Garimpo Netflix: Indicados ao Oscar
Em toda a história dos Oscars, vários filmes que o tempo provou serem obra-primas simplesmente foram ignorados. Alguns, como “O Iluminado” (votado aqui no MetaFictions como o maior filme de terror de todos os tempos em nosso Top 10 – Filmes de Terror e apaixonadamente analisado em nosso Assista!: O Iluminado), sequer receberam qualquer indicação. Outros, como “Um Sonho de Liberdade” (constando em nossa lista das 10 Melhores Adaptações da Obra de Stephen King e o melhor filme de todos os tempos segundo as notas do IMDB), chegaram a ser indicados, mas não levaram para casa nenhuma estatueta sequer.
Esta semana, portanto, fazemos uma garimpo um pouco diferente. Ao invés de apresentar filmes obscuros e realmente desconhecidos dentro do catálogo da Netflix, vamos falar de obras que foram indicadas ao Oscar em alguma categoria, mas saíram de mãos abanando. Muitas delas, apesar de seus muitos méritos, acabaram por cair no ostracismo, com os cinéfilos não dando a elas o valor que merecem. Todas as obras aqui indicadas caem nessa categoria e, embora não se possa dizer que foram realmente injustiçadas (já que os vencedores do ano foram merecedores), estas não deixam de ser obras magníficas e que merecem a sua atenção.
Aproveitem!
– Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom, de 2015, dirigido por Evgeny Afineevsky, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2016
Foi com seus documentários originais que a Netflix começou a se intrometer entre os grandes players do mercado do Cinema. Em 2016, ela teve dois documentários originais indicados, o aclamadíssimo “What Happened, Miss Simone?” e este Winter on Fire, ambos perdendo o careca para o midiático e igualmente sensacional “Amy“. Ao contrário dos demais, que contavam a trágica história de duas grandes e talentosíssimas divas da música universal, Winter on Fire fala sobre a tragédia que são a humanidade e seus sistemas políticos, um tema muito mais abrangente e atemporal.
Em 21 de novembro de 2013, os ucranianos foram à uma praça principal de Kiev chamada Maidan para protestar a decisão perversa do então presidente Yanukovych (exilado na Rússia desde o fim dos protestos) de, ao contrário do que havia prometido em sua campanha, suspender as negociações para que a Ucrânia passasse a integrar a União Européia em favor de uma aproximação nefasta com a Rússia, instigando nos ucranianos sensações de pânico que remontam ao meio século em que o país passou sob o jugo de Moscou. Durante o rigorisíssimo inverno ucraniano, milhares de cidadãos enfrentaram meses de truculência das tropas de choque de Yanukovych de maneira pacífica, até que a truculência se torna um chacina impiedosa de centenas de pessoas com o uso de armas de fogo contra manifestantes desarmados. Isto tudo levou, finalmente, à renúncia do presidente e à consequente entrada da Ucrânia na União Europeia. Meses depois, contudo, a Rússia invadiu e anexou a Criméia.
Chega a ser assustador o quanto o filme é atual para nós, brasileiros, e para o momento político que vivemos, no qual a classe política usa o país como refém de seus privilégios e esquema, servindo a obra como uma lição duríssima, mas necessária.
– Atração Perigosa (The Town), de 2010, dirigido por Ben Affleck, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Jeremy Renner em 2011
Ben Affleck começou sua carreira na direção com o excelente “Medo da Verdade“. Pouco tempo depois, mais uma vez se valendo de sua natal Boston como pano de fundo, Affleck escreve, dirige e estrela Atração Perigosa, contando com um elenco talvez não estrelado, mas tecnicamente incomparável (Rebecca Hall, Jon Hamm, Blake Lively, Pete Postlethwaite e Chris Cooper). Affleck conta a história de Doug (Affleck), um assaltante de banco em Boston que se envolve com a gerente do banco que ele tomou como refém no último assalto (Hall). Renner vive James, comparsa de Doug. Enquanto eles são perseguidos pelo agente do FBI vivido por Jon Hamm, Doug começa a questionar suas escolhas por causa do sentimento que nasce dentro de si, com James funcionando como aquele sujeito que sabe o que é e não tolera dúvidas quanto a isso.
Falo com tranquilidade. Trata-se de um dos melhores filmes disponíveis na Netflix, um filme de assalto como poucos e que está no mesmo nível de “Argo” (também disponível na Netflix), longa que ganhou o Oscar de melhor filme alguns anos depois, dirigido e estrelado pelo mesmo Affleck. Renner aqui meio que reprisa seu papel em “Guerra ao Terror”, pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator no ano anterior, como um cara esquentado, meio que viciado na adrenalina e conformado com quem ele é. No Oscar de 2011, Renner perdeu para Christian Bale, talvez o mais consistente e sério ator de sua geração, por seu papel em “O Vencedor“.
– Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road), de 2008, dirigido por Sam Mendes, indicado aos Oscars de Ator Coadjuvante para Michael Shannon, Direção de Arte e Figurino em 2009
Sam Mendes estreou na direção de filmes com aquele é um dos meus favoritos de todos os tempos: “Beleza Americana“. Depois disso, ele fez alguns outros longas, todos excelentes, mas que jamais tiveram a mesma repercussão que sua obra original. Neste Foi Apenas um Sonho, Mendes recrutou Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, 10 anos depois do estrondoso sucesso de “Titanic“, para que eles fossem os protagonistas deste drama passado em meados da década de 50 e que conta a história de April e Frank, um casal que começa uma vida juntos cheios de sonho e veem as expectativas que a sociedade lhes impõem (e eles aceitam) oprimir tudo aquilo que sempre desejaram.
Além de contar com a sempre magistral direção de Mendes e da interpretação corretíssima da dupla de de protagonistas em DRs que fazem doer a alma de tão pertinentes e relevantes a própria condição humana, este longa também começou a apresentar ao mundo o monstro em forma de artista que é Michael Shannon. Apesar de ter um papel realmente coadjuvante, seus poucos minutos de tela foram suficientes para lhe garantir sua primeira indicação do Oscar em um ano em que era impossível vencer, já que Heath Ledger concorria postumamente por seu papel de Coringa em “Batman: O Cavaleiro das Trevas“.
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