RPR: Poltergeist: O Fenômeno (1982 - 2015)
Bem-vindos ao mais trabalhoso quadro do MetaFictions, o RPR. Como já falado lá na 1ª vez que o quadro foi ao ar, aqui nós comparamos as obras originais ou aquelas que fizeram mais sucesso com seus reboots, prequels e remakes, daí o RPR (ou seriam remakes, prequels e reboots?).
Hoje temos uma franquia que traumatizou uma geração inteira nos anos 80, com 3 longas, e que ganhou um reboot em 2015. Para efeitos comparativos, só irei utilizar o 1º filme dos anos 80, mas vale mencionar que o “Poltergeist II: O Outro Lado” é o meu favorito e que fatalmente será alvo de um quadro próprio em algum momento.
Este RPR estava engatilhado desde a semana de Halloween, mas foi adiado devido a outro belíssimo RPR que merecia maior destaque por conta do seu remake estar em grande evidência a época. Estamos falando de “It”, que recebeu diversas homenagens no site (Crítica de 2017, Nostalgia de 1990, RPR dos dois e Top 10 filmes de terror).
Embora goste muito do “It”, Penny Wise não é nenhum Bozo perto do palhaço de brinquedo do filme que assombra meus sonhos desde meados da década de 80. Somado às outras diversas cenas clássicas, o longa ainda detém um mistério à sua volta que me deixa até um tanto nervoso em rever a franquia: a maldição do Poltergeist.
Diversos membros da equipe e elenco vieram a óbito. Eu não estou falando aqui do camarada morrer 3 décadas depois, aos 70 anos, de ataque cardíaco. Falo de mortes por acidente, doenças raras e assassinato durante a produção da franquia nos anos 80. Talvez os exemplos mais tenebrosos sejam da atriz Heather O’Rourke (Carol Anne Freeling), que faleceu aos 12 anos logo após filmar o 3º filme devido a uma obstrução intestinal e Dominique Dunne (Dana Freeling) que foi assassinada por seu namorado assim que o 1º filme chegou aos cinemas.
Alguns especulam – e é só o que podem fazer – que isso se deve a uma “sábia” decisão de alguém da produção. A fim de poupar custos alguém se perguntou: “Sabe o que seria mais barato do que usar ossos cenográficos? Usar ossos de verdade.” Aí nasceu o mistério que cerca a franquia… será que os mortos estão de fato putos com a remoção de seus restos mortais, transformando o filme quase numa alegoria sobre ele mesmo? Bem, até agora ninguém do reboot morreu e foram usados ossos cenográficos…
Vamos ao que interessa. Os dois longas se apoiam na mesma premissa. Um cemitério é “movido” de um lugar para outro. Na verdade, só as lápides são, os corpos ficaram e acima deles é construído um conjunto habitacional onde a família Freeling vai morar. Na versão de 1982 o pai da família, Steve (Craig T. Nelson), é funcionário da construtora, enquanto no de 2015 o pai da família – agora chamada Bowen – Eric (Sam Rockwell), está desempregado. Só essa mudança já causa um impacto na dinâmica familiar.
Ambos os filmes seguem a mesma espinha dorsal: Acontecimentos estranhos, filha caçula é raptada para outro plano existencial e depois temos o resgate com a ajuda da “ciência” e um especialista. No entanto, temos GRANDES diferenças na forma como essa história é contada.
Começando pela mudança no nome e visual da mais querida personagem da franquia, a filha caçula da família, Carol Anne, que em 1982 era a criança loirinha mais fofa da Terra. Em 2015 passa a ser a morena Madison Bowen (Kennedi Clements). Carol sempre foi o rosto de Poltergeist e com essa mudança a franquia já perde muito do seu apelo, mas pelo menos Kennedi entrega uma atuação tão boa quanto.
Aliás, todo o elenco da versão 1982 é mais icônico do que o de 2015, talvez com a exceção do pai, interpretado pelo subestimado Sam Rockwell. Infelizmente ele tem a tradição em cair em filmes mal dirigidos e dessa vez não foi diferente. Fica muito difícil vender a imagem de um pai preocupado quando a atmosfera do filme não convence.
A dinâmica familiar em 2015 é muito mais dramática, com a família passando por sérias dificuldades financeiras, enquanto em 1982 temos uma família com pais maconheiros, divertidos e ainda contamos com um cachorro. Aí fica foda, né?
Além do elenco/personagens, a grande diferença talvez seja no tom do filme. Na versão de 2015 temos a história essencialmente se passando de dia, com uma fotografia colorida com cores fortes. Em 1982 temos o oposto, tons mais escuros, menor variedade de cores e história praticamente noturna. Qual será que te coloca mais no clima?
Embora no nosso instinto evolutivo saibamos que a noite é mais perigosa, um dos grandes motivos para o filme de 1982 se passar nesse período é o que fez a cena mais icônica de Poltergeist ser possível: Carol Anne e a TV de tubo com estática… e, caralho, como isso era assustador.
Era assustador porque isso ocorria em todos os lares durante a dinastia da TV de tubo quando a programação do canal acabava e a transmissão saía do ar, entrando somente estática. Isso ocorria sempre lá pelas 3h da manhã, um dos horários mais tenebrosos da noite e que me fazia cogitar ir ao banheiro ou me mijar na cama.
A versão de 2015, como todo reboot ultimamente, enfrenta o enorme desafio de adaptar cenas com uma tecnologia que faz dos acontecimentos dos anos 80 totalmente impraticáveis. Como ter estática hoje com transmissão digital, streaming e TVs que se programam para desligar? Mas isso não impediu o longa de refazer a cena, embora tenha perdido um pouco da sua magia.
Ao mesmo tempo que isso é um desafio, todo reboot também insiste em colocar todas as nossas tecnologias modernas no longa. Realmente precisamos de drones ajudando a resgatar uma criança em outro plano astral?
Já falando no resgate da caçula, temos a mesma dinâmica nos longas. Ela é raptada pelos espíritos que querem usá-la para chegar a luz, uma vez que ela é uma criança especial. Inclusive, ela some na metade dos dois longas, abrindo espaço para a investigação paranormal e a ajuda do especialista mediúnico.
Esse médium difere bastante nas duas obras, trazendo uma senhorinha, Tangina (Zelda Rubinstein), que está perto de ter nanismo, com uma voz medonha, na versão de 1982. E na versão de 2015 temos o bem mais conhecido Jared Harris, que interpreta Carrigan Burke, apresentador de um famoso programa de TV sobre casas assombradas.
Ambos são satisfatórios, com cada um apresentando certas peculiaridades. Carrigan é um verdadeiro showman, enquanto Tangina é tão assustadora quanto os espíritos que raptaram Carol Anne. Os médiuns ajudam muito no resgate, mas ele é realizado mesmo pelo membro da família com maior ligação com a caçula, o irmão do meio no reboot e a mãe no 1º filme.
Embora o resgate se dê da mesma forma – com uma corda que entra no outro plano pelo armário de um dos quartos e sai no teto da sala – a versão 2015 tem uma visão mais completa do que se passa do outro lado. Aliás, eles deveriam dar uma cutucada lá no pessoal do “Stranger Things”. Nada mais é do que uma versão do upside down da casa deles com uma mistura da casa de Câncer em Cavaleiros do Zodíaco.
Temos também o mesmo final em ambos, com os espíritos ficando muito “putos da morte” sem a sua chance de chegar a luz. Isso resulta na maior demonstração de força sobrenatural nos cinemas até o dia de hoje. A casa é completamente destruída e parte do bairro sofre grandes prejuízos.
Não posso encerrar esse RPR sem levantar a questão dos efeitos visuais, que junto com a questão tecnológica, é uma fonte de discussão inesgotável. CGI ou efeitos práticos? Caso em questão: a árvore. De um lado temos a árvore cenográfica sem folhas e muito assustadora da versão de 1982 e do outro temos a árvore carregada de folhas CGI nas cenas sobrenaturais. Aí é uma questão puramente de gosto. Ambos são bem feitos, mas para efeitos nostálgicos, ver aquela árvore que parece mais uma escultura demoníaca agarrar Robbie (Oliver Robins) é muito mais impactante e me deixou com um cagaço fudido.
Como vimos, os dois Poltergeist começam, passam e chegam aos mesmos pontos, mas por intermediários diferentes e em ambientes distintos, transformando-os em dois longas completamente diferentes em termos de tom.
Eu sei que gosto é algo muito pessoal, mas vai ficar difícil discordar desse resultado, hein?
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