Crítica: Amador (Amateur)

Para os falantes das línguas não latinas, entender que a palavra amador quer dizer bem literalmente alguém que ama algo é um tanto difícil, já que a palavra amor é basicamente grafada da mesma forma em todos os idiomas latinos, mas varia bastante nos demais. É justamente no sentido literal de amador e na justaposição entre amar o jogo e jogá-lo profissionalmente que o novato diretor e roteirista Ryan Koo se baseia para apresentar este seu Amador, original Netflix que, após a gastação desenfreada de produções originais mais recentes, é uma bela volta à fórmula que vinha notabilizando a gigante do streaming nos primórdios de suas produções originais: obras simples, histórias reais e sem grandes investimentos financeiros, tal qual já falamos em nosso Garimpo Netflix: Netflix Originals.

Em Amador, Koo conta a história de Terron Forte (Michael Rainey Jr.) um moleque de 14 anos em uma high school qualquer dos Estados Unidos. Terron tem duas coisas que o diferenciam dos demais: ele joga basquete para caralho e tem um transtorno de aprendizagem chamado discalculia, condição caracterizada por uma inabilidade ou incapacidade de pensar, refletir, avaliar ou raciocinar processos ou tarefas que envolvam números ou conceitos matemáticos básicos.

Para melhor ilustrar esses dois aspectos de Terron – o atleta excepcional e o estudante com uma dificuldade de aprendizagem extrema – Koo deu a ele uma mãe professora, Nia (Sharon Leal), e um pai, Vince (Brian White), ex-atleta da NFL que hoje sofre com as consequências da quantidade absurda de porrada que tomou enquanto jogador. Nia, escaldada pela experiência de Vince e profissional do saber, tenta ao máximo entender e contornar o distúrbio do filho, enquanto que Vince, entendendo que o esporte é a única saída que aquela família tem da pobreza, incentiva e insiste na carreira de basquete do filho.

Felizmente, o amador do filme funciona tanto no sentido literal quanto no mais comumente usado de “não-profissional” em determinada área. Terron ama o basquete e é na sua trajetória como atleta amador que Koo vai tecer o comentário social sobre como todo o sistema que envolve o esporte nas escolas e universidades é perverso e, como tudo nos EUA, voltado ao lucro destas mesmas escolas, universidades e das grandes marcas que começam a patrocinar a criançada ainda cheirando a leite.

Apesar de parecer em um primeiro momento só mais um filme sobre um moleque que vai superar todos os obstáculos para então vencer na vida, Amador vai além disso, apresentando uma construtiva crítica ao esporte americano (“Nós jogamos para as marcas e mais nada”, anuncia um colega de Terron), além de nos brindar com cenas competentemente filmadas do jogo sendo jogado.

Amador, dentro da avalanche de lançamentos originais Netflix nos últimos tempos, é um acerto e uma velha volta à fórmula de se apostar em boas histórias dirigidas e escritas por iniciantes. Trata-se de um filme competente, com um roteiro bem amarrado e trilha sonora excelente, ainda que peque ao apostar no jovem Michael Rainey Jr. como seu protagonista. O rapaz é carismático, mas sua atuação parece um tanto amadora (sem trocadilho), em especial ao lado de veteranos como Brian White e Josh Charles.

Gosta de esportes? Confira também o nosso Garimpo Netflix: Esportes! com indicações de filmes com essa temática.

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