Crítica: Black Mirror - 4a Temporada - Episódio USS Callister
De tempos em tempos, a indústria cinematográfica/televisiva resolve que determinada temática dominará suas principais produções. Já foi asteroide caindo na Terra, aquecimento global, zumbis, vampiros… 2017 parece que é o ano de Star Trek. Além do lançamento da nova série canônica Star Trek: Discovery (com reviews semanais aqui no MetaFictions), tivemos também a paródia de Seth MacFarlane, The Orville, ainda sem data de estreia oficial aqui pela Fox brasileira.
Entrando nessa onda, a mente genialmente perturbada de Charlie Brooker, que divide o roteiro com William Bridges, resolveu também apresentar sua homenagem a Star Trek. Só que uma homenagem feita por Brooker certamente não será (como não é) reverente ao original. E tampouco se valerá dele como muleta. Duas coisas que, no caso aqui, são alvissareiras ao extremo.
Devido ao material promocional de USS Callister, o 1º dos 6 episódios da 4ª temporada de Black Mirror, eu não posso dar maiores detalhes sobre a trama, sob pena de prejudicar a experiência do espectador. O que eu posso fazer é dizer a você, fã de Star Trek, que USS Callister é um puta episódio sobre as relações dos homens com a tecnologia e em como isso, por sua vez, altera a dinâmica, qualidade e intensidade das relações humanas, exatamente como esta fantástica série se notabilizou em fazer.
Jesse Plemons (o Matt Damon mongol) interpreta o capitão Daly na ponte de comando da nave da Frota Espacial USS Callister. Nela, ele comanda um entrosadíssima tripulação que ostenta um figurino que, assim como a ponte de comando, remete inequivocamente à série original de Star Trek. Logo na primeira cena, vemos a nave lidando com a ameaça de Valdack (Billy Magnussen), uma claríssima alusão a Kahn, o mais clássico e reconhecível vilão de Star Trek, por exemplo. Isso sem contar os beijos sem língua que o capitão distribui por aí.
É também nessa primeira cena, com diálogos toscos, enquadramentos datadíssimos e um formato de tela que remete às TVs de tubo de antigamente, que já percebemos que há algo de errado e diferente no que está sendo apresentado.
A partir daqui a trama se desenvolve para um caminho totalmente inesperado e é então que o argumento de Brooker e Bridges brilha, apoiado na direção segura de Toby Haynes e na atuação explosivamente contida de Plemons, em especial depois da introdução de um novo membro na tripulação.
USS Callister é um cartão de visitas fantástico para esta 4ª temporada e mantém vivo o espírito do que é Black Mirror e do convite que a série historicamente faz, como deve fazer a boa arte, para que discutamos as relações humanas e como elas são alteradas pela própria engenhosidade dos homens.
Nossos amigos do Farofa Geek fizeram uma espetacular análise, cheia de spoilers, de exatamente o quanto profundo, atual e abrangente são os temas abordados por este episódio. Não deixem de conferir!
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