Crítica: Love - 3a Temporada

Love é o tipo de série que você vê no catálogo da Netflix e se pergunta: por quê não assistir? Tratando-se de um romance indie, de uma série que aparenta ser leve e “assistível” com episódios de 30 minutos, é algo que tem potencial de ser divertido e entreter, como consequência. Foi assim que sua primeira temporada se sustentou. Consciente de que isto era muito pouco para renovar a série, seu principal criador, o celebrado Judd Apatow, tratou de mandar desenvolver o roteiro e entregou uma 2ª temporada muito mais consistente que a anterior.

Seguindo o mesmo (sagaz) pensamento, não fez diferente nesta terceira. Inseriu em todos os seus personagens maior veracidade, estabilidade e personalidade. A evolução é visível e a última temporada da série, que fecha a história do casal Gus (Paul Rust, co-criador da história também) e Mickey (Gillian Jacobs), é indiscutivelmente a melhor produzida e escrita, além da mais honesta.

Gus e Mickey, o casal mais não-shippável que você respeita.

Gus continua inseguro, irritante mas, de alguma forma, fofinho. No entanto, a fofura não é o suficiente para ele ser um personagem com quem você cria empatia, tornando-se inclusive mais um fator para ele ser difícil de olhar sem querer se matar. Há momentos breves de pena, já que seu jeito condescendente e forçosamente positivo atrapalha sua vida e, no geral, faz com que as pessoas ao seu redor o humilhem e sejam impacientes com ele. Mas isso é compreensível, perdoem-me a crueldade que isso aparenta, já que ele relembra o espectador segundos depois do quão insuportável é.

Enquanto isso, Mickey está na melhor fase da sua vida, em contraste com a de Gus. Ela está agora saudável, equilibrada e feliz, e começa a entender que felicidade não é algo idiota e que, se for, meio que se foda. Se antes a personagem se mostrava autodestrutiva e procurava tanto se comportar como uma cretina quanto por pessoas cretinas, isso parece ter mudado. Pelo visto ela está em modo de potência total em ser a melhor pessoa que ela pode ser sem deixar de ser autêntica consigo mesma, e seu trabalho mostra os frutos dessas boas escolhas em sua vida. E, apesar da contínua diferença entre ela e Gus, o relacionamento dos dois vai de vento em popa como nunca antes, mostrando-se maduro e sólido – devo aqui dar créditos à Mickey e sua nova aura que faz tudo funcionar ao seu redor.

A nova temporada da série trabalha muito com contrastes. Entre Mickey e Gus o contraste não mais é pelos jeitos completamente diferentes – o casal parece ter achado um consenso no que tange a relação dos dois, onde ambas as suas personalidades se encaixam e estão em sintonia -, mas por viverem momentos profissionais que se distanciam. Outro contraste, já olhando através de um plano mais aberto, é entre a relação dos dois e as relações ao seu redor. Pelo fato de Gus e Mickey estarem vivendo um momento de amor e calmaria que é comum ao início da relação, os demais casais em volta se destacam por aparecerem em cena discutindo, reclamando ou insatisfeitos em algum nível.

Isso pode acontecer pela comparação com G&M ou por, de fato , os relacionamentos estarem meio ruins. Ou, indo ainda mais longe, por uma tentativa do escritor de deixar a mensagem de que a resiliência faz parte de relacionamentos de longa duração. E aqui uso a palavra resiliência para não cair na tentação de negativamente dizer “aturar a merda um do outro”. Como dito, Love abre espaço pra histórias antigas para além de Gus e Mickey serem desenvolvidas. Entre elas, o relacionamento de Randy (Mike Mitchelle Bertie (Claudia O’Doherty) ganha maior atenção e se mostra em crise. Começo a me questionar se existe algum personagem masculino nessa série que não é insuportável, já que Randy tem características odiáveis de bebê-de-30-anos, mostrando-se um deitão que não tem perspectiva nenhuma sobre um futuro adulto. Tadinha da Bertie, eu gosto tanto dela…

A Bertie tinha que ter uma série só pra ela.

Por fim, a série sensatamente termina em seu ápice, não optando por prolongar uma história quando não há mais nada a ser contado como infelizmente muitas produções fazem. Respeitosamente, temos uma história de amor não-romântico, ou seja, de amor da vida real. Tem merda. Tem momentos legais. Tem momentos que fazem suspirar. Mas aí tem mais merda. Tem você olhar pra cara da pessoa e se perguntar como é possível você gostar de alguém tão quadrado e pau no cu como Gus é. Ou, trocando de lado, tem inseguranças invadirem em função de estar com alguém tão maluca como Mickey.

Por fim, é necessário analisar honestamente o que pesa mais: merda ou coisas legais. Sim, eu estou falando tudo de uma maneira simplificada por que já estamos bombardeados e exaustos de grandes teorias sobre o amor. Arrisco dizer, até, que o amor é superestimado. E acho que, em algum grau, Love concorda comigo a respeito disso.

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