Nostalgia: O Grinch (How the Grinch Stole Christmas)
O Grinch é o tipo de filme que facilmente passa despercebido quando você é criança. Afinal, o personagem principal, um Jim Carrey vestido de monstrengo verde que come cacos de vidro, é a definição do que é ser escroto. Minhas associações nostálgicas ao cara eram todas negativas: medo (dá um tempo, eu tinha uns 6 anos quando assisti), asco e reprovação. Mas o Cinema tem aquela capacidade mágica de se reinventar a partir de uma ótica diferente. Neste caso, de uma Larissa mais velha – e que giro de 180 graus foi assisti-lo 15 anos depois! Não se trata, nem um pouco, de um filme que mereça passar sem o devido mérito.
Primeiro de tudo, a crítica social foda está presente do início ao fim: o Natal é uma data que sofre apropriação pelo capitalismo e sua indústria consumista. É claro que existe o viés religioso e eu não estou aqui nem entrando na validade dele ou não, só pontuando que há tempos que deixou de se fundar unicamente na celebração do nascimento de Jesus. Logo, um blockbuster que já começa como um verdadeiro Manifesto Comunista dos anos 2000, que tanto esculacha os valores supérfluos da sociedade do sonho americano, está de parabéns.
O repugnante Grinch mora afastado da Cidade de Who, lugarzinho em que todos vivem em função da esperada data natalina. Falo sério. A coisa toda é tão importante para a cidade que há concursos de melhor decoração, toda aquela correria em busca de presentes e promoções e uma verdadeira euforia em torno do Natal.
É bem engraçado como algo tão surreal pode se aproximar da realidade na qual vivemos sem questionar muito; todo ano há aquela incansável corrida contra o tempo para deixar tudo nos trinques pro Natal no mundo real também. Ora, cacetinhos me mordam, mas por quê? Beleza que é legal confraternizar e ficar no amor entre seus amigos e família. Mas deveria ser esse fuzuê todo a ponto de gerar aquelas filas quilométricas mercados e shoppings? Fica aí o questionamento.
Voltando à narrativa, eis que dentre tanta gente alienada pelo “espírito natalino” – e que verdadeira posessão! -, Cindy Lou Who (isso, a hoje vocalista do The Pretty Reckless, Taylor Momsen) mostra-se compadecida pelo renegado bicho verde e quer inclui-lo nas festividades. Daí ela convida o Grinch para receber um prêmio de Mestre da Alegria da cidade.
Daí volto a pregar o discurso de carga crítica que Grinch tem pra nós: a superficialidade a que o Natal pode ser conduzido ao girar em torno de compras e mais compras, além do incentivo à farturas dispensáveis. Após novamente ser esculachado por ser diferente – um verdadeiro replay da época em que o Grinch foi bullyinado no colégio do lugar -, o cara faz um discurso onde joga na cara dos cidadãos de bem o quão hipócrita é aquela lenga lenga toda que eles defendem. E estão cada vez mais claras as inclinações de Grinch ao comunismo…
Puto da cara com aquele fiasco de cerimônia, Grinch resolve tomar os meios de produção e fazer a revolução do proletariado. Digo… arruinar o Natal daqueles bundão.
Depois da entrega de presentes pelo velhinho original, o velho vermelho e verde vai à casa dos moradores da cidade e rouba tudo. Ao acordar, atordoados com suas árvores vazias, a primeira reação é de tristeza e decepção com o Natal. No entanto, o crime de Grinch estimula o pensamento crítico da população e retira-os da bolha consumista, resultando na seguinte tomada de consciência: poxa vida, o Natal é bem mais que ganhar presente. Dessa forma Grinch basicamente valida o quanto o materialismo dialético é uma realidade. O material constitui a infraestutura de uma sociedade, afetando também as relações intersociais e pessoais. Uma vez que sua dinâmica seja mudada, suas ramificações também o são. Iau!
Por fim, temos aquela história toda de final feliz, de propagação de amor num coraçãozinho agora amolecido pelo lado bom dos seres humanos, a reintegração do Grinch àquele espaço e tudo muito bom. Tudo maquiando essa verdadeira ideologia marxista dos anos 2000…
Grinch arruina o Natal. E eu não poderia agradecer mais por isso!
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