Crítica: Dirk Gently's Holistic Detective Agency - 2a Temporada

Dorgas.

Muitas, muitas dorgas.

Foi o que eu pensei, o tempo todo, todo o tempo, ao assistir a Dirk Gently’s Holistic Detective Agency, série criada por Max Landis (escritor de “Bright”, produção também da Netflix, com critica escrita por este que vos fala) que teve sua segunda temporada lançada na sexta-feira passada. Como já comentado por nosso caro Gustavo David em seu Garimpo Netflix: Especial Dia das Crianças, a série conta as peripécias do detetive holístico (wtf??) Dirk Gently (Samuel Barnett que eu confesso, não reconheci de sua participação em “Penny Dreadful”, série maneirinha de terror Vitoriano que eu recomendo) e seu assistente improvisado Todd Brotzman (Elijah Wood, o Frodo de “Senhor dos Anéis”).

Dorgas…

Na primeira temporada o caminho de Dirk Gently e Todd Brotzman se cruzam quando o segundo, trabalhando como um deprimido e derrotado bell boy em um hotel, vê a si mesmo saindo de um quarto onde aconteceu um bizarro e inexplicável assassinato. Ao chegar em casa, depois de um dia de merda, Todd encontra Dirk entrando pela janela e anunciando, sem nenhuma cerimônia, que agora eles são parceiros. Sério mesmo. É assim que acontece. Além disso (e da investigação do assassinato/sequestro/troca-de-corpo-entre-uma-menina-e-um-cachorro-mais-especificamente-um-Corgi…) toda e qualquer informação será spoiler, já que a série é feita de pequenos detalhes que se conectam em um ponto ou em outro. A segunda temporada não poderia ser menos esquisita. O Corgi ainda está lá, e desta vez o “caso” que Dirk e seu assistente investigam é o do sumiço da irmã de próprio Todd (e de todos os personagens da primeira temporada, incluindo do próprio Dirk Gently), um navio no meio de um campo numa cidade no meio de lugar nenhum e cavaleiros de cabelos rosa que lutam com tesouras… É… é isso mesmo. Eu juro.

Pra quem não sabe, esse é um Corgi.

Douglas Adams, escritor de “O Guia do Mochileiro das Galaxias” é também a fonte inspiradora dessa série surreal e divertidíssima. E se você já leu qualquer coisa de Adams ou assistiu ao filme de mesmo nome de 2005, então você sabe do tipo de bizarrice a que me refiro. Dirk Gently’s Holistic Detective Agency mistura a muito bem sucedida tradição de comédia nonsense inglesa com um nível de surrealismo raro em uma obra áudio-visual “não-acadêmica” (refiro-me aqui a “Um Cão Andaluz” de Luiz Buñuel, a única obra cinematográfica deliberadamente surrealista que qualquer professor ou aluno de qualquer faculdade de cinema do planeta terra parece conhecer).

A série, tanto em sua primeira temporada quanto na segunda, não faz absolutamente nenhum sentido, em nenhuma cena, em nenhum episódio até mais ou menos a metade da temporada. A sensação que se tem é que se está assistindo a uma sequência de eventos mais ou menos conexos (ou mais ou menos desconexos, dependendo de como você interpreta seus meio-copos-da-vida) que te prendem na frente da TV pelo simples fato de que “puta que pariu, que porra foi isso?” e continua-se assistindo por incredulidade de que um episódio de uma série tenha se dado daquela maneira. De repente, de uma hora pra outra, todas as peças começam a se encaixar e a história começa a ter coerência (apesar de ainda não fazer nenhum sentido se observada por um ponto de vista racional). Os personagens são seres super-poderosos com os poderes mais absurdos e bem pensados que eu já vi, gente (in)comum com vidas (in)comuns, e agentes do governo, todos um bando de completos retardados (ok, nesse caso, parece que a série retrata com precisão a realidade).

Eu terminei a primeira temporada, depois de uma maratona de um fim de semana, prometendo a mim mesmo que leria o livro que deu origem à série (mas falhei miseravelmente porque a vida é mais surreal e cheia de imprevistos que a ficção) e termino a segunda fazendo-me a mesma promessa. Na falta de um livro que possa ler, resolvi responder a mim mesmo uma pergunta que eu, preguiçosa e desmemoriadamente não conseguia decifrar (já que não lembrava de minhas aulas de filosofia e não abria o Google pra procurar): o que diabos significa “Holístico”? A resposta é: “O holismo é um conceito criado por Jan Christiaan Smuts em 1926, que o descreveu como a ‘tendência da natureza de usar a evolução criativa para formar um “todo” que é maior do que a soma das suas partes'”.

E ao ler tal definição, fica-me a sensação de que essa é a definição da própria série (se é que é possível, de fato, defini-la). A de que ela é maior que a soma de suas partes. Isso, claro, se você gosta de humor inglês, de histórias e personagens estapafúrdios, de situações absurdas, de Corgis e/ou de dorgas (absolutamente opcionais aqui, já que a série em si se encarrega de te levar numa trip psicodélica). Separe um fim de semana, meta a pipoca no microondas e boa viagem.

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