Crítica: Psychokinesis (Yeom-lyeok)
Ah, Coréia do Sul… terra do Kimchi, Bim Bap, Samsung, LG, Kia, Hyundai, Chan-wook Park, Sang-ho Yeon e K-pop. De tantas referências culinárias, automobilísticas e tecnológicas, o cinema desse Tigre Asiático vem se destacando como nunca nas mãos de um punhado de grande diretores, que, inclusive, rendeu um sequestro pelo governo norte-coreano para promover o regime de Kim Jong-il (confira documentário “Os Amantes e o Déspota” na NETFLIX). Embalado por essa tendência – de filmes e não sequestros – a NETFLIX adquiriu os direitos de distribuição do longa Psychokinesis, disponível hoje na plataforma.
O filme tem uma premissa que aponta para caminhos interessantes, mas que acaba não seguindo por nenhum deles. Acompanhamos a luta de Roo-mi (Eun-kyung Shim) contra uma corporação e um sistema corrupto para manter seu restaurante aberto em uma área que está no processo de gentrificação. Ajudando em sua empreitada está seu pai, Seok-hyeon (Seung-ryong Ryu), que tenta se reconectar com sua filha após anos de separação. Seok possui poderes psicocinéticos adquiridos após o contato com um meteorito caído perto de uma fonte da qual ele bebeu.
Apesar de ter 4 grandes temas para ser explorado, o filme não se aprofunda em nenhum. Não há um questionamento sobre a gentrificação, nem uma crítica ao sistema servindo ao capital financeiro, muito menos há alguma conexão significativa entre pai e filha. E os superpoderes de Seaok? Nem isso é explorado decentemente, salvo algumas boas cenas de luta. Basicamente serviu como base para piadas corporais de como ele pode manipular objetos a distância com a pélvis e a língua.
O que poderia ser uma versão encorpada de “Poder sem Limites” com conteúdos sociais da sociedade sul coreana, serviu apenas como uma comédia exagerada, com personagens rasos e uma história que não te prende. Infelizmente, toda a expectativa que cercava o filme, visto que a direção é assinada por Sang-ho Yeon, diretor de um dos meus filmes favoritos sobre mortos-vivos, “Invasão Zumbi” (que foi indicado no Garimpo Netflix e votado no Top 10 – Filmes da Temporada Oscar 2017), não foi correspondida. Há um abismo na condução entre esses dois longas, resultando em um filme do qual sempre lembrarei dentro de seu gênero e outro cujo nome eu mal consigo lembrar após seu término.
Porém, tecnicamente o filme impressiona. Seus efeitos visuais são de primeira e seu ritmo é agradável, muito pela edição com cortes bruscos que não deixam a intensidade diminuir, especialmente em cenas da ação. Claro que uma cutucada – em uma auto-crítica muito engraçada – na Coreia do Norte não ficaria de fora, evidenciando o terror e falta de liberdade do sistema de seu vizinho.
Mesmo que de forma muito discreta, Psychokinesis entretém e levanta algumas questões que afligem qualquer tipo de sistema governamental: a exploração da população na base da pirâmide social. Já diz o ditado “no capitalismo o homem explora o homem, no socialismo é o contrário”… o oposto é bem verdade.
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