Nostalgia: A Lenda (Legend)
Contemple o seguinte cenário:
Uma menina de 10 anos de manhã cedo, durante as férias, entra no quarto que divide com seu irmão. Ela o encontra lá, dormindo. Enquanto ela se penteia em frente ao espelho ele começa a balbuciar algumas palavras. Ao se aproximar ela escuta: “me ajuda… diabo… me alcançar… socorro” e seu irmão começa a chorar, enquanto se mexe na cama. Ela sai correndo para chamar sua mãe. Ao chegarem de volta ao quarto, a menina e a mãe sentam na cama em volta do garoto de 12 anos que continua a pedir ajuda. Ambas começam a rezar e, momentos depois, o menino acorda sem entender muito bem porque sua mãe e irmã estão ao seu redor e de mãos dadas.
Esse breve relato ocorreu com o jovem Fields e sua família em meados dos anos 90. Tamanho o impacto de A Lenda, filme homenageado de hoje, teve em sua psique.
Incrivelmente ele não viu o longa com essa idade pela 1ª vez, mas, sim, o assistiu algumas vezes durante a 1ª metade de 1990 (o filme, como você pode ver na ficha, é de 1985). Embora suas fobias girem em torno de 3 grandes filmes, todos sendo de terror e/ou com aliens e voltados para um público adulto, A Lenda fomentou em seu cognitivo, ainda em desenvolvimento, o medo personificado do Diabo, uma vez que ele ainda era uma criança ligada à religião.
Embora o longa seja de classificação etária livre, temas e ambientes criam uma atmosfera que, para uma criança de 8 anos, tornam tudo muito crível. Como se aquele terreno baldio da sua rua pudesse esconder tal universo. Salvo as devidas proporções, seria tão impactante quanto uma criança de mesma idade assistir “O Labirinto do Fauno” hoje em dia.
A Lenda conta a história da eterna luta do bem contra o mal. Da escuridão que há em todos nós e que cresce junto com nossos desejos, ambições e luxúria. Somente a busca pela luz pode nos salvar.
Ridley Scott cria um conto primário e simples, até meio infantil. Conhecemos Jack (Tom Cruise), uma pessoa ligada à natureza, ao místico, ao desconhecido. Por estar encantado pela bela Lili (Mia Sara), ele a leva para conhecer a criatura mais sagrada e pura do mundo, responsável por manter as trevas afastadas, um casal de unicórnios. Enquanto ela se aproxima deles, seres das trevas aproveitam o momento para envenená-los com um dardo. Um é mortalmente ferido e tem seu chifre removido e o outro, momentos depois, é levado para ser sacrificado em um ritual (que na cabeça de Fields era satânico), que também envolvia o casamento do Senhor das Trevas (Tim Curry) com Lili.
Esses seres vis serviam o Senhor das Trevas, interpretado por Tim Curry em uma de suas mais memoráveis performances. A concepção de seu personagem, assim como sua atuação, marcam o imaginário de muitos como a encarnação do próprio mal. Ele quer acabar com o dia, para que a eterna noite predomine e o Sol nunca mais volte a brilhar. Vale mencionar que Tim também interpretou Pennywise, do It original, um ator que traumatizou gerações.
Jack e sua trupe, que envolve algumas criaturas que sofrem com a nevasca decorrente da morte do unicórnio, saem em busca de Lili e do unicórnio que ainda vive.
Enquanto isso, O Senhor das Trevas mantém Lili em cativeiro e tenta corromper seu puro coração para que o casamento seja consensual, dando jóias, roupas e banquetes. Apela também para a culpa e remorso que ela sente ao ter, mesmo que inconscientemente, ajudado a matar um dos unicórnios. Ele a deseja ao seu lado, revelando que o mal também pode se arruinar por aquilo que prega.
Você pode rever A Lenda (ou assistir pela 1ª vez) na NETFLIX (clique aqui), então pouparei vossas senhorias de spoilers de como o resgate e o embate entre Jack e o chifrudo se dão. Obviamente que em uma batalha do bem contra o mal, luz contra escuridão, inocência contra maldade, em filmes de classificação etária livre (não sei como), os virtuosos sempre vencerão.
Ao rever A Lenda para fazer esse nostalgia temo que o Senhor das Trevas venha me visitar novamente e tente coletar minha alma. Será que encontrarei segurança ao dormir ao lado de uma ateia? Acho que dormirei na minha mãe hoje…
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