Crítica: Perda Total (Game Over, Man!)

Temos aqui no MetaFictions um povo metido à besta e um tanto afetado que adora usar uma expressão que eu detesto: guilty pleasure. É uma tentativa torpe de se manter um verniz de suposta intelectualidade mesmo quando há a confissão de que se gostou de algo que é tido pela maioria como uma porcaria. Seria algo como se, nos estertores de sua recente morte, Stephen Hawking chegasse com sua espetacular voz de robô e dissesse que adora todos os filmes do Adam Sandler e logo depois dissesse que é um guilty pleasure como que para manter intacta a sua fama de gênio.

Perda Total parece tentar se fiar nisso para conquistar seu público. O trio de protagonistas é vivido pela galera que escreve e produz uma série de alguma popularidade no Comedy Central americano chamada Workaholics, na qual  eles – Adam Devine (o mais reconhecível do grupo), Anders Holm e Blake Anderson – interpretam três amigos inseparáveis que moram e trabalham juntos numa empresa de telemarketing.

Ainda mais difícil de acreditar do que 3 homens brancos nos seus 30 e poucos anos trabalhem com telemarketing nos EUA é engolir que estes mesmo 3 homens brancos nos seus 30 e poucos anos possam trabalhar como camareiras em um hotel em Los Angeles. E, acredite ou não, essa é a trama do filme. Os 3 amigos são camareiros (se é que existe essa masculinização de camareira no vernáculo) de um hotel no qual um bilionário tunisiano (Utkarsh Ambudkar), conhecido por chupar buceta de hiena (não, você não leu errado), vai dar uma festa. Ocorre que, em um claro tributo ao clássico Duro de Matar (com Nostalgia aqui no site), o hotel é invadido por bandidos que querem extorquir uma grana do chupador e não há nada no caminho deles que não nossos heróis camareiras.

O resto você já consegue inferir mais ou menos como vai ser, certo? O que importa neste tipo de filme não é como ele vai terminar ou as surpresas que o roteiro nos reserva, mas exclusivamente a qualidade das piadas apresentadas e de quem as entrega. Muitas comédias de escracho absoluto como essa vão muito bem porque se sustentam no carisma e, principalmente, no talento cômico de seus intérpretes. Um bom exemplo recente disso é “Anjos da Lei” e sua continuação, nos quais Jonah Hill e Channing Tatum se divertem para o nosso entretenimento, ou a grande maioria das comédias da turma de Seth Rogen e Judd Apatow.

Perda Total tenta beber dessa fonte, mas, além da falta de qualquer sentido de seu roteiro, esbarra principalmente na uni-dimensionalidade de todos os seus protagonistas e na falta de timing cômico de pelo menos dois de seus intérpretes, enquanto que o que sobra, Adam Devine, até que tem uma certa veia cômica na entrega das piadas, mas a maior parte delas se sustenta exageradamente no vômito de impropérios ou em alguma coisa relacionada a seu pau.

Temos aqui, portanto, um clássico filme merda que muitas pessoas vão adorar por que há também as clássicas piadas com drogas, genitálias, sexismo, participações especiais e um sujeito chupando o cu de um gordo como forma de punição. Mas, afora algum sucesso com algumas das piadas, trata-se de uma bobagem até um tanto entediante, daquelas com moralzinha ao final da história de que “quem tem amigos tem tudo”.

O “Game Over, Man!” original.

Caso você absolutamente precise ver um filme de comédia escrachada apenas para passar o tempo, o recente Baywatch: SOS Malibu (resenhado aqui) provavelmente agradará mais pois, apesar de ser também uma bela duma porcaria, é uma porcaria com uma dupla de protagonistas excelente (Zac Efron e Dwayne “The Rock” Johnson), além de ter tetas, masculinas e femininas, balangando por aí em gente corrento com pouca roupa. Só, por favor, não me fale em guilty pleasure.

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