Garimpo Netflix: Austrália!

Mais conhecida no Brasil por causa de um restaurante americano, de comida americana e que, segundo os muitos australianos que já levei a ele, fracassa miseravelmente ao tentar emular o país dos cangurus, a Austrália tem uma indústria cinematográfica que está para Hollywood assim como o futebol brasileiro está para o europeu. Eles fazem muitos bons filmes, mas a principal relevância do país para o Cinema enquanto indústria é a revelação de talentos como Nicole Kidman, Geoffrey Rush, Cate Blanchett e Heath Ledger, só para ficar nos que ganharam Oscars.

Apesar desse pessoal em geral migrar para Hollywood, eles não deixam as produções de seu país de origem de lado e se juntam a outros nomes respeitados no cinema australiano para estrelar, produzir e dirigir filmes de lá. Ano passado mesmo uma pequena pérola chamado “O Acampamento” (resenhada por mim e um dos filmes de nosso Garimpo Especial: 10 Filmes Que Passaram Despercebidos em 2017) saiu aqui no Brasil e quase não passou em sala de cinema nenhuma

É em homenagem à terra que nos deu “Crocodilo Dundee“, “Happy Feet” e “Mad Max” que apresentamos o Garimpo Netflix de hoje. Aproveite, mate!


– The Rover – A Caçada (The Rover), de 2014, dirigido por David Michôd

https://youtu.be/BHxK5QGVRUQ

A Austrália tem lindas cidades na costa e um deserto gigante em seu centro. 90% de toda a sua população mora a poucos quilômetros do mar, enquanto que o centro é habitado por quase ninguém. Passado em um futuro (ou numa realidade alternativa) onde esse centro do país já não está mais sob um estado de direito após um colapso econômico global, The Rover conta a história de Eric (Guy Pearce), um sujeito que está dirigindo sabe-se lá para onde e tem seu carro roubado por uma gangue de ladrões. Eles acabam deixando para trás o semi-retardado Rey (Robert Pattinson) e Eric, obcecado em conseguir seu carro de volta, coopta violentamente a ajuda dele para reaver o possante.

Michôd escreveu este roteiro com seu amigo Joel Edgerton (o mais recente australiano a fazer sucesso em Hollywood) que, ao mesmo tempo que presta homenagem à Mad Max, o maior clássico australiano de todos os tempos, também fala da própria essência da Austrália e do poder que um homem sem nada a perder tem nas mãos. Contando com performances realmente estelares de sua dupla de protagonistas (Pattinson, em especial, está excelente em um papel pós-Crepúsculo que mostra para onde ele começava a direcionar a sua carreira), The Rover é um filme tão violento quanto contemplativo, no que é ajudado sobremaneira pela fotografia de Natasha Braier, que capta com verve o outback australiano.

Glitch, de 2015- , criada por Tony Ayres e Louise Fox

Comecei a ver essa série meio que do nada e ela se tornou uma das mais gratas surpresas que a Netflix já me deu. Produzida pelo canal ABC da Austrália e distribuída internacionalmente com exclusividade pela Netflix, Glitch é um “Lost” que apresenta algumas respostas enquanto faz outras perguntas, ao invés de só fazer perguntas. Gostei tanto da série que ela está em nosso Garimpo Especial: 10 Séries Que Passaram Despercebidas em 2017.

Agora em sua 2ª temporada (resenhada por mim aqui), Glitch conta a história de um grupo de pessoas que, do mais absoluto nada, simplesmente se levanta de seus túmulos não como zumbis carcomidos, mas exatamente como eram antes de suas mortes, com a curiosidade de que eles morreram de 2 a 200 anos antes do evento. Acompanhamos então o policial de cidade pequena James (em atuação bem segura de Patrick Brammall) tentando proteger todo mundo e, principalmente, entender o que caralhos está acontecendo, em especial porque uma das pessoas que ressuscitou é sua ex-esposa. Mistérios, reviravoltas e até mesmo um flerte com diálogos existencialistas estão todos nesta excelente thriller sci-fi/sobrenatural.

Promessas de Guerra (The Water Diviner), de 2014, dirigido por Russell Crowe

https://youtu.be/QRpZsqceHQ0

Além de ser um ator laureadíssimo, ganhador de Oscar por seu já classicaço Maximus Decimus Meridius em “Gladiador“, Russel Crowe (que é neo-zelandês e não australiano, apesar de ter feito a carreira por lá) também se aventurou na direção em alguns curtas e nesse seu único longa, Promessas de Guerra. Nele, Crowe também interpreta o protagonista, um fazendeiro do outback australiano chamado Connor cujos filhos vão lutar por “Rei e Pátria” na famosa batalha de Galípoli, na Turquia, da 1ª Guerra Mundial. Connor é o tal “Water Diviner” do título, aquele sujeito que tem uma espécie de sexto sentido que o permite achar água em climas desérticos usando apenas umas varetinhas.

Apesar de se dizer baseado em uma história real, não leve isso a sério, já que o que motivou o roteiro deste filme foi uma missiva militar em que um oficial australiano que estava em Galípoli anos depois da batalha contava que um conterrâneo havia aparecido lá procurando pelo corpo de seu filho. A partir daqui, o roteiro foi totalmente imaginado e o personagem de Connor foi criado. Promessas de Guerra é um filme que lida com o luto pelos que já foram e a culpa dos que ficaram, demonstrando que a guerra faz muito mais vítimas do que as baixas em campo de batalha. Ainda que o roteiro e a direção sejam um tanto clichezentos em alguns momentos, as atuações de Crowe e, principalmente, de Yilmaz Erdogan como o Major Hasan, complementam perfeitamente o clima corta-coração da obra.

Jim Jefferies: BARE, de 2014

De brinde, deixo-vos com BARE, certamente no Top 5 dos mais engraçados, escrachados e brilhantemente entregues especiais de stand-up originais da Netflix. Este é o especial que tornou Jim Jefferies um dos mais reconhecidos e famosos comediantes de stand-up do mundo e torna-se bem evidente o porquê logo de cara com ele zuando a própria namorada e seu filho recém-nascido. Neste especial, Jefferies faz piada com tudo, esculachando o modo de vida americano e fazendo uma piada sobre o controle de armas nos EUA que viralizou pelo mundo todo. Eu realmente não tenho adjetivos o suficiente para descrever o quanto BARE é excelente.

Jefferies hoje é apresentador de um talk show chamado “The Jim Jefferies Show” no Comedy Central americano. A Netflix também comissionou a ele o também muito bom especial de stand-up “Freedumb“, no qual ele fala do autismo do qual sofrem ele e o filho, além de atirar sem parar em Donald Trump, o alvo preferido dos comediantes nos últimos tempos. Ainda há a série “Legit” na qual ele meio que interpreta a si mesmo num ambiente ficcionalizado em que ele é um comediante tentando trabalhar enquanto tenta lidar com a deficiência severa de um amigo. Todos recomendadíssimos, mas nada supera BARE.

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