Garimpo Netflix: Terror e Suspense

Como temos pontuado sempre, um dos grandes nichos do Cinema é o gênero suspense/terror. De tal modo que produções de curta-metragem que circulam pela internet conseguem uma quantidade de visualização excessiva quando apresentam esta estrutura. Além disso, quase semanalmente um título novo sai nos cinemas. Apesar disso – ou talvez até por isso – raros são os casos em que um filme desse tipo é, de fato, bom. Pensando naqueles que conseguiram escapar da armadilha comum ao gênero e tendo em mente o espectador, por vezes sedentos pelas obras de qualidade, lançamos este Garimpo exclusivamente de suspense/terror.


Caso 39 (Case 39), de 2009, dirigido por Christian Alvart

https://www.youtube.com/watch?v=Ok-5lWGBQr8

A narrativa segue com a seguinte premissa: a assistente social Emily Jenkins (Renée Zellweger) acompanha, determinada, os recentes acontecimentos de uma criança adotada por um casal supostamente abusivo. Introspecção, péssimo rendimento escolar, aparentes maus tratos sofridos pelos seus pais são os elementos que compõe a indefesa menina. Após conseguir retirar sua guarda deles, Emily se torna a responsável pela criança enquanto procura um novo lar para ela, mas começa a perceber que a história era um tanto diferente do que imaginara. Situações cada vez mais estranhas e grotescas começam a preencher o cotidiano da protagonista e de seus companheiros de trabalho.

O instinto protetor para uma criança indefesa.

Após sermos apresentados a uma sequência inicial de literalmente tirá-lo da cadeira, ansioso e desesperado para evitar que o desenrolar da cena, de fato, chegasse ao seu auge, o filme segue o padrão dos gêneros suspense e terror. Para alguns, as soluções podem parecer triviais, mas a mão firme do diretor faz com que a história nos seja contada de maneira sólida, por vezes, gerando essa sensação descrita. Ficamos, constantemente, com o impulso de querer fazer parte da narrativa, de modo que pudéssemos alertar os personagens acerca do que estão a fazer. Mas, assim como eles, também seríamos enganados por facetas jamais imaginadas previamente.

Os Estranhos (The Strangers), de 2008, dirigido por Bryan Bertino

Debutando na direção cinematográfica, Bryan Bertino narra a história, por ele escrita, de um casal comum, Kristen (Liv Tyler) e James (Scott Speedman). Somos apresentados, logo no início, a uma crise momentânea do relacionamento deles: através de um único flashback silencioso (como é a maior parte da obra) em todo o filme, sabemos que Kristen negara um pedido de noivado de James. Apesar do bruto “não”, é evidente que eles se amam; porém, da mesma forma, é claro o abalo sofrido pelo namoro.

Chegados a sua casa de campo, um tanto quanto isolada até mesmo de seus vizinhos, eles tentam esquecer o ocorrido, enquanto degustam um pouco da privacidade que a locação os dá. É nesse momento que são surpreendidos por uma batida à porta, tarde daquela noite. Ao abrirem, estranhando a situação, se deparam com uma mulher, cujo rosto está escondido na penumbra daquela escuridão: “Is Samara home?” (já vi esse filme há muito tempo, mas há coisas que não esqueci jamais!). Sem entender, pelo fato de não haver qualquer “Samara” ali, eles se livram educadamente daquela presença bizarra. É a partir daqui que tudo começa.

“Because you are home”.

Sem motivações, sem explicações, sem qualquer coisa, o casal é atacado, dentro de seu próprio lar, por um grupo de três mascarados. Não há nada sobrenatural aqui (a não ser a essência grotesca do ser humano), apenas um trio de estranhos que testa os limites daquele par. Dirigido com extrema solidez, o filme nos deixa tal qual os protagonistas, levando-nos ao extremo, desesperados com as situações que vão se desenvolvendo dentro daqueles cômodos. Se você acha que a sinopse não inspira grandes coisas, apenas assista ao filme e deixe-se levar pelo conto assustador e profundo de Bryan Bertino.

O Babadook (The Babadook), de 2008, dirigido por Jennifer Kent

https://www.youtube.com/watch?v=VQw6y5vgUPU

Em seu primeiro longa-metragem, Jennifer Kent estrutura uma narrativa com os principais elementos do suspense/terror para contar os dramas de uma mãe e seu filho, em uma luta interna (bem como externa) de cada um aprendendo a lidar entre si e com a ausência do chefe da família, vítima de um acidente de carro a caminho do hospital quando ela daria à luz ao então bebê. Samuel (sinistramente interpretado por Noah Wiseman), o tal bebê agora com seis anos mais velho, é um símbolo dicotômico para sua genitora Amelia (em excelente atuação de Essie Davis): ao passo que marca uma nova vida, ele também é a lembrança da tragédia, visto que a perda se deu no mesmo dia do nascimento. Um ciclo metafórico assustador, que será ainda mais grotesco à medida em que ambos começam a perceber a presença de alguma entidade.

“if it’s in a word or in a look you can’t get rid of the Babadook”.

A relação abalada de mãe e filho, este com uma personalidade, por vezes, mais assustadora do que a própria entidade, fazem do filme um terror psicológico da melhor qualidade. Elementos como o livro infantil, intitulado The Babadook, que exponenciaria os medos da criança, a própria aparição sobrenatural (o personagem deste livro “encarnado”) e os nervos de cada personagem no limite vão nos colocando em contato com a loucura de cada um, que parece querer tomar conta da situação.

Para além de um mero filme de terror comum, The Babadook apresenta uma história de extrema profundidade, tocando em pontos delicados das relações humanas, bem como da natureza de cada um. Não à toa, considero-o um dos melhores filmes de terror já produzidos neste século até o momento. Se não, o melhor.

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