Crítica: Godless
Larissa, que diabo é isso? Por que você colocou duas notas pra uma série? Vamos lá. Primeiro de tudo, gostaria que você desse play no trailer abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=mMUiRYoc76A
Foda, né? Sem muito preciosismo na escolha de palavras, na lata. Um velho oeste onde mulher atira, manda na cidade, usa calças e é viúva. Essa série SÓ PODE SER BOA e vai ter aquela pegada feminazi que me enche a boca…
Mas não. O trailer, sim, merece um belíssimo 4,5/5,0. E assim seria se a série seguisse o que me fez os olhos brilharem. No entanto, a produção se mostra uma farsa. Como diria minha avó, cai no conto do vigário. É cilada, Bino. E por aí vai. Muito que bem, Netflix, colocar mulheres com aparente protagonismo de peso e poder de decisão na trama… quando na realidade elas aparecem bem pouco nos primeiros episódios e a narrativa não passa de mais uma história de faroeste clichê onde, é claro, homens querem matar outros homens para validar suas masculinidades caboclas.
A minha crítica poderia parar por aqui, poupando você leitor de 1 – ler minhaa ladainha reclamona, puta com a frustração de assistir 7 horas pra isso ou de 2 – simplesmente economizar palavras já que eu contei acima basicamente o que acontece na série inteira. Sem dar uma gota de spoiler, eu garanto. Tudo começa com um mocinho que é uma delícia, Roy (Jack O’Connell), e que, tadinho, é perseguido pelo velhote acima, Frank (Jeff Daniels). E eu JURO que aí acabou a história. O que me obriga a voltar pras minhas reclamações…
Acho válido tentar fazer a transcrição do que tenho em mente que foi a roda de conversa na Netflix pra criação dessa série. (E dispenso dizer que ela foi dirigida e escrita por um homem, certo? Scott Frank. Seu danadinho.)
Scott Frank: Fala, seus pés de chulé. Eu gostaria de criar uma série de faroeste. Aquela coisa… tiro pra caralho, poeira de deixar qualquer mãe de cabelo em pé, puta e muito sangue. Nada que exija muito sentido pra ser, bem ao natural da época.
Qualquer zé-bunda: Poxa, Mr. Frank, mas isso já está batido, não? Você não acha que vai flopar? O público espera mais de séries desse tipo. Veja aí Westworld, que putaria bem elaborada. E da nossa concorrente ainda, aquela maldita HBO. Acho melhor incrementar essa ideia.
E assim fez Scott Frank. Ele disse: “Ora, vamos inserir uma isca no trailer. Vamos glamourizar e empoderar mulheres em seus vestidos ou calças de cowgirl, mostrando-as enchendo de bala qualquer coisa que faça um pio e temperar com alguns homens aqui e ali. Esses sim farão o trabalho todo. Mas… shhhhh! Deixe que eles descubram meu plano lá pelo terceiro episódio. Muahahahaha…”
Cof, cof… voltando a trama. No emaranhado padrão que o pique esconde de fuga do menino Roy mostra ser, ele por acaso acaba em La Belle, a tal da cidade “onde só há mulheres”. E que já de cara vemos que tem 4 homens. Ok, tolerável, provavelmente terá uma história que justificará tanto a quantidade feminina quanto presença masculina. E a explicação é pura e simplesmente um acidente na mina do lugar que matou todos os maridos das donzelas. Cuspiu isso aí e e só. Nenhum mistério é construído em volta disso. Bem claro na verdade. Méh.
Roy fica de bichinho de estimação da mulher que vive afastada de La Belle, Alice (Michelle Dockery), a perfeita mistura entre Lavínia Vlaslak e o Puro Osso de As Terríveis Aventuras de Billie & Mandy. Eu precisei desabafar e partilhar essa referência, desculpem. E aí fica naquele clichezaço de: vai comer ou não vai comer? Shippamos ou não shippamos?
De personagem maneiro na série temos poucos. Os principais não me conquistaram empatia alguma. Pra ser sincera, a única coisa que achei bem maneira da série é um casal de lésbicas que é fofinho. E estamos falando de uma série de faroeste… então isso não é, nem de longe, um elogio. As cenas de combate são tediosas, tendo feito meu celular de grande uso e minha bexiga mostrar uma capacidade de armazenamento reduzida, não sei por que. De qualquer forma, o que quero dizer é que eu, que não sou uma pessoa de se dispersar quando se trata de audiovisual, fiquei checando minhas mensagens e agitada. Um misto de frustração, raiva e falta de saco.
Por fim, quero dizer que Godless tinha potencial – e, talvez aos que adoram qualquer produção que retrate tal época, seja uma ótima série. No entanto, para mim, que viu o trailer e esperava algo condizente com o mostrado, foi uma tremenda decepção. Certinho no técnico, redondinho e pobre na história, previsível e calunioso de início. Se você leu esse texto e está frustrado por que eu não falei muito sobre a série, ótimo. Afinal, isso quer dizer que fui bem sucedida em passar para as palavras o que os vagos 400 minutos ou pouco mais esfregaram nos meus olhos até ele arder: ar e poeira.
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