Crítica: Raio Negro (Black Lightning) - A Ressureição (T01E01)
Foi totalmente livre de qualquer preconceito pró ou anti-DC e sem ter assistido a qualquer uma das séries que seguem os personagens da DC, mas que não fazem do universo cinematográfico (Arrow, Gotham, Flash, Smallville e sei lá mais o quê), que eu me sentei para assistir ao primeiro episódio de Raio Negro.
O Raio Negro original, criado em 77, foi a resposta da DC à criação de Luke Cage pela Marvel. A DC queria tanto entrar surfar a onda da blaxploitation que chegou até mesmo a contratar um dos argumentistas de Luke Cage na Marvel para criar o primeiro super-herói negro da DC. Não por acaso, o uniforme original de ambos é um pastiche meio racistoide de estereótipos da comunidade negra americana e são idênticos.
As semelhanças não param por aí. Ambos são também super-herois de bairro e lidam com coisas mais mundanas do que as ameças cósmicas dos Vingadores ou da Liga da Justiça. Ladrões de banco, assaltantes e, principalmente, traficantes são os vilões da vez. Não deve ser coincidência também que a série do Raio Negro seja lançada menos de um ano após o lançamento de Luke Cage pela Marvel e a Netflix.
Felizmente, a adaptação de Raio Negro consegue se desvencilhar da sombra de Luke Cage e traz um frescor às agora abundantes séries sobre super-heróis. Saem de cena os clichês de sempre de um sujeito descobrindo seus poderes, aprendendo a usá-los e fatalmente fazendo alguma merda com eles que o leva a se tornar um herói. Em seu lugar, temos um personagem que é um herói aposentado, um sujeito que, dez anos antes, havia erradicado o crime da cidade de Freeland, mas, por amor a sua família, abdicara do manto de Raio Negro.
Aposentado, com seus 40 e poucos anos, o Raio Negro agora é Jefferson Pierce (o carismático Cress Williams), o diretor de uma escola no que emula as comunidades pretas, pobres e devastada pelo tráfico de drogas das grandes cidades americanas. Ele repete com alguma frequência que já salvou muito mais vidas como diretor daquela escola do que como o Raio Negro, o que provavelmente é verdade e que poderia servir de lição para o Batman.
Pierce é pai de duas meninas e, por causa dos hormônios à flor da pele de uma delas, ele se vê obrigado a assumir novamente seus poderes elétricos para poder proteger sua família. Falar qualquer coisa além disso aqui vai ser spoiler e, pelo menos por enquanto, vamos poupar vocês disso.
Com um 1º episódio um tanto morno, mas promissor, Raio Negro estreia tomando algumas atitudes que, de cara, já o diferenciam das demais séries televisivas da DC. Há aqui temas mais adultos, com uso e tráfico de drogas, uma temática que aborda o racismo sem medo e logo de cara (Jefferson é parado e achacado por policiais em uma das primeiras cenas), um super-herói que não tem qualquer problema em matar e um vilão que vai deixar muito supremacista branco maluco e sem saber para quem torcer.
Trata-se de uma série que sugere, ainda que timidamente nesse primeiro momento, alguma autenticidade e ineditismo, mesmo que, paradoxalmente, seja baseada em um personagem genérico e praticamente copiado de outro.
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