Nostalgia: Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China)
“O velho Jack sempre diz… qual é a parada?”
Nosso quadro nostalgia de hoje apresenta um clássico dos anos 80/90: Os Aventureiros do Bairro Proibido. Como vocês já sabem, o objetivo desse quadro é lembrar com vocês daqueles filmes que vimos lá atrás e que, apesar de muitas vezes serem constrangedores de se assistir hoje em dia, ficam em nossa memória como grandes clássicos do cinema. A quintessência desse exemplo é o filme de hoje.
“O motorista de caminhão Jack Burton se mete numa corrida contra o tempo quando a noiva de seu amigo, Wang Chi, é sequestrada por uma perigosa gangue asiática. Agora, para resgatá-la, eles precisam entrar no submundo sobrenatural de Chinatown, terra do terrível feiticeiro Lo Pan.”
Essa é a descrição do filme no canal Telecine. Olhando assim, parece um filme mediano. Ledo engano… o filme é uma verdadeira dicotomia: é uma merda e obra-prima ao mesmo tempo. Meu contato com essa película se deu pela semi mitológica “Sessão da Tarde”. Contudo, para fins deste quadro, vamos abordar o filme com a descrição que permanece na minha mente:
“O malandrão/motorista de caminhão/machista e com um sério problema de jogo, Jack Burton (Kurt Russell), vai buscar no aeroporto a noiva prometida de Wang Chi (Dennis Dun). Wang, que lhe devia dinheiro, está ansioso para recepcionar sua noiva, mas tudo dá errado quando uma gangue pós-modernista asiática a sequestra por um motivo muito obscuro. Agora, para resgatá-la, eles precisam entrar no submundo de Chinatown e lutar com personagens que fazem cosplay de lutadores do Mortal Kombat, um tarado em uma cadeira de rodas conhecido como Lo Pan (James Hong) e um personagem do Caverna do Dragão. Além disso tudo, eles precisam tomar um chá que dá ‘superpoderes’ (aham…), nadar algumas vezes e o mais importante… saber manejar uma faca.”
Olha que ótima premissa. Agora imagine-se com 10 anos de idade em 1992 vendo a chamada disso na Globo no intervalo da novela das 20h, que era De Corpo e Alma (tive que jogar no google… dessa época só lembro de Top Model), o quão empolgado você ficaria? Exato. Muito empolgado.
Provavelmente assisti esse filme todas as vezes que ele passou durante uma década e sempre extraí o mesmo prazer, que com o passar do tempo foi ficando nostálgico. No entanto, é de saltar aos olhos o quão ruim esse filme é. Revê-lo esse ano foi um enorme choque dado o hiato da última vez que vi, no mínimo uns 10 anos. Ainda bem que a Netflix possui a dublagem dos anos 90, o que salvou a maior parte da experiência.
Bem, vamos olhar o filme com mais detalhes. Como dito na minha sinopse adaptada, ocorre o sequestro da Miao Yin (Suzee Pai) pela gangue asiática cosplay do Clã do Pé das Tartarugas Ninja. Após uma rápida perseguição, Jack e Wang acabam em um beco onde ocorre uma das melhores cenas e que vai ditar o ritmo do filme, o confronto entre duas gangues: Wing Kong (do mal) Vs Chang Sings (do bem).
Meu amigo… tudo de mais espetacular em filmes dessa década/gênero ocorre nesse momento. Tiroteio sem motivo aparente com sonoplastia de tiro de pistola parecendo bazuca e, depois que as balas acabam, combate corpo a corpo com armas tradicionais do Kung Fu + cutelos (presumo que boa parte deles então são cozinheiros).
Eis que, do mais absoluto nada, o filme abre as portas do místico e fantástico. Surgem do total etéreo 3 lutadores com chapéu de agricultor vietnamita. Como ex praticante de Kung Fu, sou obrigado a fazer um comentário. Carter Wong, que faz um desses personagens, o Thunder, fundou a federação Chung Hop Kuen, que é um estilo de arte marcial baseado no Shaolin Kung Fu. Obviamente seu personagem é o que demonstra maior domínio da arte milenar de chutar bundas em todo o filme. Além desse mito do Kung Fu, temos outros 2 personagens que na época eu chamava de “o cara das mãozinhas de metal” e “Raiden”, Rain (Peter Kwong) e Lightning (James Pax) respectivamente.
Enquanto os 3 Temporais (como são citados na dublagem brasileira) acabam na pancadaria com as 2 gangues, Jack e seu escudeiro (ou é o contrário?) fogem com seu caminhão e atropelam Lo Pan (falarei dele mais a frente), que não sofre nada.
Eles se refugiam no restaurante da família Wang. Lá eles encontram uma advogada que estava no aeroporto no mesmo momento que Miao Yin é sequestrada e passa a ajudá-los. Essa advogada, Gracie Law, é ninguém mais ninguém menos que Kim Cattrall, a milf loira de “Sex and the City” que não é a Sarah Jessica Parker. Ela sabe o paradeiro de Miao Yin, já que está investigando o comércio de asiáticas em Chinatown. Miao Yin está na casa que oferece serviços escusos conhecida como White Tiger.
Lá na “casa de massagens” (…) os Temporais sequestram Miao Yin e nossos heróis vão em busca dela na sede da empresa que Lo Pan comanda. Perdão… eu não falei?! Lo Pan é um CEO de um banco internacional e de uma empresa de importações. E muito mais… Lo Pan também é um ser sobrenatural imortal com mais de dois mil anos que não consegue sentir mais nada fisicamente.
Leia com muita atenção o que eu escreverei a seguir, pois é o motivador do filme. Lo Pan está amaldiçoado pelo deus do leste, Ch`ing-ti, a quem deve acalmar para readquirir sua juventude e assim governar o universo. Como ele consegue se libertar da maldição e acalmar o deus? Casando-se com uma chinesa de olhos verdes enquanto ela é espetada pela agulha do amor (fica no ar se a agulha é sagrada ou não ou se poderia ser um prestobarba).
Enfim, eles são capturados e conseguem escapar. Fica evidente que sozinhos eles não terão condições de salvar Miao Yin e Gracie (que acaba sendo sequestrada também… ela tem olhos verdes). Um especialista em Lo Pan, Egg Shen (Victor Wong), junta uma trupe de guerreiros descartáveis para invadir o prédio e lutar contra o elenco de apoio do mal.
Eles chegam pelo subsolo (ou como mencionado no filme, o pântano das árvores mortas) enfrentando seres que aparecem uma vez apenas, sem significado algum, até que chegam a sala de Lo Pan. Obviamente ele não está lá pois seu casamento está em andamento. Os guerreiros do bem tomam um chá, se sentem invencíveis e descem pelo elevador para matar Lo Pan. Mas como matar alguém imortal? Esperando ele se casar, tornando-se mortal.
Ele realiza seu fetiche de dois mil anos e se casa com uma mulher de olhos verdes. Começa o ápice do filme que é a luta entre as gangues, com duelos estabelecidos e equivalentes. Apenas Lo Pan escapa levando com ele Miao Yin para seu escritório e Jack vai atrás portando sua inseparável faca.
Contrariando todas as possibilidades, Jack sai vitorioso desse confronto ao cravar a faca na fronte de Lo Pan, com um arremesso improvável que vai de encontro com tudo que se sabe sobre biologia e física newtoniana.
Jack recupera seu caminhão, salva o dia (e o mundo) e segue na estrada.
Isso, senhores, é como se fazia um bom filme de ação nos anos 80. É tão inacreditável, mal escrito, mal dirigido, mal editado e mal atuado (tirando o Kurt Russel) que só a nostalgia salva.
Ao acabar o filme fiquei me indagando… Sou muito fã de filmes de terror e ficção científica (ainda mais se envolver aliens) e sempre acho os atuais muito ruins, especialmente os de terror. Será que os filmes que eu considero bons do gênero, que eu assisti nos anos 90, são realmente bons ou eu que era pequeno demais para ter um bom senso crítico? Bom… não perderei meu tempo pensando nisso, pois… “tempo é dinheiro para um sujeito como eu”, Burton, Jack.
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