Crítica: The End of the F***ing World

Uma série sobre um amor bandido, que surge de forma improvável e que faz com que um casal de adolescentes incompreendidos fuja juntos, indo contra tudo e todos. Se essa premissa não te pareceu original, é justamente porque ela não é. E, fundamentalmente, essa é a história que a série britânica “The End of the F***ing World“, produzida pelo Channel 4 inglês e distribuída internacionalmente pela Netflix como um original,  se propõe a contar.

Aqui, contudo, é proposto algo que pretende diferenciar a série das demais obras que tratam de temática parecida. James, interpretado na medida certa por Alex Lawther (o punheteiro daquele episódio de pedofilia da 4ª temporada de Black Mirror e o sujeito com mais cara de inglês que eu já vi), é um moleque esquisitão e bem perturbado. Ele fica na dele, gosta de matar animais e, quase aos 18 anos, resolve que é um psicopata e que o próximo passo natural é matar um ser humano. É então que ele conhece Alyssa (Jessica Barden), uma menina insuportável e que o antagoniza de graça imediatamente, assim como ela faz com quase todo mundo. Ele se aproxima dela porque ele acha que ela seria uma boa candidata para matar e ela, por sua vez, se aproxima dele porque ele é esquisito o suficiente para que ela o considere interessante e porque isso faz com que ela se sinta melhor consigo mesma.

Os dois, que vivem vidas de privilégios e protegidas, resolvem fugir meio que do nada e é partir daqui que a série se desenvolve e é também a partir daqui, desse relacionamento maluco, que, aos meus olhos de um homem de 35 anos, a série fracassa. Isto porque uma obra com as propostas que The End of the F***ing World, muito mais do que em qualquer outro aspecto técnico, vai se sustentar fortemente em cima da química e do carisma dos protagonistas.

Ocorre que um deles é praticamente um robô e a outra é das coisas mais irritantes que já passaram pela minha televisão. A diferença entre os dois é que James foi escrito assim deliberadamente e é atuado de acordo por Lawther (inclusive com nuances do meio para o final muito acertadas), enquanto que Alyssa é só uma menina escrotinha, chata, ególatra, sem carisma e que não me fez em momento algum empatizar com o drama que ela parecia viver, no que parece ter sido uma escolha deliberada e, ao meu ver, equivocadíssima da direção, posto que Jessica Barden cumpre muito bem seu papel de ser insuportável.

Esta questão acaba por prejudicar um roteiro que, ainda que seja um tanto clichezento e previsível, tem diálogos realmente muito bem escritos, tocantes e que provavelmente ilustrarão a timeline de muita gente nos meses vindouros.

Outro ponto positivo e negativo ao mesmo tempo é a fotografia da série. Ao mesmo tempo que tecnicamente não haja qualquer falha a ser apontada nela, o filme parece ter sido filmado, tanto no que se refere a luz e até mesmo nas escolhas de desenho de produção, em algum lugar do meio oeste americano, com vastas paisagens ensolaradas e o casal comendo em diners. Ocorre que isso fica um tanto esquisito quando eles falam com sotaque inglês, dirigem do outro lado da rua e até mesmo encontram um autêntico redneck americano, com o detalhe de que este é um irlandês morando num trailer fodido perto da praia.

Prejudicado por um casal de protagonistas sem química e pelo tom equivocado que se escolheu imprimir à personagem de Alyssa, a série tem seus pontos positivos, notadamente os diálogos muito bem escritos e pertinentes, além da relação entre a Detetive Noon (Gemma Whelan, a Asha Greyjoy de Game of Thrones) e a Detetive Teri (Wunmi Mosaku), que é uma inteligente alegoria para a relação do casal de adolescentes fugitivos com o mundo.

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