Crítica: As Novas Aventuras do Macaco (The New Legends of Monkey)
“Jornada ao Oeste” é certamente o romance mitológico mais famoso da China – equiparando-se a “Ilíada” de Homero – e seu escritor, Wu Chengen, tomou emprestado o folclore e antigas baladas para contar a história de perseguição do monge Xuanzang, que foi a Índia em busca de escrituras sagradas do budismo. Um dos personagens mais importantes da obra é o famoso Rei Macaco, um ser mitológico com força e habilidades fora do normal e portador de apetrechos mágicos, como seu bastão que cresce infinitamente e uma nuvem que o carrega para todos os lugares. Ele acompanha e protege o monge Tang Xuanzang que ruma para o oeste (claro) em busca das tais escrituras.
Diversas adaptações e releituras em mídias variadas foram feitas nos últimos anos desse clássico, mas com certeza a mais famosa é Dragon Ball. Goku tem todos os atributos de Rei Macaco, incluindo um rabo, e também o bastão e a nuvem, mas em vez de ajudar um monge a achar pergaminhos, ele ajuda uma adolescente a achar as Esferas do Dragão e, de quebra, fica amigo de um monge sem nariz, nosso querido Kuririn. Apesar do anime diferir muito da sua inspiração, fica claro o impacto de “Jornada ao Oeste” na cultura oriental.
Sendo uma releitura australiana/neozelandesa da obra chinesa, As Novas Aventuras do Macaco chega à NETFLIX através da compra de direitos de distribuição. A história muito se assemelha à original, com certas liberdades criativas em alguns personagens para deixá-los mais palatáveis. O Rei Macaco (Chai Hansen) é o personagem condutor da trama junto ao seu amigo “monge”, que aqui recebe o nome de Tripitaka (Luciane Buchanan), em busca dos pergaminhos sagrados. Assim como em “Jornada ao Oeste”, o Macaco foi aprisionado sob uma montanha ao ser condenado pelos deuses por seus crimes e, ao ser libertado, começa sua peregrinação para salvar o mundo dos demônios que agora infestam a Terra após a era dos deuses ter acabado.
Para complicar ainda mais a vida do nosso Rei, os 500 anos que ele passou cativo foram suficientes para que a sociedade mudasse tanto ao ponto dos deuses terem que se esconder, já que muitos são caçados por humanos e demônios. Para conseguir ser bem-sucedido em sua jornada, o Macaco conta com a ajuda de outros dois deuses, Pigsy (Josh Thomson) e Sandy (Emilie Cocquerel). O quarteto passa por inúmeros percalços, tanto místicos quanto mundanos, para conseguir realizar a missão.
Como você pode conferir nas imagens, a produção não é o forte da série. Os cenários, maquiagem e figurinos são medonhos, dando a impressão que estamos vendo um projeto caro de final de curso da faculdade. Mas isso nem é o que mais incomoda, o que fica a cargo das atuações. No início eu fui levado a acreditar que elas eram ruins propositalmente, como uma esquete de “A Praça é Nossa”, “Zorra Total”, “Escolinha do Professor Raimundo” ou qualquer coisa dessas que existe apenas pelo argumento. No entanto, com o passar dos episódios, percebi que a série tenta se levar a sério, tornando a experiência de assisti-la muito sofrível.
Para piorar, uma longa parte é dedicada ao sobrenatural no nível espiritual, em uma ambientação que eu não sei como ainda não rendeu um processo por plágio de “A Chegada”, com muitas cenas dentro de um ambiente fechado escuro e uma parede transparecendo uma coloração branca com pessoas encostando a mão e soltando gases pretos em formas de antigos idiomas.
A Austrália, que vem produzindo excelentes obras e, inclusive, já foi tema de um Garimpo NETFLIX (Garimpo Netflix: Austrália!), escorrega vergonhosamente nessa releitura de um antigo clássico. Caso você queira se aventurar, tente desligar seu cérebro e se divertir com a mais variadas caras e bocas dos personagens e das cenas de luta que mais lembram as do Batman do Adam West.
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