Garimpo Netflix: Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar, O Jardim das Palavras e A Casa de Pequenos Cubinhos
No Garimpo Netflix de hoje trago três títulos japoneses (para a alegria dos otakus e do Ryan), cada um com sua peculiaridade de duração e temática. De maneira curiosa, pois não foi intencional, cada um fala de uma perspectiva etária diferente e, portanto, de fases distintas da vida. O primeiro, Ponyo, dirigido pelo aclamado Hayao Miyazaki (de “A Viagem de Chihiro“, entre muitos outros), conta uma história fofinha a partir de uma criança. O segundo expressa através da voz de um menino de 15 anos vicissitudes de seu universo. Por último, trago um curta que te fará chorar ou pelo menos amolecerá o coração em singelos 12 minutos, pondo no holofote a história de um idosinho.
– Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no ue no Ponyo), de 2008, dirigido por Hayao Miyazaki
Awn! Mas ora se Ponyo não é uma espécie de Pequena Sereia oriental, só que BOM?
Na história temos um menino que vive numa pacata cidadezinha litorânea e que começa a ser amigo de uma peixinha. Através de um olhar sensível somos tomados por uma relação abstrata mas adorável, tão doce que por um momento eu só queria ter uma peixinha dourada como melhor amiga. Ponyo, como o menino nomeia sua amiga, se apaixona da maneira mais genuína possível pelo menino. E é movida por este sentimento que tenta tornar-se parte de seu universo de humanos, sem antes enfrentar as adversidades dessa escolha. Cabe aos dois balancear o quanto se precisam e manter a rotina daquele lugar.
– O Jardim das Palavras (Koto no ha no niwa), de 2013, dirigido por Makoto Shinkai
https://www.youtube.com/watch?v=7b1NxEEHZ0g
Em dias chuvosos, um menino de 15 anos prefere cabular aula em um bonito jardim, onde escreve, reflete e ouve o som da chuva como trilha sonora de seu momento de solidão. Até que uma professora do mesmo colégio que estuda passa a frequentar seu esconderijo. O que uma mulher de 27 anos pode ter em comum com o adolescente? E a resposta é: anseios. Medos. Dificuldade de sentir-se parte. Apesar da diferença de idade, ambos encontram-se mais humanos que nunca e é isso que faz com que o jardim se torne um confortável refúgio.
Igualmente sensível (como todos os títulos do quadro de hoje), O Jardim das Palavras mostra que por mais sozinho que você esteja, pode ter alguém ali passando por sentimentos similares. Um exercício de aliteridade delicado e belo.
– A Casa de Pequenos Cubinhos (Tsumiki no ie), de 2008, dirigido por Kunio Kato
Nesta pequena obra nostálgica, ganhadora do Oscar de melhor curta animado de 2009, um velhinho revisita suas memórias, alagadas pelo tempo e aqui representadas com a água dificultando seu acesso. A prática de visita ao passado requer cuidado e paciência, pois nem sempre há de ser uma experiência inteiramente boa – em especial pelo contraste com o presente e pela possível reflexão sobre o futuro.
Há uma palavra inventada, fruto do Dicionário das Tristezas Obscuras (ai como eu amo essas invenções!), que é a “ambedo”. Sua definição diz algo como uma imersão à melancolia na qual somos absorvidos pelos pequenos detalhes sensoriais aos que ela é conectada. Sabe minúsculas memórias que invadem quando ouvimos uma música, pegamos um objeto ou sentimos um cheiro? Pois é. Para mim, esse curta nada mais é que o audiovisual dessa definição.
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