Hannibal: A Mórbida Beleza do Dr. Lecter
Muitas das grandes obras do Cinema Mundial são propostas com a presença de um antagonista. Não é, necessariamente, um ser vivo. Pode ser desde uma doença até um deus, porém o propósito está lá, antagonizar com o protagonista da história. Desde a Bíblia, havia a existência de um antagonista, aquele que detinha as características perversas, aquele que transmitia o mal e coisas ruins. Ele pode ser chamado de diversas maneiras e nomes, seja diabo, demônio, lúcifer, satanás, entre várias outras. Uma das características que são comuns aos mais memoráveis vilões da história do Cinema é a sedução, a capacidade de convencer o outro (e a plateia) de que se está certo, por mais absurdas que sejam seus feitos.
Já dizia Yoda: “O lado negro não é mais poderoso, apenas mais rápido, mais fácil e mais sedutor.”
Essas e outras características fazem com que o Dr. Hannibal Lecter seja um dos mais clássicos, perversos e incríveis vilões do Cinema e da TV. Interpretado no cinema primeiramente por Brian Cox no obscuro Caçador de Assassinos de 86, depois consagrado por Anthony Hopkins nos aclamados O Silêncio dos Inocentes, Hannibal e Dragão Vermelho, apequenado por Gaspard Ulliel no esquecível e caça níquel Hannibal – A Origem do Mal; e finalmente abrilhantado por Mads Mikkelsen por 3 temporadas naquela que foi votada a melhor série do século XXI até aqui no MetaFictions, Hannibal Lecter é um psiquiatra que tem um desejo de se alimentar por carne humana. Nada mais é necessário saber.
2 Coríntios 11:14: ” E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz.”
Hannibal é um homem um tanto atrativo, apaixonado por música vinda de um violino, um incrível desenhista e esbanja ternos finos. Está sempre bem arrumado, seu jeito de se apresentar e socializar demonstra seu caráter delicado e bem educado. E, além disso tudo, é um ótimo cozinheiro. Nota-se que, com suas habilidades e seu jeito, este doutor consegue atrair e convencer os outros da pessoa que ele não é. Estabelece-se com esta característica o fator de sedução próprio do mal.
Uma das coisas mais brilhantes do personagem é a sua profissão. Quando se está na sala de um psiquiatra, a sua intenção é revelar suas questões pessoais, desabafar, deixando aquele profissional adentrar seu mundo e entender suas dores, com a finalidade de lhe ajudar. Ele não precisa ser seu amigo mas acaba se tornando alguém de confiança. Ao tratarmos de alguém que possui hábitos psicóticos, como a sua predileção por se alimentar de carne humana, o caráter da profissão é completamente subvertido. Uma das genialidades postas no personagem.
Ainda no tópico de sua profissão, é interessante ressaltar que o psiquiatra é o que está atuando racionalmente na sala, enquanto o paciente está abalado e tomado pela emoção irracional, este, então, não tem consciência de suas ações e não analisa as respostas do doutor de maneira crítica, permitindo ao profissional tomar conta da situação e talvez piorá-la, o que também é um artifício desfrutado pelo nosso vilão em questão.
Ao analisarmos as especificidades da versão de Hannibal interpretada por Anthony Hopkins, notamos uma particularidade um tanto quanto sutil, porém, realmente, perturbadora. O personagem raramente pisca, deixando os olhos do ator medonhos. Somando este fator com a característica de formalidade do personagem, ao primeiro relance, a sensação transmitida é de desconforto pois parece que o vilão é uma estátua e não possui emoção, e este detalhe é início do temor que se sente sobre o personagem.
“Só é canibalismo se formos iguais.” – Hannibal Lecter.
Esta frase demonstra um motivo filosófico por trás do canibalismo de Hannibal. Ele se enxerga como um ser acima do nosso mundo, pois ele consegue notar os defeitos da sociedade. Na filosofia do vilão ele não atua como um canibal, ele se vê como um predador, tentando sobreviver. Para ele, a carne humana é a nossa carne bovina. Hannibal não atua por maldade, ele atua por instinto e por fome.
Meu querido mestre Ryan Fields costuma dizer o seguinte: “Sem desmerecer a grandeza e importância do mestre Anthony Hopkins, que com pouquíssimo tempo de tela imortalizou o personagem no nosso imaginário, a referência dele de Dr. Lecter é a baseada na atuação de Mads Mikkelsen. É na série Hannibal que vemos o aprofundamento da psique desse gênio (em diversas áreas do saber humano), enquanto ele e Will Graham desenvolvem uma relação simbiótica que culmina com a mais sexual cena já vista na TV, apesar de nenhum sexo ser feito.. O que eu não daria para estar sentado à mesa em um dos seus banquetes, mesmo sabendo a origem das iguarias servidas. Quem sabe, talvez, compor o próprio cardápio?”
E é somente ao assistir as obras do psiquiatra canibal que se pode fazer o carneiro ficar em silêncio.
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