Crítica: Logan Lucky - Roubo em Família

Conhecido do público em geral pela série de filmes Onze, Doze e Treze Homens e um Segredo, Steven Soderbergh é um caso um tanto peculiar em Hollywood. Ao mesmo tempo que é capaz de dirigir filmes voltados quase que exclusivamente ao entretenimento como a série acima citada, com orçamentos nababescos e grandes astros, ele também é um dos papas do cinema independente americano, capitaneando obras tão emblemáticas quanto “Sexo, Mentiras e Videotape“, além de ser também responsável por alguns filmes que transitam muito bem entre o autoral e o entretenimento, como “Erin Brockovich” e “Traffic” (pelo qual ganhou o Oscar de direção).

Este Logan Lucky – Roubo em Família – apesar de ter alguns elementos comuns ao cinema independente americano e ser uma peça com a cara de Soderbergh – é, inegavelmente, um filme que objetiva primordialmente o entretenimento. E é excelente que seja assim. Temos aqui uma versão jeca de Onze Homens e Um Segredo e, em momento algum, qualquer esforço é feito para se esconder isso.

Os Irmãos Logan.

Onde antes tínhamos George Clooney como a cabeça pensante de um roubo triliardário e glamouroso, com um elenco coadjuvante com Brad Pitt e ternos, muitos ternos, aqui temos Jimmy Logan (Channing Tatum) como um desempregado fodido, que dirige uma F-150 83 e que resolve não roubar um cassino super chique, mas, sim, o evento que é mais representativo do famoso white trash americano: uma corrida de Nascar.

Jimmy é demitido do seu emprego de operador de escavadeira numa obra de reparos do sub-solo do autódromo de Charlotte, na Carolina do Norte. De uma forma meio que do nada e um tiquinho forçada, Jimmy – que nunca foi criminoso de carreira e só porque quer ser um bom pai para a sua filha – observa uma falha nessa obra e entende ser possível explorá-la para roubar toda a grana arrecadada pelos bares e lanchonetes do autódromo em dia de corrida.

Para tanto, ele recruta a ajuda de seu irmão Clyde (Adam Driver), um barman de um braço só que sustenta que a família Logan carrega consigo uma maldição perene, o que explicaria ele ter perdido seu braço e Jimmy ter destruído o joelho em um acidente, impedindo-o de ir adiante com sua carreira de jogador de futebol americano, o que explica o trocadilho do título do filme (lucky quer dizer sortudo).

Juntos, eles ainda vão contar com o expertise de Joe Bang (Daniel Craig, hilário), um arrombador de cofres que está preso, e arregimentam a ajuda de uma porrada de gente, em um número total de participantes do roubo de quase 11, sendo esta, na estrutura, a única diferença para a mais conhecida série de filmes do diretor.

Aqui, tal qual lá, o filme todo segue a tradicional estrutura dos filmes de assalto ao mostrar um arremedo de motivação, depois a preparação, execução e as consequências do assalto, tudo, contudo, contando com a competente, ágil e divertidíssima direção de Soderbergh. Sobra tempo até para uma piada hilariante durante uma pseudo-rebelião numa carceragem em que os detentos ficam putos da cara por causa da demora de George R.R. Martin em lançar o novo volume da série Game of Thrones, refletindo, desta maneira, todo o desespero e ansiedade da sociedade global.

Trata-se aqui de um filme feito com muita competência por todas as partes envolvidas, apoiado não só em um roteiro e direção ágeis, mas em interpretações em tons muito apropriados para os personagens propostos. Além dos 3 principais, o elenco, como costuma acontecer nas produções do diretor, ainda conta com nomes grandes e consagrados do show business americano como Riley KeoughKatie HolmesHilary Swank e um irreconhecível Seth MacFarlane (Family Guy, Ted…) como um metidíssimo e inglês patrocinador de equipe de corrida.

Mais uma vez, Soderbergh entrega um filme engenhoso e divertido, sem qualquer pretensão de alçar voos maiores do que o de ser apenas uma muito competente peça de entretenimento, tendo sucesso inegável em sua empreitada. Dependendo do faturamento do filme (que não vem sendo bom no mercado americano), podemos nos preparar para uma sequência, sendo certo, ainda, que a aposentadoria anunciada pelo diretor há alguns anos foi engavetada de vez, já que há pelo menos mais 3 projetos em andamento.

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