Nostalgia: Plano 9 do Espaço Sideral (Plan 9 from Outer Space)
Quando se decide fazer Cinema para a vida aos 15 anos, durante a década de 90, os obstáculos encontrados para que se realizasse qualquer produçãozinha mais galhofa que seja tornavam-se o 13º trabalho de Hércules. Não era como hoje, em que um aparelho de bolso que filma em 4k está à disposição de todo mundo; ou a facilidade de se encontrar um programa profissional para montagem é extrema; ainda que não se saiba mexer nele, há tutorial para tudo nessa vida: é só navegar na rede. Mas não, amigo. Quando você chega à conclusão (após se apaixonar incondicionalmente por Arquivo X) de que a sua forma de expressão é pela imagem em movimento e outra coisa além disso não é uma opção, você decide que precisa filmar alguma coisa. Então, você compra um câmera VHS, um computador para editar (que nunca funcionou) e convoca os amigos (entediados com sua animação nada contagiante para eles) para produzir seus primeiros filmes caseiros.
O cenário é desafiador, nada estimulante e frustrante. Não para mim. Não para nós. Não quando você se deparara com um ser chamado Edward D. Wood Jr. e a sua obra mais conhecida – a obra-prima dos malditos, dos resistentes, dos subversivos, dos sinceros – Plano 9 do Espaço Sideral (Plan 9 from Outer Space), com os históricos Bela Lugosi, Maila Nurmi, Tor Johnson, Lyle Talbot e Criswell.
Mas antes de falarmos do título em si, precisamos falar sobre Ed. Este diretor – que rendeu um dos melhores filmes da carreira de Tim Burton, na cinebiografia Ed Wood, lindamente interpretado por Johnny Depp – é, atualmente, considerado o pior cineasta de todos os tempos, o que o elevou a um status de cult, passando a ser consumido por uma galera desse meio, fora os grandes amantes do bom e velho terror tosqueira. Ed parecia se comportar como um visionário, realizando suas obras com energia e vontade quase infantis, tamanha crença naquilo que fazia. Talvez nunca saibamos o que se passava em sua mente, mas podemos ter a certeza de que os obstáculos hercúleos anteriormente aqui aludidos eram para ele um trivial jogo de diversão, um “queimado”, um “esconde-esconde”, um “pique-pega”.
No filme homenageado pelo Nostalgia de hoje, Plan 9 from Outer Space, acompanhamos a ação de aliens ressuscitando humanos como zumbis e vampiros para impedir que a humanidade crie uma poderosa bomba que colocaria em risco todo o sistema solar. Já é perceptível a completa falta de sentido na própria sinopse. Mais ainda nas cenas, que se configuram de maneira ainda mais bizarra a cada instante. Plan 9 – como carinhosamente chamamos – parece integrar em si vários gêneros do Cinema: há um núcleo de drama, um núcleo policial, um núcleo de suspense e – é claro! – um de terror; tudo mergulhado em uma atmosfera de sci-fi. Ed Wood – obviamente que sem precisão alguma – faz sua narrativa dançar por entre esses vários universos cinematográficos. Mas porque julgar? Existe tango, flamenco, tablados, balé clássico; mas também existem aquelas coreografias que se assemelham a uma epilepsia coletiva. Talvez Ed fosse um desses.
Diálogos pessimamente escritos, efeitos dos mais caseiros (lembrando aqueles dos meus primeiros filmes, feitos nas nossas madrugadas de adolescentes ociosos) e uma união narrativa no melhor estilo monstro do Dr. Frankenstein, fazem de Plan 9 from Outer Space uma obra particularmente divertida. Costumo dizer que poucas coisas são melhores que um filme de terror ruim. Este é a maior prova disso. De uma tentativa de crítica política e social, com toda a roupagem do horror, Ed Wood tenta acertar um alvo; errando-o completamente, ele atinge um outro. Isso é bom ou ruim? Seja o que for, estamos aqui, mais de 50 anos depois, falando da sua mais “grandiosa” realização. É através da Arte que nos tornamos imortais e Ed conseguiu esse feito, tão difícil e tão caro a cada um.
Mais do que este filme, especificamente, possa causar em cada um, o que devemos destacar de tudo isso é o ânimo inabalável, a crença indestrutível e a sinceridade arrebatadora de Ed Wood. Ruim ou bom, simples ou grandioso, o diretor prova que aquilo que fazemos, especialmente se isso for Arte, dever ser sempre algo honesto para nós mesmos e, além de tudo – assim como o Rock n’ Roll – que seja “pure, pure fun“.
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