Filmes Emblemáticos Sobre Automobilismo

Seguindo com nossas homenagens pelos 23 anos da morte de Ayrton Senna, o maior herói nacional que o esporte deste país já gerou, nós aqui do MetaFictions nos juntamos para bolar uma lista com alguns emblemáticos filmes sobre automobilismo. Contudo, com exceção de Ryan Fields (que escreveu ontem uma tocante homenagem a Ayrton Senna) e de mim, o povo daqui é todo metido à besta e assiste quase que exclusivamente filmes mudos butaneses sobre a situação emocional de um monge budista diante dos desafios da modernidade nos becos escuros da metrópole de Thimbu.

Foi difícil, mas conseguimos reunir uma lista de 11 filmes sobre este assunto apaixonante. Alguns clássicos, alguns muito bons, outros meramente curiosos e um, especificamente, obrigatório para o cinema brasileiro. Não vamos aqui ranqueá-los dessa vez, muito em função da nossa absoluta incapacidade em avaliar se um filme com Roberto Carlos é melhor do que um filme com Elvis Presley.

De todo modo, se há uma coisa que os reúne todos em um mesmo balaio é o uso da obstinação humana como força motriz de uma história, o que faz muito sentido considerando que são pessoas competitivas ao extremo que, pelo gosto da vitória, arriscam as suas vidas com prazer.

Discordam da lista? Faltou algum filme? Acham que somos bobos, feios e chatos? Deixem suas opiniões nos comentários!

Grand Prix, de 1966, dirigido por John Frankenheimer

O mais premiado filme dessa lista, Grand Prix ganhou os Oscar de Montagem, Som e Efeitos Sonoros em 1967, além de ter sido, por muito tempo, a principal e melhor película sobre automobilismo feita. Um dos primeiros longas da história a ser produzido com o intuito comercial claro de ser um sucesso mundial e com um elenco internacional contando com nomes lendários como Toshiro Mifune, Yves Montand e Eva Marie Saint, o longa nos apresenta a história de Pete Aron (o grande James Garner) durante uma temporada de Fórmula 1 na qual disputa o título com mais 3 pilotos, isso tudo enquanto todos eles precisam lidar com suas carreiras, o impacto que ela tem sobre suas vidas e o risco de morte a cada novo final de semana de corrida. As cenas de corrida são o destaque desta produção, em closes tecnicamente perfeitos e respeitosamente pornográficos.


Rush: No Limite da Emoção (Rush), de 2013, dirigido por Ron Howard

O mais recente e certamente melhor filme dessa lista. Rush conta a história da intensa rivalidade entre os pilotos de Fórmula 1 James Hunt (Chris Hemsworth) e Niki Lauda (Daniel Brühl), dois campões e lendas do esporte. O longa foca na relação de quase dependência entre os dois e em como grandes rivais são, com raríssimas exceções, a mesmíssima pessoa. As cenas de corrida aqui servem apenas como complemento à história e são belissimamente filmadas. Destaque absoluto para a sempre segura direção de Ron Howard e para a performance da dupla de atores principais.

– Roberto Carlos a 300 Quilômetros Por Hora, de 1971, dirigido por Roberto Farias

Alguns de vocês conhecem Roberto Carlos apenas como o velhinho manco que canta músicas chatas no final do ano da Rede Globo. Mas, antes disso, Roberto Carlos foi uma espécie de Luan Santana de sua época, mas muito maior. A sua vó provavelmente gritava por ele mais alto e escandalosamente do que você grita pelo Luan Santana. Como o grande expoente do movimento que ficou conhecido como Jovem Guarda, Roberto Carlos chamou para estrelar o filme consigo o tremendão Erasmo Carlos e, para dar alguma legitimidade artística, convidou também aquele que é possivelmente o maior ator da história deste país: o falecido Raul Cortez. Clássica história da gata borralheira, na qual Roberto Carlos é um mecânico de uma equipe de corrida que, por um acaso do destino, consegue se tornar piloto. Basicamente, uma desculpa para dois grandes artistas daquela época (e de qualquer outra) correrem de carro e pegarem vários brotos brasa, mora?


– O Bacana do Volante (Speedway), de 1968, dirigido por Norman Taurog

Se Roberto Carlos era maior que Luan Santana, Elvis Presley era algo MUITO maior do que Justin Bieber é ou jamais será. O filme em si não é assim lá essas coisas, mas vale a pena ser assistido nem que seja só para ver que Elvis Presley era realmente o Rei, seja ao cantar, seja ao fingir que dirige. Entremeado com vários números musicais, nos quais contracena com Nancy Sinatra (filha do Frank) e Bill Bixby (o David Banner da série do Hulk), o filme trata de um corredor de Stock Car mão aberta que, por culpa de seu empresário (a culpa é sempre do empresário), se vê devendo uma grana violenta ao Leão. Evidentemente, Elvis vai balançar, chacoalhar e rolar (os fortes entenderão) até conseguir se safar dessa e continuar esbanjando sua grana. 

Ricky Bobby – À Toda Velocidade (Talladega Nights: The Ballad of Ricky Bobby), de 2006, dirigido por Adam McKay

Adam Sandler conseguiu a proeza de criar um tipo de filme cujo gênero é “Comédia de Adam Sandler”. Will Ferrell conseguiu algo parecido nos últimos 10 anos, ainda que intercalando suas comédias escrachadas com bons papéis dramáticos. Este filme, dirigido pelo agora oscarizado Adam McKay (que ganhou como melhor diretor por “A Grande Aposta“), conta a história de um piloto de Nascar que é tão imbecil e escroto quanto é inadvertidamente engraçado. É a clássica e batida história do sujeito que é o fodão e, do nada, perde tudo, restando-lhe apenas dar a volta por cima. As cenas entre Will Ferrel e John C. Reilly são hilárias e em boa parte improvisadas. Sacha Baron Cohen, o Borat, faz uma engraçadíssima participação como um piloto europeu meio aviadado.


500 Milhas (Winning), de 1969, dirigido por James Goldstone

Um dos maiores atores da história de Hollywood, Paul Newman era também um aficcionado pelo automobilismo, tanto que correu competitivamente em várias categorias até um ano antes de morrer com 83 anos, em 2008, além de ter sido dono de uma equipe da Fórmula Indy. O filme mostra Newman como um piloto de Fórmula Indy obcecado em vencer as lendárias 500 Milhas de Indianápolis, o que acaba por ameaçar o seu relacionamento com sua família. Apesar de ser meio caça-níquel, explorando a popularidade do esporte à época, Paul Newman consegue entregar mais mais uma de suas inúmeras memoráveis performances.

Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious), de 2001, dirigido por  Rob Cohen e Mel City

Ok, a série Velozes e Furiosos não é exatamente sobre o esporte do automobilismo, mas é um filme obrigatório para os amantes de carros no cinema. Antes de se tornar uma franquia multibilionária sobre conspirações terroristas, agentes secretos e submarinos nucleares, Velozes e Furiosos era só Vin Diesel e um monte de Civic tunadão batendo pega pelas ruas de Los Angeles. No filme original, Paul Walker se infiltra na panelinha do personagem de Vin Diesel para desbaratar uma quadrilha de ladrões. No processo, é claro que ele vai pegar a irmã do Vin e vai questionar sua lealdade à polícia e blá blá blá. Eu até hoje tento recriar a cena em que Paul Walker dirige olhando para a fêmea ao seu lado ao invés de olhar para a pista, mas em geral eu me cago em um segundo e volto a olhar pra frente. O filme, apesar de não ser nenhuma obra prima, é algo extremamente pornográfico e agradável àqueles entres nós que amam carros, com cenas excelentes dos pegas e do Vin Diesel passando a mesma marcha 25 vezes.


Corrida Mortal (Death Race), de 2008, dirigido por Paul W.S. Anderson

Também não é exatamente um filme sobre automobilismo, mas as pessoas usam seus carros como tanques de guerra em perseguições automobilísticas inacreditáveis, o que já é o suficiente para estar aqui nessa lista. Corrida Mortal é um dos filmes que começou a solidificar a reputação de Jason Statham como o protagonista alfa dos filmes de ação de hoje em dia, posição que agora ele divide com The Rock (muito embora The Rock seja hoje o mais bem pago e popular astro de Hollywood). Em um futuro não muito distante, condenados participam da Corrida Mortal do título em troca de sua liberdade em um evento televisionado para o mundo todo e com uma audiência maior que a do Super Bowl. Basicamente, é um Carmageddon onde só pode restar um. Armam para cima de Jason Statham, um corredor campeão da Nascar, e ele vai preso. Sem escolha, ele é obrigado a participar da tal Corrida Mortal para tentar ganhar sua liberdade. Mais uma vez, pornografia para os fãs de carros, corridas e ação.

Dias de Trovão (Days of Thunder), de 1990, dirigido por Tony Scott

Clássico da Sessão da Tarde, Dias de Trovão estrelava um jovem e em ascensão Tom Cruise como um piloto novato de Nascar que se acha o gostosão porque ele realmente o era (afinal de contas, é o Tom Cruise) correndo em outra categoria. Eventualmente, o protagonista se envolve com Nicole Kidman e briga com Robert Duvall até ir ao fundo do poço. Este era um filme que passava na Sessão da Tarde, então é óbvio que ele vai sair do fundo do poço, dar a volta por cima e ser feliz para sempre. Apesar do roteiro ser algo bem genérico, a direção das cenas de corrida é excelente, com destaque para as espetaculares cenas de acidente. 


Carros (Cars), de 2006, dirigido por John Lasseter e Joe Ranft

A razão de Carros estar nessa lista é porque sim. E porque meus sobrinhos me fizeram assistir a isso 237 vezes antes da gente ver Carros 3 no cinema (assistam a esta aventura aqui). E, principalmente, porque, apesar de ser uma animação, tem em comum aquele mesmo tema que permeia todos os demais filmes sobre automobilismo: a obstinação e a vontade de vencer. McQueen (voz de Owen Wilson e com nome explicitamente inspirado em Steve McQueen) é um super campeão da Nascar em um mundo de carros antropomorfizados. Como acontece em uma porcentagem alarmante de filmes sobre esporte, McQueen cai em desgraça por algum motivo qualquer e precisa trabalhar duro para voltar ao topo. Curiosamente, este foi o último longa metragem de Paul Newman, que morreu no ano de seu lançamento. Considerando seu mais do que comprovado amor pelo esporte do automobilismo, esta passagem de bastão é de uma beleza poética.
As 24 Horas de Le Mans (Le Mans), de 1971, dirigido por Lee H. Katzin

Steve McQueen estrela este longa sobre a lendária prova das 24 Horas de Le Mans, a prova de automobilismo mais antiga do mundo na qual dois pilotos se revezam por 24 horas correndo em um circuito fechado. Quase que um documentário tamanho o seu realismo e atenção aos detalhes, a película nos apresenta o personagem de McQueen (nome tão ligado ao automobilismo que batizou o protagonista da animação Carros) tentando superar um trauma do passado para vencer esta que é considerada a mais difícil e extenuante prova do automobilismo mundial. Apesar de ter sido um fracasso comercial, é um filme cultuado obsessivamente pelos amantes de carros e automobilismo, tendo sido feito com um esmero técnico comovente. A trama não é das mais elaboradas, mas o realismo e a qualidade técnica das filmagens das corridas o torna obrigatório para qualquer pessoa que goste do esporte. Este longa também levou ao lançamento do documentário de 2015 “Steve McQueen: The Man & Le Mans“, que conta a incrível história da realização do filme e da verdadeira paixão de McQueen pelo esporte.

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