Garimpo Especial: 10 Séries Que Passaram Despercebidas Em 2017

Sendo sócio e editor de um site sobre cinema e séries, não passa um dia sequer sem que alguém me peça alguma dica de filme ou série para assistir. Foi com isso em mente que criamos o quadro Garimpo do site, no qual semanalmente damos dicas de 3 ou mais obras a serem assistidas, sejam elas filmes, séries, documentários ou até mesmo especiais de stand-up. Não que tenha adiantado alguma coisa, contudo, já que o mesmo tio que me indicou há 2 meses assistir um seriado “muito bacana” chamado “Breaking Bad” hoje mesmo me mandou uma mensagem pedindo uma dica de série para assistir na Netflix.

Não querendo ser óbvio ao indicar para ele Better Call Saul, The Crown e Stranger Things, todas séries já consagradas e que entregaram temporadas de boas a excelentes este ano, resolvemos aqui fazer este apanhadão de 10 séries que talvez tenham passado zunindo pela sua cabeça nesse ano de 2017 em que, aparentemente, 2 bilhões de séries novas foram lançadas, sem contar as novas temporadas das que já existiam.

O ano também viu algumas séries terem uma queda vertiginosa em audiência e qualidade, como The Walking Dead e House of Cards, além da série preferida de todo mundo, Game of Thrones que, por ter estabelecido um padrão de excelência inacreditável nas temporadas anteriores, deixou a peteca cair um pouco nesta, mantendo-se, ao contrário das outras duas, muito boa ainda.

É claro que, considerando os já referidos bilhões de série produzidas a cada mês, muitos outros obras que também valem o seu tempo foram deixados de fora dessa lista. Contamos com você e com o hate nosso de cada dia não só para que sejamos xingados porque não incluímos aquela sua série obscura turca favorita, mas também para que meu tio tenha ainda mais opções do que ver e encha menos o meu saco.

Gypsy, criada por Lisa Rubin, disponível na Netflix

https://youtu.be/HOlx-dqloTo

Quando as suas atitudes deixam de ser éticas? Quando uma compulsão sai do controle, quão longe você está disposto a ir para encobrir seus rastros? Essas duas perguntas vão te carregar por um carrossel de ansiedades na vida da psicóloga Jean Holloway (Naomi Watts), enquanto ela tenta ajudar seus pacientes. Em relações nada saudáveis, vemos seus pacientes sendo manipulados e tendo suas vidas significativamente alteradas sem consentimento por uma pessoa de confiança e com acesso a informações pessoais privilegiadas. Ao mesmo tempo vemos a vida pessoal de Jean bem conturbada em seu casamento com Michael (Billy Crudup) e com a identidade de gênero de sua pequena filha, Dolly (Maren Heary). Essa série original da NETFLIX consegue te deixar incerto de seu desfecho 100% do tempo e te fará questionar suas atitudes em relação às pessoas que te cercam.
Por Ryan Fields


Vice Principals, criada por Danny McBride e Jody Hill, disponível para assinantes da HBO no NOW da Net e na HBO GO ou HBO NOW

A premissa de Vice Principals é das coisas mais deliciosamente patéticas que já se viu. Na 1a temporada, o diretor do colégio North Jackson, interpretado brevissimamente por Bill Murray, se aposenta, o que faz com seus dois vice-diretores (cargo este que eu nem fazia ideia que existia) – o caipirão Gamby (Danny McBride) e a bicha-escrota-afetada-que-na-verdade-é-macho Lee Russel (Walton Goggins) – briguem pelo emprego, deflagrando no processo consequências, atitudes e eventos absolutamente inesperados para o que parecia ser uma comédia leve meio besteirol no início. McBride (também criador da série, roteirista e diretor de alguns episódios) e Goggins estão em estado de graça com seus personagens desbocados, politicamente incorretos e escrotíssimos, cada um a sua maneira. Nesta 2a temporada, Russel e Gamby lidam com o resultado dos eventos traumáticos do final da temporada anterior e, mais uma vez, entregam nove episódios engraçadíssimos, surpreendendo novamente ao final. Destaque absoluto para a briga do penúltimo episódio da temporada para deixar Peter Griffin e o frango no chinelo.
Por Gustavo David

The Young Pope, criada por Paolo Sorrentino, disponível para assinantes FOX Premium

https://youtu.be/zS2SzbivTds

O que Karol Józef Wojtyła, Joseph Aloisius Ratzinger, Jorge Mario Bergoglio e Jude Law tem em comum? Foram os chefes de Estado do Vaticano que vi em vida. Em The Young Pope vemos um Papa jovem (óbvio) e extremamente conservador chegar ao poder e implementar políticas reacionárias, indo na contramão daqueles que o elegeram. A série, além de adentrar pelos meandros políticos de que um Papa precisa dispor, mostra a intriga, a luta pelo poder e temas já esperados, como pedofilia e homossexualidade, além de pormenores tais como escolher cargos secundários e aprovar ou não merchandising oficial do Vaticano. Com a atuação estupenda de Jude Law, Diane Keaton (como a Irmã Mary) e Silvio Orlando (como o Cardial Voiello), The Young Pope é uma série muito mais sobre nós, reles mortais, do que sobre deus.
Por Ryan Fields


Glow, criada por Liz Flahive e Carly Mensch, disponível na Netflix

https://youtu.be/MmmmS2ZDBKQ

Ah, os anos 80… Vastas cabeleiras, devaneios e… luta livre. As mentes que nos deram Orange Is the New Black acertaram de novo com Glow, série delicinha que mostra o cotidiano de um grupo de mulheres desajustadas que encontram na Gorgeous Ladies of Wrestling (GLOW) uma chance de retomarem o controle sobre as próprias vidas e redescobrirem-se. Mesclando humor, emoção, visual e trilha sonora arrebatadores, ela entrega ao espectador muito mais do que os trailers prometiam. É uma reflexão sobre os altos e baixos da vida, o poder da amizade, da autoconfiança e mostra que, muitas vezes, empoderamento vem na base da porrada. Literal e metaforicamente.
Por Marco Medeiros

Glitch, criada por Tony Ayres e Louise Fox, disponível na Netflix

Após assistir o excelente filme australiano “The Rover – A Caçada“, a Netflix me indicou outra obra australiana: a série Glitch. A sinopse era interessante o suficiente para me fazer começar a assistir e, puta que o pariu, como estou feliz de ter aceitado a sugestão. Em uma cidadezinha meio que no meio de lugar nenhum na Austrália, várias pessoas simplesmente voltam à vida e ressurgem de suas sepulturas. Temos aqui pessoas que estão mortas há poucos anos, há décadas e algumas há mais de um século. Todos voltam normalmente, como se nunca tivessem morrido e com suas consciências de antes, ainda que com dificuldade de lembrar completamente suas vidas pré-óbito. No meio disso tudo, está o policial James (Patrick Brammall), que tenta descobrir o que está acontecendo ao mesmo tempo que fracassa miseravelmente ao conciliar sua nova vida com o fato de que sua 1a esposa, morta há 2 anos, acaba de voltar da tumba. Os 6 episódios da 1a temporada fazem um excelente trabalho de induzir o espectador a fazer várias perguntas sobre o que está acontecendo. Já na 2a, que estreou esse ano pelo Canal ABC na Austrália e pela Netflix internacionalmente, várias das perguntas são respondidas em uma série tecnicamente sem falhas e com atuações consistentes. Pense em Lost, mas com alguém se preocupando em dar respostas e não apenas em fazer perguntas. É refrescante que uma série com este tipo de tema, que entretém sem deixar de discutir temas relevantes como religiosidade e existencialismo, seja produzida fora dos EUA.
Por Gustavo David
Crítica da 2a temporada publicada em 29 de novembro de 2017


Atypical, criada por Robia Rashid, disponível na Netflix

https://youtu.be/I5W7mjSli30

“Quando a Netflix anunciou que lançaria uma série focada em um menino com autismo que se vê diante da adolescência e dos ritos que a envolvem, tive duas imediatas reações. A primeira foi de ficar bastante animada com a sinopse, muito pelo fato de trazer à superfície um transtorno negligenciado pela mídia. A outra foi de ficar apreensiva com as possibilidades de isso dar errado. (…) Atypical é uma série que surpreende positivamente por sua leveza, pegada cômica e bom desenvolvimento. Finalmente uma série adolescente à qual consigo me conectar sem esforços e até mesmo traçar paralelos com minha vida. Afinal, Sam, o amor é essa doideira aí mesmo e, por mais que você tente entender e ser empírico, acaba sendo labiríntico vez ou outra. As pessoas irão, inevitavelmente, sentir mágoa, ser causa de mágoa, amar, desamar, ficar confusas e fazer merda. O segredo é olhar para a lista dos prós e dar um sorrisinho gostoso com o canto da boca que faça o esforço e as doideiras fazerem sentido.”
Por Larissa Moreno em crítica publicada em 12 de agosto de 2017

Ela Quer Tudo (She’s Gotta Have It), criada por Spike Lee, disponível na Netflix

https://youtu.be/whvPjWm7ZE0

“A história toda acontece em 2016 e brilhantemente trata de levar consigo tudo que nosso mundo, 30 anos depois do original de 1986, tem a mostrar. Questionamentos sobre o feminismo, muito válidos, são expostos na roda de conversa de Nola e suas amigas; a realidade da mulher e sua infeliz vulnerabilidade nas ruas enquanto alvo de assédio, entre outras banalidades que vivemos. Essa eu achei o ponto alto de genialidade da série; não se trata mais de um ‘estudo’ sobre uma mulher que transava com mais de uma pessoa. De maneira triunfal e como defendo ser o ideal, o(s) relacionamento(s) de Nola são um detalhe e não definição de sua vida. Agradeço pela trama não mais orbitar em torno de homem ou de, por fim, uma escolha entre os três.”
Por Larissa Moreno em crítica publicada em 24 de novembro de 2017


This is Us, criada por Dan Fogelman, disponível para assinantes FOX Premium

Prepare os lenços, leitor MetaFictions. Sabe aquela série turbilhão de lágrimas, aquela que o episódio acaba e você quer ligar pra sua mãe e dizer que ama, que vai visitar mais e tudo? Assim é This is Us, sucessão nos USA e ainda meio desconhecida em terras brasileiras. Acompanhando o dia-a-dia da família Pearson (os irmãos Kevin, Kate e Randall, na atualidade e na infância e adolescência, junto com seus pais), o grande trunfo da produção é fazer com que todo mundo se conecte a ela. O título é muito bem escolhido, porque realmente “isto somos nós”. Amor e dor (eita rima pobre a que estamos condenados), medo, vitórias, fracassos, família, escolhas. This is Us é sobre o humano nosso de cada dia. Com um elenco afinadíssimo (SAG de melhor elenco e o magnifico Sterling K. Brown levando o Globo de Ouro, o SAG e o Emmy), um roteiro ajeitadinho e aquela facadinha no peito que a gente gosta, esse programa é imperdível. Ah, o primeiro episódio tem a transição de tempo mais legal e bem feita da história das séries.
Por Marco Medeiros

Merlí, criada por Héctor Lozano, disponível na Netflix

https://youtu.be/Wk8nUkwZLxk

Professores são criaturas interessantes. Quem, durante sua vida escolar, não se pegou pensando no que aquelas pessoas faziam quando não estavam dando aula? Agora imagine um professor de filosofia nem um pouco tradicional, recém despejado da sua casa, entrando numa turma de adolescentes e disposto a fazer que cada um deles aprenda a pensar por si próprio. De quebra, ele ainda tem que aprender a conviver com o filho que, até então, vivia com sua ex-esposa e agora passa a ser sua responsabilidade (e também aluno). Esse é Merlí Bergeron, que dá nome a uma das mais instigantes séries em exibição, já em sua segunda temporada na Netflix. Ah, de quebra, cada episódio leva o nome e se baseia em um filósofo ou escola filosófica, além de ser totalmente falada em catalão.
Por Marco Medeiros


Segura a Onda (Curb Your Enthusiasm), criada por Larry David, disponível para assinantes da HBO no NOW da Net e na HBO GO ou HBO NOW

Larry David é, junto com Jerry Seinfeld, a mente por trás da maior sitcom (chupem essa, fãs de Friends!) já criada: Seinfeld. George Costanza, inclusive, é abertamente inspirado nele. Depois de ficar triliardário, Larry meio que ficou sem fazer porra nenhuma até criar Segura a Onda, uma série que, por ser produzida pela HBO e não ter as amarras obrigatórias na TV aberta, é ainda mais genial que Seinfeld. Após 8 hilárias temporadas, Larry resolveu dar mais um tempo e em 2017, 6 anos depois, voltou afiado como sempre. Esta é uma série que acompanha uma versão ficcionalizada da vida de Larry David enquanto ele interage com pessoas interpretando a si mesmas, como o próprio Jerry Seinfeld, e grandes atores fazendo pontas como, por exemplo, Bryan Cranston como seu psicanalista. Nesta temporada, Larry é ameaçado de morte pelo Aiatolá do Irã, causa indiretamente a morte do sobrinho de seu amigo e arruína suas chances de montar um musical, tudo por causa de suas neuroses, mesquinhez e maluquice. É uma série que é obrigatória por inteiro e que inacreditavelmente é ignorada pelo público em geral no Brasil.
Por Gustavo David

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