Crítica: Black Mirror – 4a Temporada – Episódio Metalhead
É pedir muito que, na carreira de um artista ou de uma obra contínua, a produção sempre se mantenha impecável. Pouquíssimos são os casos que conseguem isso. Black Mirror parecia ser mais uma dessas exceções, mas o episódio Metalhead, da nova temporada, surge, para mim, como o mais fraco já produzido na série. Na verdade, falar nesses termos é um tanto quanto cretino. Refraseando, Metalhead aparece como o único episódio aquém de toda a inacreditável trajetória do seriado. Não por demérito do excelente diretor David Slade, mas muito mais por um roteiro pouco inspirado (alguma hora deveria acontecer, porque não é possível que não, né) do genial Charlie Brooker.
Mais uma vez aquele cenário desértico por onde passa uma rodovia antiga. Perdido naquela paisagem, um armazém largado de mão. Três pessoas (Maxine Peake, Jake Davies e Clint Dyer), como se prontos para um assalto, repassam as orientações para a ação a seguir. Algo pode dar muito errado, então os camaradas já se preparam para isso. Lá dentro, ao tentar pegar uma caixa de papelão carregada por algum(ns) objeto(s), um robô é acionado e dispara como se tiros em dois dos integrantes. Bella corre, em fuga, avisando o outro que ficara do lado de fora, enquanto que o terceiro colega é alvejado brutalmente pelo robô, que se transformara numa espécie de cachorro-barata-ciborgue, lembrando algum bicho de estimação que o Robocop teria. Mil e uma utilidades, a barata-biônica atira, corre mais rápido que um carro, tem sensor de vida, rastreador, visão noturna, chupa cana e assobia. Dessa forma, o segundo membro do pequeno grupo também é feito vítima. O restante do episódio, portanto, é Bella fugindo do besouro do futuro.
Por ser muito bem dirigido, é óbvio que ficamos agoniados com as cenas de perseguição, torcendo para que Bella escape, muito embora não saibamos qual era sua tarefa ali, quem é ela ou que pretende. Também não conhecemos nada sobre aquele mundo; nada além de que, como de costume na série, os humanos parecem estar em segundo plano quando comparados às máquinas. Mais uma vez se faz evidente o poderio supremo do que é artificial em detrimento daquilo que é humano. A barata-biônica (a quem chamam de “cachorro”, nessa história) é incansável, apesar de ter que recarregar suas baterias, e não desistirá até que consiga atingir seu alvo. Missão dada é missão cumprida, parceiro! Cabe à Bella tentar utilizar sua inteligência não programada para vencer os algoritimos pré-definidos do pet de Robocop.
Com cenas e um ou outro diálogo já largamente utilizados em um sem-número de histórias já conhecidas por nós, como “diga a Graham, caso eu não volte, que o amo”, além de situações um tanto quanto forçadas em suas soluções, e pouca profundidade na discussão que o conto pode sugerir (sendo justamente a profundidade a marca de Black Mirror), Metalhead destoa dos demais episódios componentes de uma das melhores obras já produzidas pela televisão em toda sua História. A conclusão em si – a cena que conclui efetivamente esta parte – permite ir um pouco além na interpretação geral. Mas poucos segundos em 41 minutos não são o suficiente. A bela direção, com uma fotografia impecável, fizeram parecer um lindíssimo exercício de estética.
Homens máquinas – os canibais da ferrugem
Homens máquinas – o ferro morde a poeira
Homens máquinas – construídos com pés de barro
Estão vindo para destruí-lo completamente
(Bruce Dickinson)
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