Crítica: Black Mirror – 4a Temporada – Episódio Hang The DJ

Eu tive que procurar a letra de Panic, música escrita por Steven Patrick Morissey e Johnny Martin Marr (um dos meus top 10 guitarristas preferidos de todos os tempos) pra entender por que diabos esse episídio foi batizado de Hang the DJ.

Damn the Man! – prega o poeta neste sucesso de 1986 e a rebelião dos jovens contra os cânones ditados a eles e que d’eles nada dizem ressoa bem com o gostoso episódio dessa quarta temporada, minha primeira. Eu não sou fã ou sequer assíduo espectador da série Black Mirror, sucesso dentre os nerds (e não tão nerds) assinantes da Netflix. Assisti ao primeiro episódio da primeira temporada (aquele do porco…) e, apesar de ter gostado muito do “filme”, senti um certo incômodo pela violência e tensão descritas de maneira tão crua. Me fez mal num momento em que eu já carregava estresses demais. Em seu lugar continuei assistindo a “Miss Fisher’s Murder Mysteries”, série Australiana ao estilo Agatha Christie com mistérios, personagens e tramas levinhas e agradáveis, e que já acompanhava há algum tempo.

Meu reencontro com Black Mirror foi leve e agradável, como fora assistir às 3 temporadas de Miss Fisher (que, espero, revisarei em breve aqui para esse vosso canal). Neste episódio, um casal de jovens ingleses se conhece utilizando um desses apps de encontro. O tal app era tão preciso que não apenas encontrava um par, mas previa (ou determinava) por quanto tempo o casal ficaria junto. Difícil descrever mais sobre o episódio sem me valer de spoilers, mas, como conta a própria sinopse divulgada pela Netflix, o casal decide se rebelar contra as determinações do app.

O filme faz reflexões (ainda que rasas ou vagas, mas com o bom gosto de não virar masturbação intelectual explícita) sobre a natureza dos encontros amorosos entre duas pessoas, seus percalços, seus clichês. No filme (e na vida) o app substitui a aleatoriedade de um esbarrão no metrô com uma mesma aleatoriedade virtual (ou não, já que todo app do tipo gosta de vender o peixe de que há algorítimos trabalhando pra encontrar um sapato velho pra todo pé doente).

Nunca usei tais apps mas eles apenas parecem pular a etapa incômoda de convidar um completo desconhecido pra sair. O “algoritmo” faz isso por você. No filme, o “algoritmo” faz mais do que isso e a angústia de Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole)  – ambos absolutamente gostáveis, vale ressaltar – cria a linha condutora de uma história romântica à moda antiga nos tempos da gratificação instantânea digital. Palmas a Timothy Van Patten (diretor de várias episódios de séries que você já assistiu, como “Game of Thrones”, “The Sopranos”, “Rome” e “Touched by an Angel” – essa última deve ter, aqui, servido de referência mais do que todas as outras) por ter criado uma estética crível e gostosa de se acompanhar. Palmas para Charlie Brooker pela história.

“Crystal” de Stevie Nicks talvez descrevesse a história com mais clareza que as palavras de Morrissey. Mas Charlie Brooker (que eu até então desconhecia) é inglês. The Smiths também. E convenhamos, “Crystal” tem menos apelo do que “DJ-cídio” em tempos atuais. De uma maneira ou de outra, a trilha foi bem escolhida, a história e a maneira de contá-la também. Acho que verei mais da série. Dizem que um tal episódio em que as pessoas têm câmeras nos olhos é muito bom. Você concorda?

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