Crítica: O Rei da Polca (The Polka King)


Certa vez, quando perguntado qual é a diferença entre a ficção e a realidade, Tom Clancy, um dos maiores escritores de livros de espionagem e guerra que já se teve notícia no mundo, respondeu: “A ficção tem que fazer sentido.”

Com isso em mente, vamos a sinopse do filme: Janek Lewandowski, mais conhecido como Jan Lewan, excursionava os EUA com sua banda de Polca (Sim. Polca), mesmerizando audiências da terceira idade e se aproveitando disso para convencer esses pobres e gananciosos coitados a investir seu dinheiro com ele com um retorno muito acima do que o mercado pagava à época. Jan não era banqueiro, economista ou sequer agia no mercado. Sua promessa era a de que o investimento seria na formação de seu Império da Polca (Sim. Império da Polca) que, uma vez estabelecido, daria a todos muito muito dinheiro.

Esta parece a sinopse de um filme ruim, cuja história foi montada como uma colcha de retalhos por macacos que sorteam bolinhas dentro das quais estão os argumentos que formarão o roteiro do filme. O primeiro macaco sorteou um protagonista polonês radicado nos EUA, o segundo tirou a bolinha que o coloca como o frontman de uma big band de polca e a bola do terceiro estabeleceu que ele enganaria velhinhos para que eles invistam em seu império musical.

É tudo muito inacreditável e sem sentido para ser levado a sério. Mas esta história é baseada em fatos reais, desde as circunstâncias de uma grave lesão sofrida pelo protagonista ao final, até seu encontro com o Papa João Paulo II, passando por toda a canalhice entre uma coisa e outra. É ridículo e patético num nível que parece mentira, mas é tudo real.

Jan Lewan (Jack Black), o Rei da Polca da Pensilvânia (que epíteto mais maravilhosamente merda para se ter), era um homem, como costuma acontecer com imigrantes, extremamente trabalhador, mas também com um talento e uma vontade nata de quem imigra aos EUA de vencer. To make it. E a maneira que ele, incrivelmente, acredita que vai colocá-lo na ribalta da fama e do sucesso é a polca (Sim. A Polca.), atividade que ele divide também com a de entregador de pizza, lavador de pratos e dono de uma loja de souvenires poloneses em uma cidade pequena do estado da Pensilvânia (Sim. Uma loja de souvenires poloneses.).

Eventualmente, ele inventa de começar a aceitar investimentos das pessoas para montar esse império da polca, prometendo a elas juros de 12% ao ano ao invés dos 3% que os bancos ofereciam. Valendo-se da sua persona de cara legal, trabalhador, honesto e amado pelos velhinhos, ele rapidamente consegue dinheiro suficiente para alavancar a carreira, o que o permite até mesmo contratar uma pessoa para se fantasiar de urso em seus shows, mesmo quando já contava com alguém fantasiado de galinha (Sim. O Rei da Polca tinha dois ajudantes de palco, uma galinha e uma ursa.).

Retratado com a leveza e o humor característicos do musical Jack Black, Jan Lewan, no que talvez seja uma liberdade que tenha sido tomada com a realidade, é uma excelente pessoa que tomou um caminho fácil em algum momento e viu uma bola de neve incontrolável se formando em suas mãos. Ao invés de tentar desfazê-la, mesmo quando avisado para tanto pelo próprio governo, ele resolve mais uma vez ir para o caminho fácil, fazendo com que a bola de neve só aumente.

Com um elenco de apoio muito bem azeitado, que conta ainda com Jason Schwartzman e Jacki Weaver, O Rei da Polca é uma boa comédia de absurdos que lembra um pouco Bernie – outro título estrelado por Jack Black, baseado em fatos reais e no qual um sujeito interpretado por Black explora a terceira idade. Aqui, contudo, nada faz sentido, tudo é ridículo demais para ser crível, mas nada é ficção e tudo ocorreu MESMO, confirmando, assim, a máxima de Tom Clancy.

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