Crítica: 120 Batimentos por Minuto (120 battements par minute)
No primeiro momento que minhas pálpebras bateram o olho no título pensei se tratar de campanha para conscientização para saúde cardiovascular. Quando entendi que era filme, entrei na sessão, realizei meu tradicional ritual para abraçar a sala, e quando o projetor se iniciou, convenci a mim mesmo que a trama de ativismo político sobre a pandemia de Aids tinha um enorme potencial. Quando os créditos rolaram, a única palavra que vinha a minha mente era “desperdício”.
Ela chegou de repente, quando o filme parecia engatar a terceira marcha, convertendo-se num fascinante relato sobre narrativas de uma bravura indômita contra uma sociedade que, em favor do conservadorismo arraigado, preferia continuar cega a cuidar de seus feridos. 120 Batimentos por Minuto tem excelentes momentos, quando foca em seu contexto, nas lutas diárias, traçados tanto em assembleias quanto manifestações pelo ACT UP Paris. Nestes momentos a obra condensa um caldo político, biológico e humanístico, fazendo assim seus personagens serem apenas ferramentas de um momento não só mais profundo, como também mais interessante do que eles e suas histórias. Mesmo nesses momentos, a película não consegue se despir do odor de panfleto, o que, até ali, era justificado pela relevância do filme.
Todavia, em meio às festas, assembleias, atos e manifestações, 120 Batimentos por Minuto abandona o que era até ali seu coração. Todo contexto, a parte sócio-histórica, com tons de crítica não só ao preconceito, como também ao capitalismo farmacêutico, dá lugar a uma trama particular, focando a câmera em um dos fundadores da organização. Sean Dalmazo, se mostra um protagonista sem carisma, que não convence ninguém com sua histeria apocalíptica. Com uma atuação muito acima do tom de Nahuel Pérez Biscayart, ele não seduz o espectador nem por um minuto. Quando tudo se reduz a um personagem que era mero joguete diante de um epicentro cultural de transformações, o filme deixa de pulsar para se tornar comum. Para se tornar mais uma pedante narrativa de amor francês, repleta de diálogos mal escritos e sentimentalismo de perfumaria.
Ainda que possua certa relevância, fale de um tema cuja discussão é necessária, concentre algumas fagulhas de boa fotografia, a obra se deixa seduzir pelas ambições de retratar um momento histórico a partir do particular, porém esquece de desenvolver seus personagens, de deixar seus atores serem mais que meros estereótipos e sobretudo fazer uma trilha sonora que contasse com mais de uma faixa digna de elevador. Terminando assim, ainda que com momentos bons, um enorme desperdício que, ao esvair todos os seus esforços em fazer nosso sangue pulsar mais forte, esquece de nossos outros sentidos.
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