Crítica: A Morte Te Dá Parabéns! (Happy Death Day)

Em 1993, Harold Ramis lançava o bom filme “Feitiço do Tempo“, no qual um metido jornalista interpretado por Bill Murray ficava preso em um dia específico, dentro de uma cidade que ele abominava por completo. Completamente desesperado para sair dali, o personagem acordava sempre na mesma data. Até que ele percebia que aquelas eram chances que tinha para melhorar enquanto pessoa e só assim ele conseguiria seguir em frente.

Em 1996, o icônico Wes Craven lançava Pânico, obra esta que inovaria o específico gênero “terror adolescente”, em que jovens eram perseguidos por um mascarado com um generoso facão, pronto pra espetar geral. Fatalmente, o espectador passaria o filme todo tentando descobrir a identidade do psicopata e esta só seria revelada (certamente) na conclusão, não raro, com uma surpresa de cair o queixo “oooohhhh!”.

Aí, nesse exato momento, o caro leitor destas linhas para, confirma que está no review correto e pensa “mas de que diabos esse anormal está falando, se no título do presente texto consta A Morte Te Dá Parabéns!“. É que o roteiro de Scott Lobdell parece fazer um mix de ambas as produções supracitadas. Não há aqui, porém, qualquer juízo de valor acerca disso. Como já falei à exaustão (e repito mais uma vez, chegando ao contado número de 7590 vezes), todas as histórias imagináveis já foram contadas.

Olha lá o bate-bola bem no canto do seu quarto.

De cara somos apresentados à Tree (a simpática Jessica Rothe), que acorda em um quarto masculino de faculdade. Do outro lado do cômodo, está Carter (o carismático Israel Broussard), o típico virjão que não sabe chegar numa mulher e, provavelmente, resolve suas necessidades no bom e velho “cinco contra um”. A explicação é que na noite anterior, Tree esteve tão bêbada que sequer lembrava de como fora parar ali. Rapidamente, sai a caminho de sua “casa”, uma daquelas mansões esquizofrênicas com nomes de letras gregas, tipo kapa-xota-pica-rola-bunda ou algo que o valha, sempre presentes em histórias americanas (um daqueles elementos de imbecilidade inerentes aos vizinhos do norte). No curto trajeto até o templo das vaidades e da ode ao vazio humano, já percebemos que Tree se trata de uma daquelas garotas insuportáveis, dignas de carregar o título grego já mencionado.

Acontece que naquela data ela encontrará um mascarado que lhe colocará em contato com uma afiada lâmina a lá MasterChef. Logo em seguida, ela acorda no quarto de Carter, o virjão do “cinco contra um”, repetindo o mesmo dia. Chegamos, portanto, ao conflito: de maneiras diferentes, a conclusão será igual e ela terá que fazer de tudo para descobrir a identidade do garoto-propaganda da Tramontina. Ao longo dessas repetições, aquele ser insuportável recheado de vazio começa a ser preenchido por uma pessoa dócil que encontrará sua redenção (não é spoiler, camarada; é só um filme americano e nada mais). Eu, inclusive, já havia imaginado que assim seria, desde as primeiras cenas, pois minha mente rapidamente fez uma ligação direta com o “Feitiço do Tempo“.

Tree, a popular, e Carter, o virjão.

Christopher Landon segue a fórmula, imprimindo o suspense necessário, não deixando de lado as gags imprescindíveis em uma história desse tipo, fazendo, efetivamente, o mix entre os dois filmes aludidos durante a introdução. Aliás, a referência é tão explícita que os próprios personagens, durante um diálogo, comentam “isso tudo está me parecendo aquele filme Feitiço do Tempo” (pelo menos, os caras deram o devido crédito).

A Morte Te Dá Parabéns! se apresenta, portanto, como um daqueles fillers (filmes para compor determinado número de um certo gênero com seu nicho fiel) que diverte a galera num sábado à noite, mas que, para além disso, não vai dizer muita coisa. É bem possível que, assim como Tree, você passe por algumas cenas com a plena sensação de estar revisitando aquela narrativa.

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