Crítica: Gold Stars: A História Oficial da Copa do Mundo FIFA (Gold Stars)
Se tem uma frase que eu costumo repetir enfaticamente – quase como um bordão pessoal – é “eu vivo porque daqui quatro anos há uma Copa do Mundo”. O futebol é algo que mexe seriamente com a maioria das pessoas e comigo não é diferente. Esse sentimento é tão mais aflorado pela Copa, fazendo-me abandonar o período da faculdade em 2006 (a melhor Copa de todos os tempos para mim), parar os estudos de pré-Vestibular em 2002 ou tirar férias fora de tempo (nesse ano). No mês da Copa, parceiro, eu vivo em função dela. A desse ano, porém, traz um gosto amargo: pela primeira vez em vida, minha Azzurra não figurará (graças a un testa di cazzo, schifoso chiamato Giampiero Ventura). Apesar disso, é Copa e aqui estarei eu, vendo cada um dos jogos.
Para nos fazer entrar no espírito da competição, há menos de 100 dias da estréia, a Netflix disponibiliza a série de três episódios (com 1h cada qual) chamada Gold Stars: A História Oficial da Copa do Mundo FIFA, trazendo diversos momentos desde 1930 até 2014.
Esta série, no entanto, não é um resumo cronológico da História das Copas. Sua narrativa é misturada e dividida em quatro quadros fundamentais que se intercalam entre si: “fatos” (que apresentam fatos históricos das Copas, como, por exemplo, o jogador com maior tempo em campo, o goleiro com maior tempo sem tomar gols, o mais velho a marcar, o mais velho a participar, o único técnico bicampeão mundial, e por aí vai); “ícones” (aqueles personagens que merecem destaque especial por terem se tornado uma referência absoluta); “grandes jogos” (relembrando partidas emocionantes que entraram para os anais da competição e permanecem no imaginário até de quem nem pensava em nascer); “Top 10” (os dez melhores lances – gols de falta, gols de cabeça, gols de voleio, defesas, e por aí vai). Há outros quadros à parte que caminham entre esses principais, como é o caso de “Vilões” (aquele personagem que ficou marcado negativamente por uma ação intempestiva, quase sempre relacionado a uma expulsão).
Cabe ressaltar aqui uma péssima abordagem desta série nesse quadro específico, colocando como um dos vilões o uruguaio Suárez na ocasião do jogo eliminatório contra Gana, quando, aos 48 do segundo tempo, ele impede o gol adversário colocando a mão em cima da linha debaixo do travessão. Sai chorando, pois converter aquele pênalti seria a eliminação uruguaia (no entanto, não ter colocado a mão para impedi-lo teria o mesmo resultado). Acontece que o penal é desperdiçado e o choro momentâneo do expulso Suárez vira um grito de deleite em manifesta alegria ímpar. Naquela ocasião, ainda, o Uruguai venceria na disputa de pênaltis. Não houve absolutamente qualquer vírgula de vilão em seu ato. Houve, porém, um dos atos mais heroicos, históricos e icônicos de todas as Copas – e eu vi em tempo real!
Em paralelo, vai pincelando também as Copas do Mundo Feminina, Futsal, de Areia, Sub-17 e até de videogame FIFA. Mas, é evidente, o protagonista é o que nós conhecemos e identificamos como a verdadeira Copa do Mundo Fifa.
Com esta narrativa, a série Gold Stars vai costurando momentos diversos, separados por décadas no tempo, das Copas do Mundo. Eu sempre disse que há, no futebol, quatro principais escolas sem ordem de importância, a saber: Alemanha, Argentina, Brasil e Itália. Esse meu argumento parece ser corroborado pelo que se segue nas três horas de filme, visto que o narrador constantemente fala sobre essas quatro seleções muito mais do que de quaisquer outras. Elas, de fato, são as protagonistas da História do Futebol e reservam lugar especial no panteão do esporte. Independente disso, a emoção, o sentimento exagerado de paixão e a reverência à maior competição de todos os tempos é comum a todo e qualquer torcedor, jogador ou membro da comissão técnica. E é isso, mais do que qualquer outro ponto, que a série documentário exibe.
Muito mais do que uma disputa de taça, para além de um mero esporte, isso aqui é Futebol. Isso, amigo, é Copa do Mundo!
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