Crítica: Kakegurui

Trazendo uma crítica positiva ou negativa – aí depende onde você se encontra no espectro liberal do mercado capitalista – a NETFLIX apresenta Kakegurui, seu mais novo anime original. Já com a 2a temporada confirmada, a obra se junta a outros animes que colocam estudantes ricos em ambientes escolares com regras exóticas, como se eles estivessem em um estudo psicológico sobre o comportamento humano.

Em especial estamos falando da Escola Privada Hyakkaou, que recebe os mais influentes e ricos alunos do Japão. Na verdade, nada temos do dia-a-dia escolar desses estudantes e o cenário serve apenas como pano de fundo para colocar adolescentes em situações adultas em uma análise interessante da nossa sociedade neoliberal.

Nessa escola, após as atividades curriculares (que basicamente não aparecem no anime), os alunos tomam parte em jogos de azar com apostas exorbitantes de dinheiro. Inclusive temos o Grêmio Estudantil como uma instituição reguladora desse sistema de apostas. Cada membro desse Grêmio é um jogador habilidoso, com muita influência e, claro, MUITO dinheiro.

Nesses jogos, que muitas vezes são postos como saudáveis, temos situações de endividamento. Alunos que chegam a esse nível ganham uma dog tag com os dizeres bichana/totó. Significando que são devedores e, logo, estão sujeitos ao pior tratamento possível. Pior ainda ficam os endividados com o Grêmio, que são submetidos a condições degradantes e comprometimento com metas para seu futuro profissional e pessoal muitas vezes destoantes de sua própria vontade, como ser obrigado a casar com determinada pessoa.

Essa relação não difere muito da relação que o FMI e o Banco Mundial tem com os países que não conseguem saldar suas dívidas, sendo obrigados a aceitar regulamentações bem discutíveis, como a privatização da água da chuva sofrida pela Bolívia em 2000.

Tanto no anime, quanto no mundo real, a solução para evitar tais condições é muito simples: pague o que nos deve ou sofra as consequências de romper com o sistema.

Talvez o mais interessante seja como Yumeko Jabami (aluna nova na escola e nossa protagonista) tenta subverter o sistema e implodi-lo, mostrando como as grandes fortunas de diversos alunos foram forjadas de forma ilícita e mantidas com trapaças, assegurando posições de influência dentro da escola. Talvez o mais triste seja ver muitos personagens tentando prosperar em um sistema já corrompido e viciado, mesmo que exceções existam, como a própria Yumeko.

Mas o que poderia ter sido um ótimo anime, perde um tanto com sua previsibilidade na maior parte dos episódios (calma… ele guarda algumas surpresas sim). Temos uma fórmula que, depois de impressionar 1… 2 vezes, perde impacto e já começamos a assistir o episódio esperando que Yumeko aponte as irregularidades e desmascare o sistema.

A NETFLIX segue em um bom ano com suas produções nipônicas e esperamos que a 2a temporada de Kakegurui consiga manter o nível de seu discurso, mas com um pouco menos de previsibilidade.

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