Garimpo Netflix: Filmes de Ação!
Esnobados pela crítica, amados pelo público e responsáveis por alçar trogloditas incapazes de falar a um nível de fama e estrelato que provavelmente não vai mais ser alcançado por nenhum outro ator, os filmes de ação apareceram timidamente mais ou menos por volta da década de 70, tomaram as bilheterias de assalto a partir da década de 80 e, hoje, com a popularização do subgênero “filme de super-herói” (que já encheu a porra do saco), estão mais fortes do que nunca.
Em sua infância, o Cinema ainda não tinha os recurso técnicos para satisfatoriamente filmar cenas de ação, o que fazia com que os gêneros mais explorados fossem a comédia, o drama e os musicais, razão pela qual Shakespeare ainda ganha de lavada em quantidade de adaptações para a telona. Foi apenas a partir da década de 60, com os grandes faroestes, e da década de 70, com os filmes policiais como os de Dirty Harry (Clint Eastwood) e Shaft (Richard Roundtree), que o gênero começou a ganhar a força que o levaria a explodir na década de 80, trazendo à fama mundial gente graúda como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone e Michael Dudikoff (Rá!).
Nada grita “Hollywood” mais alto que as muitas explosões, tiros, e um sujeito sozinho matando outros mil para, ao final, salvar uma gostosa ou coisa que o valha. É o gênero do qual todo ano saem os maiores blockbusters e também os mais fumegantes cocôs, sendo que muitas vezes ambos se confundem. Basta dizer que foi daqui que saíram lendas como Chuck Norris, Bruce Lee e Lorenzo Lamas (Rá de novo!).
A Netflix tem uma boa seleção de filmes de ação, alguns óbvios, outros nem tanto, mas nenhum tão maravilhoso quanto os 2 da série Operação Invasão (The Raid), filmes tão descacetantes que inauguraram este quadro do Garimpo na semana de estreia do nosso site. O primeiro filme só não é o melhor filme de ação feito nos últimos anos por causa da existência de “Mad Max“. Além deles, contudo, separei aqui mais três (e um bônus) para deleite dos nossos leitores e frustração das nossas leitoras.
Fiquem tranquilas, meninas, porque semana que vem sai o garimpo comédia romântica!
– Merantau, de 2009, dirigido por Gareth Evans
Se você ainda não leu o Garimpo Operação Invasão 1 e 2 linkado acima e agora, faça-o. Essas duas obras fantásticas do cinema de artes marciais só são possíveis graças a combinação entre a dupla Gareth Evans, o diretor, e Iko Uwais, o chutador de bundas. Evans, nascido no País de Gales, era um diretor freelance filmando um documentário sobre a arte marcial indonésia conhecida como Silat. Uwais era o principal aluno de uma escola da arte marcial em Jacarta e trabalhava como motorista em uma empresa de telefonia celular. Evans ficou impressionado com as habilidades do rapaz e resolveu escrever aquilo que, como acontece com uma frequência alarmante no gênero, é um arremedo de roteiro e que existe somente para dar uma desculpa para Uwais sentar a porrada em vários figurantes.
A história é o que menos importa, mas, só para cumprir aqui meu papel social, ela narra o périplo de Yuda (Uwais), um praticante de Silat em um interiorzão da Indonésia. Por causa do tal do Merantau, que é uma espécie de rito de passagem em algumas comunidades camponesas do país, Yuda vai para Jacarta. Lá ele se envolve em uma trama sobre tráfico humano e, evidentemente, arregaça muita gente na base até a luta final de cair o queixo.
Assim como nos seus filmes seguintes, que representam um salto claro de produção ao que acontece nesse Merantau, a câmera de Evans capta as cenas de luta de forma muito verossímil, chegando a dar uma certa dó da galera que está sendo brutalmente espancada. Obrigatório para qualquer fã do cinema de artes marciais.
– Dupla Implacável (From Paris With Love), de 2010, dirigido por Pierre Morel
Com um nome em português gerado pela máquina de títulos genéricos que tantos serviços prestou a esse país, Dupla Implacável conta a história de James Reece (Jonathan Rhys Meyers), um jovem e ambicioso funcionário da embaixada americana em Paris. Ele é cooptado por alguém de dentro do governo americano para trabalhar diretamente com o melhor agente deles (seja lá eles quem forem), Charlie Wax (John Travolta). Acontece que Charlie Wax é um maluco do caralho e não vai parar de matar minorias em Paris até ele descobrir uma informação que ninguém sabe realmente do que se trata até o terço final do filme.
Dupla Implacável não inventa a roda e tampouco a melhora. Mas e daí?
O longa tem um roteiro que é surpreendentemente importante para a ação e é dirigido por Pierre Morel (do excelente Busca Implacável – repare no gerador de títulos genéricos funcionando novamente), o que se percebe nas cenas de ação todas filmadas com um milhão de cortes e ângulos. Travolta está ensandecidamente à vontade na pele do careca e barbudo Charlie Wax neste filme que é um grande e extremamente violento exemplar dos clássicos filmes de buddy cop.
– De Volta do Jogo (John Wick), de 2014, dirigido por Chad Stahelski
Certamente o mais conhecido dos filmes aqui indicados, John Wick é um caso curioso. Mesmo contando com uma estrela da grandeza de Keanu Reeves como seu protagonista, o longa praticamente não teve distribuição no Brasil. Mesmo nos EUA, os distribuidores não apostavam muito em seu sucesso e também não deram a ele a distribuição que, geralmente, filmes de ação com nomes conhecidos recebem. Mesmo assim, devido exclusivamente à qualidade do que foi filmado, John Wick se ergueu além do que o pessoal do marketing esperava e tornou-se um filme cultuadíssimo nas internetes.
E isso ocorre por um motivo muito muito simples. John (Reeves) mata 77 pessoas no longa (tudo ilustrado por este utilíssimo gráfico) das mais variadas formas, em cenas cenas sempre inventivas, verossímeis e violentíssimas. Chad Stahelski é um dublê a quem foi dado carta branca para fazer um filme de ação. E o resultado é essa pérola do cinema de ação, um dos melhores filmes do gênero dos últimos anos. O sucesso foi tanto que foi até mesmo lançada uma continuação este ano (aqui no Brasil chamada de John Wick 2 muito embora não tenhamos tido um título chamado puramente John Wick), devida e positivamente resenhada por mim mesmo. A propósito, neste novo, Wick mata 128 pessoas.
Um outro diferencial desta obra é que, além ir na contra-mão da cartilha do gênero e optar por cenas sem cortes, ela tem um cuidado maior com o roteiro, apresentando toda uma mitologia de um mundo no qual há uma espécie de código que rege toda a organização criminosa mundial. Este aspecto, contudo, é mais explorado no segundo filme e provavelmente será ainda mais aprofundado na série de TV que já está sendo produzida. Quanto a este primeiro filme, sua sinopse é simples: John Wick, um assassino aposentado, se vê obrigado a voltar à atividade para se vingar de quem roubou seu carro e, principalmente, assassinou brutalmente seu cachorro.
– Hardcore: Missão Extrema (Hardcore Henry), de 2015, dirigido por Ilya Naishuller
Ilya Naishuller é guitarrista e cantor da banda russa de punk-eletrônico (ou seja lá que porra de gênero for esse) Biting Elbows. Foi por causa disso que, em 2013, ele escreveu, dirigiu e estrelou o videoclipe da canção Bad Motherfucker, que viralizou mundo afora ao mostrar, nos seus 5 minutos, um sujeito matando muita gente (e um par de peitos sensacional no minuto 2:37 – de nada) em sequências frenéticas de ação. O diferencial é que – certamente inspirado nos jogos de FPS como Doom, Call of Duty e Halo – todo o clipe é feito em primeira pessoa. Ilya foi aclamado por muitos nomes do mundo do Cinema e o inevitável aconteceu.
Tendo seu compatriota Timur Bekmambetov (diretor de “O Procurado” e do remake de “Ben-Hur“) como padrinho, a Ilya foram dados 2 milhões de dólares para fazer um filme. E daqui nasceu “Hardcore Henry” (cujo nome em português é tão patético quanto o roteiro), abrilhantado pelas presenças delirantes de nomes conhecidos como Sharlto Copley e Tim Roth. Como nos videoclipes de sua banda dirigidos por Ilya, a ação toda é passada em 1ª pessoa, com o diretor favorecendo a estética em detrimento de qualquer conteúdo em cenas insanas de ação. A trama, como sempre, é um detalhe, mas aqui vai: Henry (o próprio Ilya) ressuscita num laboratório e descobre que precisa salvar a sua esposa de um general com poderes telecinéticos e que tem um plano de criar soldados perfeitos em laboratório.
Como dito, o roteiro, em filmes assim, é o que menos importa.
Nota do Editor: Eu tinha escrito tudo isso sobre o filme acima antes de me dar conta que a Netflix o removeu. Então eu pensei: “Foda-se”. Cá está mais uma indicação bônus. De nada novamente.
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