Crítica: Sobrenatural: A Última Chave (Insidious: The Last Key)
“Nós temos que encarar nossos fantasmas do passado, para evitar que voltemos a encontrá-los no futuro”. Com essa premissa, Sobrenatural: A Última Chave volta cerca de seis décadas para, então, retornar à era em que estamos. Dessa vez, a sempre presente Elise (pela carismática Lin Shaye), médium que ajuda as pessoas a lidarem com eventos sobrenaturais, é desnudada em sua história de vida e passamos a conhecer a fundo os traumas, desejos e medos dessa personagem, bem como esse dom tão especial com o qual fora agraciada.
Quem não viu os outros dois filmes da franquia não ficará perdido nesse. São poucos momentos que ele faz referência aos antecessores. Eu mesmo lembrava muito pouco de cada qual e não me impediu de embarcar na nova obra de Adam Robitel. De início, o diretor nos coloca na casa de infância de Elise, quando logo de cara a menina, ainda novinha, desenha uma pessoa bizarra com expressão de horror e amarrada a uma cadeira. Em seguida, ela reproduz a fala de alguém que fora, naquele mesmo instante, executado na cadeira elétrica, bem próximo de onde mora. Mas esse dom que faz dela um ser especial, tão admirado por sua própria mãe, é motivo de medo por parte de seu irmão menor, e de desprezo absoluto por parte de seu pai, que insiste em castigá-la quando fenômenos como este acontecem (e eles acontecem o tempo inteiro). Dessa forma, Elise é obrigada a conviver com o modelo abusivo promovido por seu genitor.
Após termos conhecimento dos piores traumas de seus anos iniciais, a narrativa volta para o tempo (quase) presente, em 2010, com Elise recebendo um telefonema no qual há um pedido de ajuda. Ela é chamada para solucionar mais um caso de assombrações, mas quando puxa seu bloco de notas para escrever o endereço, aquela rua e número congelam nossa personagem: um convite à revisitação de seu passado. Não qualquer fantasma, mas os fantasmas do passado, que tendemos a guardar e jamais enfrentar. Hesitante, quase desistente, Elise resolve partir para dentro.
O filme parece se dividir em três momentos bastante distintos entre si: o passado e o presente (tendo neste a resolução de dois casos) – quase parece que eram dois enredos e que foram costurados no mesmo. Quando a linha condutora parecia se perder, de forma que chegamos a nos perguntar “mas, espera aí, isso virou outro filme?!”, o roteiro coloca a história de volta em seus trilhos iniciais. Levando-nos, então, à conclusão, que muito tem a ver, de fato, com a frase que abre o presente texto, apesar de uma moral da história um tanto sincera, o filme enquanto filme parece ficar devendo na narrativa que desenvolveu.
Ainda que conte com o mesmo roteirista, Leigh Whannell (também atuando no papel de Specs) não repete o belo resultado da primeira parte, nem flerta com o bom filme da segunda. Com um roteiro recheado de fórmulas e passagens previsíveis, tudo costurado por jump-scares tão somente, Sobrenatural: A Última Chave assusta nos poucos momentos em que o som explode, assim como faz rir nas breves gags que propõe. Mas deixa a desejar, não reproduzindo a força da pegada de James Wan, seja nessa franquia ou nas outras que ele dirigiu/produziu (como Invocação do Mal e Annabelle 2: A Criação do Mal). Como a produção vem dos mesmos “familiares”, esperava-se uma evolução no modo de fazer terror, tão falado por todos em Annabelle 2. Do contrário, esses fantasmas do passado pareceram presos ao terror do passado.
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