It: A Coisa (It)
Os leitores que acompanharam o Nostalgia de ontem – sobre “It: Uma Obra Prima do Medo“ – puderam perceber o quanto aquele filme foi responsável pela construção de alguns de meus maiores medos de infância. Hoje, 27 anos depois, reencontro a história original de Stephen King, com nova roupagem, porém: a partir da expressão de Andy Muschietti, também conhecido pela direção de “Mama“, obra que marcara sua estréia nos longa-metragens. Devo alertar, no entanto, que o presente review não fará qualquer comparação à primeira produção (o que acontecerá em breve, em mais uma publicação do nosso RPR, toda voltada exatamente para isso).
It: A Coisa é um filme de terror com palhaço, balões e crianças. Assim como você, eu sou um assíduo espectador de filmes desse gênero e sei que tais elementos podem já estar por demais batidos. Mas, como venho dizendo, tudo depende de como você conta uma história. E essa obra não apela para comodismos, muito embora em um momento ou outro haja uma recaída. São sete personagens daqueles vistos pela sociedade americana como losers (perdedores, em tradução literal) e que necessitam lidar com as perseguições diárias dentro da escola. Mais do que isso, para além dos portões do educandário, também não encontram paz sequer dentro de casa. Esses sete representam, cada qual, uma minoria específica: a mulher, o negro, o gordo, o gay, o judeu, o gago e o quatro-olhos nerd (muito bem atuados por Sophia Lillis, Chosen Jacobs, Jeremy Ray Taylor, Jack Dylan Grazer, Wyatt Oleff, Jaeden Lieberher e Finn Wolfhard, respectivamente; este mais conhecido por seu papel em Stranger Things).
Dentre eles, o protagonista mais principal (vamos chamar assim), Billy (Lieberher), tem que conviver com a perda do irmão menor, desaparecido enquanto brincava com seu barquinho de papel pelas ruas molhadas de um dia de chuva naquele bairro pacato. Barquinho este confeccionado carinhosamente pelo próprio Billy. Daí a culpa auto-imputada pelo responsável irmão mais velho. O que não sabiam, até então, é que a abdução do pequeno garoto havia sido realizada por uma criatura monstrenga que se apresenta como um palhaço: Pennywise (belamente incorporado por Bill Skarsgård). Com o passar do tempo, Billy e seus seis amigos sofrem investidas do palhaço-monstro, seja em situações que sugerem alucinação (nas quais o maior medo de cada um é encarnado), seja em momentos de real caça do brincalhão diabólico. Dessa forma, vivem tentando escapar dos babacas da escola, dos seus conflitos pessoais e do cabeçudo pintado de branco e vermelho. Esses problemas unem o grupo, que se fortalece em meio às tentativas de destruição que passam.
Tecnicamente impecável, contando com a direção de fotografia de Chung-hoon Chung, o filme traz belas imagens que criam uma atmosfera muitas vezes diferenciada, levando o espectador a níveis maiores de inserção à história. Extremamente convidativo, tal qual as sedutoras invitações de um palhaço (não para mim, no entanto, que os odeio com força determinada), It: A Coisa vai levando o público como se flutuassem em balões coloridos para, então, sofrerem o choque inesperado de uma brincadeira de péssimo gosto. É quase um espetáculo circense em muitos momentos, com diversas piadas (no corpo de Finn Wolfhard), que chegam a quebrar a tensão construída até então. Entre risos e gritos, é certo que o horror vence a comédia nesta obra firme como os desejos grotescos do palhaço teimoso.
Na história, Pennywise ressurge a cada 27 anos. It: A Coisa estréia 27 anos após o meu pessoal criador de medos “It: Uma Obra Prima do Medo”. Na conclusão deste remake, o nome do filme, imponente na tela, divide seu espaço com a inscrição “capítulo I”. Deveríamos, portanto, supor que reencontraremos o detestável maquiado daqui mais 27 anos? Espero que não; que seja antes.
Mas continuo com a certeza de que, assim como 27 anos atrás, em 27 anos para frente esta frase continuará valendo…
Eu odeio palhaços!
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