Crítica: 6 Dias (6 Days)


Tomando como exemplo a crise dos reféns americanos no Irã retratada no excelente “Argo“, em abril de 1980, 6 terroristas iranianos de uma região chamada Arabistão (também conhecida como Khuzestão) tomaram 26 pessoas como reféns na embaixada iraniana, localizada no chique bairro londrino de South Kensington. O Arabistão, apesar de parecer um nome fictício de uma republiqueta no Oriente Médio que mandaram o Rambo explodir, é uma província iraniana de maioria árabe que, após a Revolução Iraniana de 1979, foi oprimida pelo recém empossado Aiatolá Khomeini e seu governo persa. Basicamente, os arabistaneses queriam a independência da região pois são estranhos em uma terra estranha, exatamente como ocorre com os incontáveis casos mais recentes e famosos de povos sendo violentamente oprimidos pelo próprio governo de seu país.

6 Days, o mais novo longa original Netflix, se presta a retratar os exatos 6 dias e 11 horas em que os funcionários da embaixada iraniana e alguns ingleses que lá estavam foram mantidos como reféns pelos arabistaneses, cujos objetivos eram, em linhas gerais, a libertação de 91 presos políticos pelo governo iraniano e a divulgação de sua causa ao mundo.

O negociados.

O longa foca principalmente em 3 personagens específicos e em como lidam com os acontecimentos daqueles dias. Kate (Abbie Cornish) é uma repórter da BBC que chega ao local para cobrir o evento logo nos primeiros momentos. Max (Mark Strong) é um negociador da polícia metropolitana de Londres que se torna encarregado de lidar com os terroristas. E Rusty (Jamie Bell) é um cabo das forças especiais britânicas que está louco para colocar seu treinamento em prática.

Há, ainda, um quarto personagem tão ou mais central que os três já mencionados, mas que sequer é interpretado por alguém, fazendo-se presente o tempo todo por recados passados e por um curto trecho de um discurso seu: Margareth Thatcher. Sua sombra e de suas políticas pairam integralmente sobre o longa, exatamente como acontecia com o Reino Unido e tudo que lhe dizia respeito à época.

O soldado.

Thatcher ainda estava no começo de seus mais de 10 anos como a premier britânica e foi também por causa de sua resposta a esta crise que ela começou a solidificar sua alcunha de Dama de Ferro, ou Iron Maiden para os iniciados . Ela é provavelmente a mulher mais poderosa da história recente do mundo e a maneira como ela determinou que todo o problema fosse resolvido foi o que criou o paradigma para se lidar com situações terroristas daquele momento em diante. O filmee é bem explícito nesse sentido ao deixar claro que as mais altas patentes das forças armadas e do serviço secreto britânico baixavam suas cabeças como vira latas ante as imperiosas instruções de Thatcher, uma mulher que estava no poder há menos de um ano, mas que, mesmo com pouco tempo e usando saias, comandou com a austeridade necessária uma nação que a odiava.

Recheado de performances convincentes do seu trio de protagonistas explícitos e abrilhantado pelo trabalho mais que competente do elenco de apoio, o diretor Toa Fraser consegue trazer um thriller eficiente, ainda que convencional, no qual a tensão vai escalando a cada minuto, fazendo com que o espectador espere que o caldo entorne a qualquer momento. Apesar de tentar emular filmes do gênero como o já citado “Argo” e, principalmente, o fantástico e sensacional “Decisão de Risco” (também disponível na Netflix), o diretor não consegue chegar perto de criar tensão parecida, deixando-nos com a sensação de potencial desperdiçado neste tocante, ainda que apresente uma história bem contada.

A repórter.

Mesmo com esta ressalva, 6 Days é um filme muito bem executado e que, em especial pela força e entrosamento de seu elenco, cumpre corretamente o que se propõe.

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