Garimpo Netflix: Um Brinde, Love e O Agora

Conforme prometido no Garimpo Netflix: Filmes de Ação da semana passada, hoje – após tanta porrada, tiro e sangue – é o dia do amor. Na minha condição de macho, brocador e de quem chorou uma única vez em sua vida no cinema ao ver um filme do Steven Seagal em que o cachorro dele morre, confesso que foi difícil conseguir achar filmes a serem indicados. Assim como acontece com os filmes de ação e os de terror, a comédia romântica é formulaica ao extremo e, também como nos gêneros que citei, a maior parte de sua produção é sofrível justamente por isso, já que qualquer porcaria sempre terá seu público fiel, por pior que sejam o elenco, roteiro e afins.

E, quando não é este o caso, todo mundo já conhece o filme. A Netflix até que tem um bom catálogo de filmes com esse viés, a maioria deles já conhecidos do grande público – (500) Dias com ElaAmor a Toda Prova, Amor e Outras DrogasAmor Sem Escalas, por exemplo – e muitas bombas. Neste emaranhado, conseguimos aqui separar três obras únicas, dois longas e uma série, que misturam a comédia com o romance, passando longe dos clichês ou usando-os ao seu favor. Em comum, além do fato de que todas flertam pesadamente com a comédia e com o romance, é que todas são abrilhantadas por elencos excelentes.

Aproveitem!


Um Brinde À Amizade (Drinking Buddies), de 2013, dirigido por Joe Swanberg

Kate (Olivia Wilde) e Luke trabalham (Jake Johnson) juntos em uma cervejaria artesanal de Chigago e passam a maior do tempo enchendo suas caras e dando a maior pinta de que foram feitos um para o outro. Kate, contudo, namora com Chris (Ron Livingston) e Luke com Jill (Anna Kendrick), duas pessoas que, por sua vez, parecem ter muito a ver um com o outro. Vocês já entenderam aonde isso está indo, né?

É aí que está a beleza deste filme. Ao contrário do que a fórmula da comédia romântica exigiria, as coisas não acontecem exatamente como esperamos ao mesmo tempo que também acontecem, exatamente como é na vida. Calcado em belíssimas imagens de cervejas douradas e apetitosas, em um elenco azeitadíssimo (com destaque para Jake Johnson) e em diálogos muito bem escritos, Um Brinde À Amizade é também um brinde aos bons roteiros e à realidade da vida de cada um de nós, fugindo surpreendentemente dos clichês do gênero.

Love, de 2016- (2 Temporadas), criado por Judd Apatow e Lesley Arfin

https://youtu.be/2tV1zi0IbCk

Série original Netflix, Love é uma daquelas séries excelentes de se maratonar, já temos até agora duas temporadas (com uma terceira já no forno) e 22 episódios de 25 minutos em média. A série nos conta os encontros e desencontros de Mickey (Gillian Jacobs), uma puta louca viciada em drogas e sexo, e Gus (Paul Rust), o virjão mais escroto e comedor do qual já se teve notícia. Um belo dias eles se esbarram e daí em diante parecem estar irremediavelmente atraídos um ao outro.

Love é, a bem da verdade, um puta duma DR gigantesca dividida em duas temporadas e com uma terceira vindo. O diferencial é que ela foi criada por Judd Apatow, responsável pelas melhores e mais escrachadas comédias americanas dos últimos tempos como “O Virgem de 40 Anos” e “Superbad“. Isso faz com que a tal DR seja verborrágica, cheia de palavrões e putaria. Apesar do roteiro às vezes ser um pouco forçado ao criar as situações de conflito que vão polarizar os espectadores entre Team Mickey e Team Gus, Love é uma série gostosa de se assistir e, de forma muito leve, também convida à várias reflexões sobre relacionamentos.
O Maravilhoso Agora (The Spectacular Now), de 2013, dirigido por James Ponsoldt

Em 2014 Miles Teller estourou ao mundo com o fenomenal WhiplashShailene Woodley se tornou estrela de primeira grandeza com a série “Divergente” e Brie Larson despontou logo com um merecidíssimo Oscar por seu sensacional trabalho em O Quarto de Jack. Um ano antes disso tudo, os três – apoiados pelos excelentes Kyle ChandlerJennifer Jason Leigh, Mary Elizabeth Winstead e Bob Odenkirk – estrelavam esta dramédia romântica e, não por acaso, entregam, sob a batuta de James Ponsoldt, uma das mais tocantes, reais e verdadeiras obras do gênero dos últimos anos.

Feito de forma semi independente, O Maravilhoso Agora conta a história de Sutter (Teller), o garoto popularzão da escola, namora a mulher mais gata (Larson) e está prestes a chegar àquele momento tão retratado na cinema americano: a formatura do colégio e a decisão sobre faculdade, trabalho, enfim, sobre o que fazer agora que, oficialmente, se é um adulto. Sutter, contudo, vive à sombra do abandono do pai (Chandler), e parte da filosofia de que o que importa é o (maravilhoso) agora. Quando ele termina com sua namorada e conhece a mais linda outcast do mundo (um dos poucos clichês do gênero que aparecem aqui), Amy (Woodely), suas certezas próprias da idade são abaladas e ele passa a questionar toda a sua vida.

Mesmo com uma premissa que talvez pareça um tanto clichê, o roteiro consegue positivamente se valer deles em favor da história de forma natural, valendo-se fortemente da química gritante da dupla de protagonistas e em muito ajudada por uma direção segura.

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