Crítica: Jumanji: Bem-Vindo à Selva (Jumanji: Welcome to the Jungle)
Vendo Jumanji: Bem-Vindo à Selva, sem rever o original Jumanji, de 1995, não muda em nada o entendimento da história. Até mesmo a mudança de “mídia” é explicada logo no início. É que o seu predecessor contava com um jogo de tabuleiro (que dá nome ao filme), que tinha uma espécie de magia-maldição transformando seus jogadores para o mundo no qual o universo se desenrola. Na continuação (não remake), o jogo de tabuleiro é encontrado na praia por um pai de família e levado ao seu filho, um adolescente headbanger, que ouve Metallica, Pink Floyd (mas, pelo visto, não Iron Maiden – shame on you, baby metal!), além de jogar videogame. A surpresa dele ao ver o souvenir já diz tudo: “quem, hoje em dia, joga jogo de tabuleiro?!”, diz o personagem no “longínquo” ano de 1996 (um ano após a produção do primeiro filme Jumanji) – alguém diga para ele que ainda há muitos! Inexplicavelmente, saído do nada, naquela noite, o jogo de tabuleiro se transforma em uma fita de videogame tipo Nintendo. Cortamos, então, para os dias atuais.
Por motivos diferentes, quatro estudantes vão parar na sala do diretor e devem realizar trabalhos no porão da escola como medida educativa. Spencer (Alex Wolff), nerd que fez o trabalho pelo amigo; Fridge (Ser’Darius Blain), o popular jogador de basquete, que aceitou a cola do amigo; Bethany (Madison Iseman), a popular-blondy-girl, por ser sem noção e fazer uma conversa de vídeo no celular durante o teste; e Martha (Morgan Turner), nerd que se recusa a fazer educação física. Naquele cômodo cheio de tralhas, querendo um tempo livre do trabalho que estão tendo, encontram um videogame ultrapassado, com a fita Jumanji nele. Ligam e pronto: são engolidos pelo console e entram no mundo do jogo, porém na carcaça de seus personagens.
O tímido, nerd e frangote Spencer torna-se Dwayne Johnson (em atuação bem-humorada), um personagem gigantescamente forte e principal para a história. Fridge passa por alteração inversa, nas mãos de Kevin Hart (em atuação hilária), um zoólogo medroso e pequeno. Bethany é a que mais sofre no corpo de Jack Black (sempre maravilhoso), um cartógrafo gordinho, pequeno e lento. E Martha vira a deslumbrante Karen Gillan (que mulher linda, bicho!), rápida e porradeira. As quatro personalidades distintas terão que aprender a se adaptar aos novos corpos, enquanto lutam pela sobrevivência dentro do universo de Jumanji para “zerar” o jogo e garantir o retorno ao mundo real. Contam, tão somente, com as habilidades de seus personagens, com as personalidades próprias e o vasto conhecimento do nerd Spencer acerca de videogame.
Os personagens serão caricatos e há uma desculpa para isso. As situações serão esperadas e há uma justificativa para isso. Independente das dificuldades, já sabemos a conclusão de tudo, mas há uma razão para isso. Trata-se de um jogo de videogame da década de 90, quando a história, personagens e fases não tinham grande profundidade, como os de hoje. Era uma época em que os títulos que os consoles traziam se inspiravam (salvo muito poucos casos) tão somente na diversão que causariam ao seu jogador. Pois bem, Jumanji: Bem-Vindo à Selva reproduz esse mesmo sentimento. Não está em debate aqui a profundidade de enredo, inovação das situações de aventura ou a originalidade do desenvolvimento da narrativa. O único ponto em foco mesmo é a diversão. E, na boa, parece muito que os próprios atores se divertiram fazendo isso.
Ainda assim, há uma “moral da história” bastante sincera e gostosa: mesmo na carcaça de uma mulher absolutamente linda ou de um gigante anormalmente forte, Martha e Spencer são aqueles nerds excluídos com problemas de baixa auto-estima e de aceitação da auto-imagem. Nem quando são a representação da beleza e força unidas, eles deixam de agir como os mesmos tímidos e inseguros, pois isso é parte da essência deles e não apenas de suas imagens. De todo modo, através do jogo e da couraça que vestem, os desafios encontrados naquele game (que são metáforas para os conflitos que precisamos atravessar em nossas vidas) servem para fazê-los ver o valor que cada um tem, independente da forma como se apresentam aos demais.
Jumanji: Bem-Vindo à Selva, sendo revisitado por aquele garoto headbanger da década de 1990 no início deste filme, traz à memória a frase de um outro headbanger, este um dos maiores compositores da História da Música: “Rock n’ Roll is pure fun” (Janick Gers). Ignoro as ressalvas que um filme desse tipo pode causar e digo que a obra de Jake Kasdan é bem divertida.
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