Crítica: Aggretsuko
NETFLIX e a empresa Sanrio – especializada em produtos voltados para a cultura kawaii (com design fofinho), tendo na Hello Kitty sua maior representante – se juntam para trazer ao formato serial em 1 temporada de 10 episódios a adorável Retsuko (Kaolip). O grande público talvez não a conheça, mas antes de ser agraciada por essa magnífica distribuição, Aggressive Retsuko (como era conhecida), tinha seu formato de lançamento próprio no Japão que já conta com mais de 90 episódios e gozava de certa fama pelo YouTube, talvez motivo pelo qual tenha conseguido se repaginar nessa gigante do streaming.
Em uma sociedade idêntica à animação “Zootopia” – com animais antropomorfizados – Retsuko é uma panda vermelha de 25 anos, solteira e escorpião. Ela trabalha em uma empresa no setor de contabilidade e tem diversos anseios. Infelizmente, por não possuir a experiência de escritório, vide que sou professor de geografia boa parte do meu tempo, careço da perspectiva da relação direta do trabalho com seu chefe, especialmente em terras tupiniquins. No Japão, há algum tempo, existe toda uma preocupação com o estresse causado por esses ambientes de trabalho e diversas pesquisas acadêmicas, assim como obras ficcionais, abordam constantemente o tema.
https://www.youtube.com/watch?v=5JjRJQ9pdMI
Retsuko também não deu sorte. Seu ambiente de trabalho é tóxico, especialmente pelos abusos sofridos nas mãos de seu chefe porco chauvinista (e ele é de fato um porco), e alguns colegas de trabalho que abusam de seu caráter gentil e prestativo. Para aliviar toda essa sua tensão causada pelo estresse, nossa pandinha tem um segredo… ela expurga todo esse veneno cantando ferozmente um bom e alto death metal! Para aqueles que acham que metal é apenas gritaria e sons aleatórios, em especial subgêneros mais agressivos como o death metal – e para ouvidos destreinados pode parecer realmente isso -, o metal te proporciona, dentre inúmeras outras coisas, uma catarse. É justamente isso que Retsuko busca, limpar sua alma ao final do dia para recomeçar o próximo zerada.
A série tem um início avassalador, com os 4 primeiros episódios fantásticos, mas que depois se perde e acaba por pisar em tudo o que construiu. Há uma enorme preocupação em retratar a discriminação de gênero dentro do ambiente de trabalho de diversas perspectivas pelo chefe Porcão (sim, esse é seu nome) às suas funcionárias. Não somente isso, a série acerta em cheio ao mostrar como a sociedade japonesa projeta nas mulheres um padrão muito distinto de comportamento esperado. Mas ao mesmo tempo que essa crítica é feita, vemos Retsuko buscando nos 6 últimos episódios um casamento para sair dessa vida de sofrimento no trabalho, desconstruindo tudo aquilo brilhantemente edificado no início.
Mesmo tendo apenas 15 minutos por episódio, tornando a maratona desse anime o tempo de um filme, Aggretsuko causa leve cansaço com personagens pouco desenvolvidos e que são caricatos demais. Cada um personifica a essência de estereótipo: a fofoqueira, o puxa-saco, a stalker, a aproveitadora, etc. No entanto, algo que tende a ser sempre ruim com animes no Brasil, aqui se destaca muito positivamente, a dublagem. Eu sempre assisto a 1 episódio dublado para ver se é recomendável ou não e, até o momento, não recomendei absolutamente nenhum. Eis que com Aggretusko eu assisti metade do anime dublado e mais do que recomendo que você o faça também. Há uma boa dose de gírias, tempo de comédia e adaptações para a cultura brasileira que consegue trazer um público que não é versado no gênero para dentro da obra.
Com a indefinição do que a vida apesenta versus o que queremos dela, Aggretsuko é uma agradável passagem na vida da nossa pandinha vermelha e da nossa também.
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