psicanalítica, filmes de terror funcionariam como totens capazes de nos fazer lidar com medos mais íntimos, sublimando-os na cerimônia pública do cinema. O roteiro de Jeffrey Reddick ignora esse potencial psicológico do gênero, transformando cada cena em um rosário de clichês e truques baratos para causar sustos. Some-se à falta de sutileza uma sucessão de diálogos que deveriam valer a desfiliação no sindicato dos roteiristas.

Os aspectos técnicos, na maioria, não são horríveis, mas também não se destacam. A fotografia revela-se apenas funcional, assim como a direção de arte e os figurinos. No campo da maquiagem e dos efeitos especiais, porém, a coisa degringola: a aparição da criatura pode causar um ataque no espectador sensível. Não do coração, mas de gargalhadas. Pense numa versão live action baixo-orçamento da bruxa má da Branca de Neve.

As atuações não ajudam muito. Em um filme cuja maior parte dos créditos mostra personagens sem nome (Homem na festa, Paramédicos, Mulher na rua, Vendedor), a protagonista não consegue passar nenhuma emoção. Aliás, ela consegue um feito: ser sem sal em papel duplo. Seu monólogo final – sim, ela tem uma cena de monólogo! – nos faz querer indicar o Cigano Igor ao Oscar (veja esta pérola das artes cênicas em ação abaixo).

Mas não sejamos injustos, Sono Mortal merece um selo MetaFictions, justamente o favorito do nosso editor Gustavo David: o selo Metafictions de Vida Saudável! Assista-o na última sessão e diga adeus ao Lexotan e ao Rivotril.

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